domingo, 20 de outubro de 2024

Angola | Bombas Atómicas e Directivas -- Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

As primeiras bombas atómicas explodiram no Japão só para ver o efeito. Os EUA arrasaram as cidades de Hiroxima e Nagasaki no final da II Guerra Mundial, já os japoneses estavam derrotados. O bombardeamento atómico foi uma mensagem para a União Soviética: A seguir vão os comunistas! Hitler será vingado! 

O aviso custou mais de um milhão de vidas humanas por efeito directo do ataque e depois pelas consequências da radioactividade. A associação Nihon Hidankyo (Hibakusha) ainda hoje cuida das vítimas do bombardeamento nuclear. Por isso foi distinguida com o Prémio Nobel da Paz. Os distribuidores dos prémios pensaram distinguir Netanyahu e Biden mas arrependeram-se. Esses não foram capazes de exterminar os palestinos num ano de genocídio. Grandes incompetentes!

As novas tecnologias permitiram-me consultar os noticiários dos mais importantes canais de televisão do mundo. Nem um (incluo a TPA) disse que o ataque a Hiroxima e Nagasaki com bombas atómicas foi desferido pelos EUA. É desde então o estado terrorista mais perigoso do mundo. Alguns Media até disseram que os prejuízos do bombardeamento (omitiram quem bombardeou) foram pagos pelo Japão “por ter começado o conflito”. É o Jornalismo que hoje temos e se impõe de uma forma avassaladora até ao triunfo da Internacional Fascista e do neonazismo. 

Ao longo da minha vida profissional protagonizei conflitos insanáveis com os patrões e seus comissários políticos. Por isso não repetia as Redacções das quais saía mandando os patrões à merda. A pedido de várias famílias antigas repeti a Rádio Nacional de Angola e o Jornal de Angola. Saí da então Emissora Oficial porque o Ministério da Informação impôs a censura aos noticiários das 13 horas (editado por mim) e das 20 horas, editado por Manuel Rodrigues Vaz. 

No primeiro dia da censura apareceram na estação os secretários de Estado Hendrick Vaal Neto e Jaka Jamba, prontos a censurar o Jornal das 13 horas. Recusei entregar as notícias. Os censores foram embora e o noticiário nesse dia foi para o ar em directo a três vozes: Luísa Fançony, Manuel Berenguel e Francisco Simons. No final fui ter com o senhor director e disse-lhe: Perdi a confiança em si. Vou embora agora mesmo. E fui com a ideia de nunca mais voltar. Em 1992, o ministro Rui de Carvalho convidou-me para voltar. O directror-geral era César Barbosa. Aceitei.

Poucos dias depois mudou o ministro e Agostinho Vieira Lopes foi nomeado para a direcção-geral. Houve grandes pressões do ministério para eu sair também, mas o novo director resistiu. Quando as pressões se tornaram intoleráveis (até contrataram os pasquins privados para me fazerem a folha!) saí pelo meu pé. Mas obrigaram Agostinho Vieira Lopes a emitir um ofício demitindo-me, para publicarem nos pasquins! 

Em 1976, o Diário de Luanda denunciou o golpe nitista que havia de acontecer em 27 de Maio de 1977. A direcção estava a cargo de Raimundo Souto Maior, Luciano Rocha e este vosso criado. Sofremos altas pressões para nunca mais nos atrevermos a criticar a camarilha de Nito Alves. Foi pior. Todos os dias escrevíamos uma “Mukanda da Redacção” e avisávamos que estava em marcha um golpe de estado. Luciano Rocha e eu fomos demitidos, acusados de sabotadores do processo produtivo. Migrámos para a Jornal de Angola. Como queria ser jornalista e não comissário político, em 1977 fui embora. A pedido de várias famílias antigas, regressei em 2002. 

Se Deus existisse tinha-me partido as duas pernas, os dois braços e os óculos para não dar tão arriscado passo. Como não existe, fui inteiro para o Jornal de Angola. Repetição! Esqueci-me que o pior patrão é mesmo o Estado e seus serventuários. De cabeça perdida fiz os possíveis e os impossíveis para José Ribeiro, o “patrão”, admitir Rui Ramos como revisor. Ele tinha-se reformado em Portugal e regressou a Luanda, 35 anos depois de ser expulso, por pertencer e ser fundador da Organização Comunista de Angola (OCA), uma manobra de diversão para garantir o sucesso do golpe nitista, em 1977.

