Artur Queiroz*, Luanda
Agostinho Mendes de Carvalho tinha saído do Tarrafal e de vez em quando passava pelos Estúdios Norte, atrás da Sé de Luanda, onde ficava à conversa com Sebastião Coelho, o senhor Café da Noite, e seus companheiros de trabalho, entre os quais o sonoplasta João Canedo e eu. Um dia apareceu com umas folhas dactilografadas guardadas numa capa grossa. Era o original de “Mestre Tamoda”. Fui o primeiro a ler.
Sebastião Coelho também leu o livro e gostou muito. Nessa altura a actividade editorial em Luanda estava paralisada. O meu amigo Carlitos (Carlos Ervedosa) não conseguiu arranjar um editor. Falei com Orlando de Albuquerque, que tinha lançado a editora Capricórnio. Nós tínhamos coordenado, em parceria, a página de artes e letras do diário “O Lobito”. O jornalismo e a Literatura uniu-nos numa amizade sólida.
Depois de uma conversa telefónica fui ao Lobito levar o original do livro Mestre Tamoda. Não havia qualquer cópia do livro e tinha medo que se perdesse nos correios. Orlando de Albuquerque ficou encantado com a obra e assumiu a responsabilidade de editá-la. Foi o livro 19 da sua editora. Grande festa nos Estúdios Norte quando recebemos os primeiros exemplares pela mala do correio!
Desde então fiquei amigo de Agostinho Mendes de Carvalho, mais tarde Uanhenga Xitu. Amigos para sempre.
Nas eleições de 2012 concorreu a coligação CASA-CE e um dirigente era o Almirante Miau, filho do meu amigo Agostinho Mendes de Carvalho. Num comício fez declarações dignas de um kaporrotista militante. Fiquem com esta: “Deus salvou Abel Chivukuvuku da morte após as eleições de 1992, para que ele fosse o salvador do Povo Angolano”.
Nessa altura escrevia no Jornal
de Angola, todos os dias, um curto comentário sobre a campanha eleitoral.
Respondo? Não respondo? A amizade falou mais alto. Filho do meu amigo, meu
filho é. Engoli o desvario de Miau e fiquei
Outro filho de Agostinho Mendes
de Carvalho, o “General Paca”, deve tudo o que tem e tudo o que é ao MPLA.
Tudo. Sempre de pança cheia à custa do Estado. Se ele é “general” eu sou um
apito. Infelizmente, muitos oportunistas foram agraciados com as estrelas sem
nunca darem um tiro. Nunca comandaram tropas. Nunca entraram
Alguém se esqueceu que agraciar os “Paca” desta vida fazendo deles oficiais generais, acabou por despromover e desqualificar os verdadeiros. Lixo humano da dimensão de um Silva Mateus mancha todos os que se bateram nas frentes de combate.
O “general” Paca andou na guerra como kaporrotista. Comandou muitos copos. Quando a bebida caía ao chão era uma derrota. Baixas dolorosas. Cada bebedeira, uma promoção. Dinheiro sem limites. Mordomias à altura. Um comandante da boa vida.
Recebi um vídeo onde o
kaporrtotista Paca aparece num comício da UNITA. Imitou o mano Miau e disse: “A
UNITA é a salvação do Povo Angolano!” A capoeira exultou. Sem se deter, o
“general” das bebedeiras afirmou: “O povo está com fome”. Um pançudo daqueles, ostentando
uma pança descomunal onde já não cabe um dedal de kapuka, fala
Desta vez não me calo. Porque o “general” Paca chamou ladrões aos Generais Angolanos. Os que fizeram dele gente, os que lhe proporcionaram uma vida refastelada, os que ganharam todas as guerras, os que derrotaram o regime racista de Pretória e a aliança ocidental que o apoiava, têm de ser respeitados até pelos bêbados ressabiados porque já não têm os cofres públicos à sua disposição para pagar vícios e devaneios.
* Jornalista
Imagem: Campo de Concentração do Tarrafal (Cabo Verde) ao serviço das crueldades d PIDE Fascista e Salazarista
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