sábado, 29 de junho de 2024

Angola | Mukanda aos Inúteis Comilões -- Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Quem ignora o passado só serve para viver à custa do Estado como serventes de luxo (ministras e ministros) ou pobres diabos famintos da ração diária, alguns fingindo ser da oposição. Esta parte é que está a dar. Alguns fazem-se passar por intelectuais mas não conseguem disfarçar as bases bravias. Todos trabalham para o grande objectivo dos mandantes: Fazer passar a ideia de que Angola nasceu em 2017. Antes estávamos na idade da pedra e éramos todos analfabetos. Salvo os assassinos golpistas do 27 de Maio de 1977 que eram todos intelectuais!

Esta parte importa esclarecer cuidadosamente. A direcção política e militar do golpe de estado era constituída por gente que não chegava aos calcanhares daqueles que quiseram derrubar. O líder, Monstro Imortal, nunca pôs os pés numa universidade. Nem numa escola secundária ou do ensino técnico. O golpista que serviu de bandeira, Nito Alves, nunca pôs os pés numa universidade. Mas conseguiu ser professor de posto o que, na época era muitíssimo. O comissário político do Estado Maior Geral das FAPLA, Bakalof, nunca pôs os pés numa escola secundária O mesmo com o seu lugar-tenente Sianuk.

José Van-Dúnem era recruta da tropa portuguesa nos “Dragões” da cidade do Cuito. Sita Vales estudante de Medicina. Juca Valentim e Betinho também eram estudantes. Minerva era operário. São todos apresentados como grandes intelectuais que foi preciso afastar para não ofuscarem os analfabetos que dirigiam a República Popular de Angola e o MPLA. 

Entre os golpistas nem um concluiu qualquer curso superior. Nem um era conhecido por dominar a ciência política. No MPLA valiam muito. Fora do MPLA eram uns básicos sem préstimo. Ainda hoje é assim. Há altos dirigentes, ajudantes do Poder Executivo que só valem porque estão sob protecção do MPLA. Fora do partido valem pouco ou nada. 

No Bureau Político do MPLA em 1977 existiam um médico, um economista, dois engenheiros, um doutorado (Ambrósio Lukoki), dirigentes políticos experientes que frequentaram as Universidades, o ensino liceal ou o técnico. Em 12 membros, mais de metade tinha formação superior.

Mas vamos remexer um pouco mais no passado. Em Angola, quem concluía o primeiro ciclo do ensino liceal (exame do segundo ano) estava habilitado a concorrer a cargos no funcionalismo público. E se fosse chamado para o serviço militar frequentava o curso de sargentos milicianos.

O curso geral do Liceu (exame do quinto ano) já permitia concorrer a lugares mais bem remunerados na Fazenda (Finanças), Alfândega ou Serviços Meteorológicos. Quem concluía o curso complementar (exame do sétimo ano) tinha direito a um bom emprego no sector público ou privado. Na direcção do MPLA existiam dirigentes com estas e outras qualificações, muito acima da média na sociedade colonial. 

Os seus detractores dizem que Manuel Pedro Pacavira era analfabeto. Desminto. Foi meu colega no Colégio das Beiras graças a uma bolsa de estudo que lhe foi oferecida pela Dra. Olívia Conde. A PIDE prendeu-o. Era um dirigente de elevadíssimo nível. 

José de Carvalho (Hoji ya Henda) era um excelente aluno do Liceu Salvador Correia e um ginasta espantoso. Morreu na luta contra o colonialismo. Para os intelectuais bravios de hoje cuspirem na memória de todos os que tombaram durante a luta armada de libertação nacional. Américo Boavida não é só nome de hospital. Era um médico. Combatente do MPLA. Tombou em combate. 

Se Américo Boavida tivesse honra e dignidade de batráquio, como os “intelectuais” de hoje que só pensam no dinheiro do Orçamento Geral do Estado (mas fingem que são da oposição) tinha feito carreira como médico. 

Na época, os médicos estavam no topo da escala social. Os moluscos e batráquios que hoje se dizem intelectuais também estão no topo mas à custa das suas aldrabices, das golpadas, de mostrarem aquilo que não são e jamais serão. Conheço-os bem. Alguns até comeram porque eu lhes enchi o prato. Quando chegarem a ministros revelo os seus nomes. Agora deixá-los comer, coitados. Outros mais burros e mais asquerosos do que eles comem que se fartam.

O Presidente João Lourenço felicitou António Costa pela sua nomeação para presidente do Conselho Europeu. Fez bem. Mas o feliz comtemplado tem uma nódoa irremovível no seu currículo. Aceitou colaborar num canal de televisão que se chama “Now”. E está muito feliz.

Que eu saiba ainda existe uma coisa chamada Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). Portugal espalhou o Português na América (Brasil), Ásia (Índia e Macau), África (Guinés Bissau e Equatorial, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Angola e Moçambique) e na Oceânia (Timor-Leste). As autoridades de Lisboa autorizaram que um órgão de comunicação social fosse baptizado com uma palavra da língua inglesa (Now). E o antigo primeiro-ministro António Costa aceitou colaborar com esse instrumento do colonialismo cultural. Que conspurca a Língua Portuguesa.

Os “intelectuais” da CPLP estão-se nas tintas para tal atropelo. Porque isso da Língua Portuguesa vem lá do Latim, do Português Tabeliónico, do Galaico-Português (cantigas de amigo, de escárnio e maldizer). É a língua dos enamorados, dos jograis, dos bobos, dos trovadores, dos poetas. Dos bêbados da valeta. Mas também dos ressabiados quando são afastados da gamela dos porcos. 

A Língua Portuguesa é coisa do passado. Os moluscos e batráquios só gostam mesmo do discurso das estórias de jinongonongo. Porque pensam que isso é um pitéu para se encharcarem em kapuka.

* Jornalista

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