Samakuva |
Artur Queiroz*, Luanda
Isaías Samakuva pôs a boca no trombone mas ficou logo sem folego. O primeiro sopro ainda deu para denunciar Adalberto da Costa Júnior como mentiroso compulsivo. O antigo líder da UNITA denunciou que o actual chefe do Galo Negro nunca solicitou uma audiência ao Presidente da República. Mas queixa-se que não é recebido!
Assim falou Samakuva: “O Presidente da República disse-me que nunca recebeu qualquer pedido de audiência do líder da UNITA. Se esse pedido chegasse ao seu gabinete ele seria recebido. O Presidente João Lourenço disse que as portas da Presidência da República estão abertas a todos”.
A direcção da UNITA e seus serventes nos Media andam há anos repetindo que o Presidente João Lourenço não recebe o líder da oposição. Mentira. O líder da Oposição não quer ser recebido pelo Presidente da República. A política de Adalberto da Costa Júnior é sabotar, destruir, inviabilizar, confundir. Isso faz-se nos Media e na rua.
Samakuva, muito falador, contou como conheceu João Lourenço. Amizade de infância. Foram vizinhos na cidade do Cuito. Eram amigos. Dona Josefa fazia kukuanga que distribuía pelas crianças. O antigo líder da UNITA até ia colher folhas de bananeira para Dona Josefa fazer kikuanga. Ai que saudades da kiluanga! Samakuva ficou por aí. Memória agradável e saudosa da Família Lourenço. Eu tenho saudades da kikuanga do meu amigo Orlando Banhas.
A entrevista que concedeu, para explicar o seu papel na fundação cujo patrono é o assassino e criminoso de guerra Jonas Savimbi, ficou pela kikuanga e pela denúncia das aldrabices de Adalberto da Costa Júnior. Mas o antigo cabo da tropa portuguesa podia aproveitar o momento para pedir perdão ao Povo Angolano, por ter colaborado na operação que consistiu em esconder 20.000 homens e as melhores armas, inclusive os misseis Stinger, em bases secretas no Cuando Cubango, apenas cinco dias depois da assinatura do Acordo de Bissse. Governo de Angola e UNITA acordaram desarmar as suas forças.
Essa operação atirou por terra o Acordo de Bicesse. Mostrou que a UNITA nunca quis a paz. Assinou o acordo para ganhar legitimidade. Nunca quis a democracia. As eleições eram apenas um pretexto para, sob a cobertura da campanha eleitoral, espalhar as tropas e as armas por todo o país. Quando Savimbi tocasse o apito, avançava a ocupação militar. Como aconteceu. Abel CHivukuvuku colaborou activamente na golpada. Hoje diz que é democrata!Aí vai a lembrança dos factos e que o primeiro-cabo Samakuva esconde. Apenas cinco dias depois da assinatura do Acordo de Bicesse, Isaías Samakuva e Abílio Camalata Numa escondiam 20.000 militares da UNITA, fortemente armados, em quatro bases secretas no Cuando Cubango. A operação foi financiada e alimentada pelos EUA e a Inteligência Militar da África do Sul.
Os Generais Nzau Puna e Tony da Costa Fernandes, quando romperam com Savimbi, denunciaram essa situação. Mas não conheciam a localização das bases onde as tropas foram escondidas, para tomar o poder pela força, no caso de uma derrota eleitoral de Savimbi, que veio a acontecer. Lembram-se da doutrina da CIA/Sean Cleary? “Se a UNITA ganhar as eleições tudo bem. Se perder dizemos que houve fraude e tomamos o poder pela força”. Está escrito nos documentos de Jeremias Chitunda, vice-presidente do Galo Negro.
A ONU foi investigar a denúncia dos dois ex-drigentes da UNITA e nada encontrou. Os EUA queriam que fosse assim. Washington exigia que a operação secreta resultasse. No dia em que foram proclamados os resultados eleitorais, o mundo ficou a saber que o MPLA tinha ganho com maioria absoluta e a UNITA perdeu. Surpresa! Os Media angolanos e portugueses juravam a pés juntos que o MPLA ia ser esmagado nas urnas de voto! Os pobres diabos angolanos que foram pagos para propagar essa aldrabice ainda andam aí e estão sentados à mesa do Orçamento Geral do Estado. Os portugueses são comendadores do Mário Soares.
Os 20.000 militares da UNITA escondidos nas bases secretas “Girafa”, “Palanca”, “Tigre” e “Licua” para Savimbi tomar o poder pela força, foram espalhados por todo o país sob a capa da campanha eleitoral.