Antes da expulsão foi deportado para Cabinda onde o Comandante Pedalé o acomodou como professor, por razões humanitárias. Os seus amigos não descansaram enquanto não conseguiram que regressasse a Luanda. Triunfaram. Modéstia à parte fui um dos que mais se empenhou. Apesar de me chamar burguês e traidor da revolução angolana, sempre que nos reuníamos no Departamento de Informação e Propaganda do MPLA, quando era dirigido por Rui de Carvalho e Luís Filipe Colaço. 

Rui Ramos dizia: És um pequeno burguês! E eu respondia: Sou burguês mas grande, aspiro ao máximo! Até o António Cardoso tinha que fazer autocrítica por ser um burguês segundo o critério do maoista radical Rui Ramos. Cada maluco tem a sua mania.

A Directiva Executiva número 4/SBP/2024 “sobre a realização de actos políticos de exaltação e de apoio ao camarada presidente João Lourenço”, emitida em Agosto passado, explica como todos os militantes devem bajular o chefe, nem que seja quando vão beber kapassarinho. No Jornal de Angola estão a aplicar as recomendações ao defunto Rui Ramos. Um tal Pereira Santana hoje publica um texto intitulado “Um dia, talvez eu já não esteja aqui”. Profundo. O “talvez” está a mais porque um dia não estamos aqui, lá nem além. Em lado nenhum.

Pereira Santana é director de conteúdos do Jornal de Angola. Tem que ser verdadeiro, objectivo e rigoroso mesmo que um dia talvez não esteja acomodado. Escreve que Rui Ramos “conheceu de perto as agruras do desterro, tendo sido encarcerado na temida cadeia do Tarrafal”. Isto é mentira. Ele esteve preso em Caxias. Se querem saber a verdade completa leiam o livro do Dr. Másrio Brochado Coelho, que foi o advogado do processo que envolveu o Padre Joaquim Pinto de Andrade do qual também fazia parte Rui Ramos.

Um texto sem assinatura (direcção do jornal) segue a Directiva 4/SBP/2024, confundindo o “camarada presidente João Lourenço” com Rui Ramos, que entrou numa Redacção em Angola, pela primeira vez na vida, depois de reformado em Portugal, onde trabalhou e viveu entre finais dos anos 70 e 2011. Em 20213 foi admitido no Jornal de Angola como revisor. 

No cumprimento da Directiva 4/SBP/2024 Fernando Oliveira também n alinhou com um texto com imprecisões graves. Rui Ramos nunca dirigiu nenhum jornal da Liga Africana nem agora nem ontem nem talvez. A Liga tinha um boletim E não esteve na origem do jornal do MPLA “Vitória Certa”. 

Quem esteve na origem e fez o jornal foi esta equipa: Rui de Carvalho, Luís Filipe Colaço, Bobela Mota e este vosso criado. Na operação eram os gráficos do Diário de Luanda e os jornalistas Luciano Rocha e Raimundo Souto Maior. Rui Ramos escrevia uns textos doutrinários. Mas como eram muito grandes, não entravam. Impossível paginar aqueles lençóis. Como não era o único a escrever textos não calibrados, o Mais Velho Bobela Mota bateu com a porta e pouco tempo depois acabou o jornal. É mesmo preciso aldrabar? 

Pereira Santana ainda deve estar com a cabeça no tempo em que era assessor da governadora do Huambo, Joana Lina. Ou quando vivia à sombra do Tony Marta. Confunde o Jornal de Angola com uma produção do Big Nelo. Mistura Jornalismo com Acomodatismo. Está a precisar de uma vassourada igual à que lhe deu Luís Fernando quando dirigia o Jornal de Angola. 

A vassoura está nas mãos de Drumond Jaime, Cândido Bessa e Guilhermino Alberto. Ou dos directores-adjuntos de conteúdos, dois profissionais de primeiríssima: António Cruz e Bernardino Manje. Não se pode trabalhar com um artista que confunde Jornalismo com Fretismo. Por favor, salvem a honra do Jornal de Angola. Porque é um jornal sério, não um boletim de exaltação do Rui Ramos. Deixem os mortos em paz.

* Jornalista

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