Jonas Savimbi tocou o apito e em poucos dias ocuparam mais de 75 por cento do país. As FAA só tinham oficiais e as FAPLA foram extintas. Angola estava nas mãos do golpista assassino. Adalberto da Costa Júnior anunciou na Europa que a UNITA tinha vencido a guerra! Valeu, na altura, a Polícia Nacional e as suas forças da Polícia de Intervenção Rápida, que fizeram o papel que cabia aos militares, na defesa da soberania nacional.
Isaías Samakuva é um arrependido.
Declarou solenemente que aderiu ao “Espírito de Bicesse”. Mas nunca manifestou
arrependimento por ter ajudado a esconder 20.000 militares armados para tomar o
poder pela força
Angola e o mundo sabem que actuais e antigos dirigentes da UNITA participaram, cumprindo ordens da CIA e dos serviços secretos sul-africanos, numa operação suja para esconder as tropas e o armamento que trouxeram de novo a guerra a Angola, depois do curto período de paz que se seguiu ao Acordo de Bicesse.
Actuais dirigentes da UNITA participaram activamente em todas as operações da Guerra Suja do Galo Negro. A reconciliação nacional só existe se for sustentada pela verdade. Acabou a vida dupla, o discurso ambíguo, a mentira compulsiva. A pele de cordeiro cai quando a verdade é revelada. Os angolanos sabem quem escondeu tropas e armas nas bases “Girafa”, “Palanca”, “Tigre” e “Licua”. Sabem quem seleccionou os melhores comandantes para actuarem na rebelião armada. Quem escondeu as antiaéreas, incluindo os mísseis Stingers, e as armas pesadas.
O espírito de Bicesse foi trucidado após as eleições. Adalberto da Costa Júnior ajudou Savimbi a destruir Angola, a provocar milhões de desalojados, mortos e feridos. Não pode servir-se da reconciliação nacional como arma de arremesso contra as suas vítimas. Mais de 95 por cento dos problemas que hoje temos (mesmo o oportunismo…) resultam da guerra que os EUA fizeram contra Angola por procuração passada ao Zaire de Mobutu e ao regime racista de Pretória. Isaías Samakuva era o “oficial de ligação” entre a UNITA e as forças de defesa e segurança da África do Sul. Chamavam-lhe coronel. E ele todo feliz. Porque na tropa portuguesa era primeiro-cabo e pensa assim.
Samakuva tem saudades da kikuanga de Dona Josefa. Mas continua a odiar o Povo Angolano. Agora até lhe deram um instrumento para nos torturar. A Fundação Jonas Malheiro Savimbi. Ele não conta nada. Mas João Lourenço tem o dever de explicar como e por que razão promoveu este insulto à memória das vítimas da rebelião armada entre 1992 e 2002. Dos quadros e dirigentes da UNITA assassinados por Savimbi. As mulheres, muitas prisioneiras, feitas suas escravas sexuais. As mulheres e crianças que Savimbi atirou às fogueiras da Jamba. Não se admirem se amanhã nascer em Angola a Fundação Hitler, patrocinada por João Lourenço. Vamos ser o paraíso das fundações dos grandes bandidos internacionais.
Orttoniel dos Santos, secretário de estado das Finanças, anunciou a “alienação” da participação do Estado na seguradora ENSA, na BODIVA (Bolsa de Valores) e no Standard Bank. Mais um que não sabe ler, não consome jornais, não é consumidor dos meios audiovisuais ou das redes sociais. Não sabe da decisão do Conselho de Direitos Humanos da ONU que considera arbitrária e ilegal a prisão do empresário Carlos São Vicente. Que exige ao Executivo a devolução dos seus bens confiscados. Que recomenda conversações para um acordo no que diz respeito à devolução de todo o seu património confiscado ilegalmente.
O secretário de estado das Finanças não sabe que o decreto presidencial que dava dez por cento aos autores de cada sentença condenatório e confiscos foi considerado ilegal pelo Tribunal Constitucional. Não sabe que o Tribunal Constitucional considerou que um julgamento em todo igual ao que deu a condenação de Carlos São Vicente “violou os princípios constitucionais da Legalidade, do Contraditório, do Julgamento Justo e Conforme o Direito à Defesa”.
Ottoniel dos Santos e seus superiores sabem que os 49 por cento do Standar Bank “confiscados” a Carlos São Vicente não são do Estado. Sabem que o julgamento de Carlos São Vicente foi ilegal e inconstitucional. Os bens confiscados têm de ser devolvidos ao seu legítimo proprietário. Ao “alienarem” o que não lhes pertence estão a arranjar um grande problema. Quem vier a seguir que apague a luz e devolva tudo a quem foi ilegalmente espoliado dos seus bens.
Esta fuga para a frente vai dar que falar. E no fim quem paga? O Povo Angolano. Que também paga ao Ottoniel e a toda a criadagem do poder sem noção das suas responsabilidades.
* Jornalista
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