segunda-feira, 7 de outubro de 2024

Angola | O Veneno dos Lacraus -- Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Todos para as Bases. Todos para as Comunidades.  Ontem já era demasiado tarde. Hoje é conversa fiada. Uma militante do MPLA quando veste a camisola para participar numa acção pública é vaiada e insultada no seu bairro. Desistiu. Leva a camisola na mala e veste-a lá no acontecimento. Põe o lenço na cabeça e o cachecol ao pescoço. As bases rejeitam-na. As comunidades estão cansadas de promessas vãs. 

Textos assinados por “um militante do MPLA” visam de uma forma asquerosa Julião Paulo (Dino Matross) e Fernando da Piedade Dias dos Santos (Nandó). O exercício é ainda mais repugnante porque os autores se refugiam no anonimato. Mas na reunião entre o líder do partido e os responsáveis dos Comités de Acção do Partido (CAP) ficou o rabo escondido com o gatarrão de fora. João Lourenço deu a cara a esse exercício digno de lacraus. Picadas venenosas na coesão e unidade partidária. Um exercício de incoerência porque João Lourenço não se liberta da pele de marimbondo pródigo. Filho de enfermeiro é dono de mundos e fundos!

“Quando um edifício tem o telhado danificado, ou uma parede rachada, em pouco tempo se reabilita, mas se as suas fundações, os seus alicerces não forem sólidos, com certeza que o edifício se desmorona. O MPLA é um grande edifício, o maior edifício político-partidário que Angola conhece desde os anos cinquenta”. Lacraus estão a injectar o veneno do divisionismo, do fraccionismo, nos alicerces do MPLA. Marimbondos voltem, estão perdoados!

“Por isso cuidemos das suas fundações, dos seus alicerces que são os milhares de Comités de Acção do Partido, porque são eles as bases da sua sustentação contra as tempestades criadas pelos nossos adversários, que não fazendo oposição, encorajam e fomentam a desordem, organizam e lideram a subversão, como ficou evidente agora na aprovação da lei contra a vandalização dos bens públicos, tendo ficado provado o que já era evidente, que estão por detrás destas práticas antissociais e criminosas”. Um líder que fala assim merece todo o apoio, toda a consideração, todos os aplausos.

Um grande líder também fala assim: “Pena é que nas ocasiões em que precisamos de preencher vagas nas direcções do Partido nos mais diversos escalões até ao Comité Central, muitos destes camaradas são preteridos a favor de outros que, com jogos de influência, amparados por alguns que já são membros da Direcção, acabam por conseguir de forma desmerecida as vagas por preencher. Esta situação deve ser sempre denunciada e corrigida, pela necessidade de haver maior lisura, honestidade e justiça nos processos de renovação de mandatos em todos os escalões da hierarquia do Partido”. É esta parte que preocupa Dino Matross e outros militantes do MPLA que não são e nunca foram lacraus.

O MPLA é dos jovens. A Luta Aramada de Libertação Nacional só foi possível porque centenas de jovens saíram da sua área de conforto para lutarem contra o colonialismo. João Lourenço sabe disso. Leiam o que disse na reunião com os CAP: “Recuemos ao longínquo ano de 1979, quando naquele momento difícil que os angolanos viviam pela perda do Camarada Presidente António Agostinho Neto e enfrentando invasões militares de forças externas, o MPLA confiou a direcção dos destinos do país ao camarada José Eduardo dos Santos, um jovem na altura com apenas 37 anos”. 

Verdade mesmo. Em 2017 os lacraus, à falsa fé, injectaram todo o seu veneno nesse jovem que, se fosse vivo, hoje fazia 82 anos. Até depois de morto lhe injectaram o seu veneno asqueroso. A festa dos insectos venenosos continua com João Lourenço, que faz garbosamente o papel de mestre das cerimónias 

Um militante do MPLA, escrevendo em nome de João Lourenço, explica por que razão excrementa Dino Matross. O antigo dirigente do MPLA disse numa entrevista que o MPLA tem de apresentar desde já o seu candidato a líder. Assim nas eleições de 2027 tem visibilidade e todas as condições para ganhar as eleições. Até os lacraus percebem isto. Mas “um militante do MPLA” escreve que Dino Matross nada disse quando apenas oito meses antes das eleições de 2017 foi anunciado João Lourenço como candidato a líder do MPLA e por isso, cabeça da lista de candidatos a deputados do partido. 

Oito meses antes das eleições de 2017, João Lourenço ainda não tinha chamado publicamente ladrões e corruptos a dirigentes do MPLA. Ainda não tinha picado à falsa fé o líder que o apoiou na candidatura à liderança. Ainda não tinha assinado um Decreto Presidencial que dava dez por cento de comissões por cada sentença condenatória e confisco aos “marimbondos”. 

O Tribunal Constitucional ainda não tinha considerado esse Decreto Presidencial ilegal. A Procuradoria-Geral da República e os Tribunais ainda não tinham “recuperado activos” com base em sentenças s ilegais confirmadas poe tribunais superiores. Ainda não estavam presos cidadãos angolanos arbitrariamente, por criarem riqueza e postos de trabalho. Vítimas de sentenças inconstitucionais. Vítimas de abusos sem nome. Ainda não tinham destruído grandes empresas para os lacraus facturarem corruptamente! 

Em 2017, o Tribunal Constitucional ainda não tinha mandado restituir à liberdade José Filomeno dos Santos (ZENU) e os outros arguidos do “Processo dos 500 Milhões” porque a sua prisão é ilegal. O Conselho de Direitos Humanos ainda não tinha considerado arbitrária e ilegal a prisão de Carlos São Vicente. O seu julgamento ferido de inconstitucionalidades. Atentados aos Direitos Humanos. 

Oito meses antes das eleições de 2017 o Chefe de Estado ainda não tinha colocado Angola sob a patorra do estado terrorista mais perigoso do mundo. A política externa não era ditada pela Casa dos Brancos.

Nas eleições de 2017 o MPLA ganhou em todos os círculos provinciais confortavelmente, apesar da mudança do líder do partido. Em 2022, o MPLA ganhou com maioria absoluta mas nas províncias de Luanda, Cabinda e Zaire a oposição elegeu mais deputados. Sobretudo perdeu estrondosamente para a abstenção, sendo que os absentistas eram quase todos militantes, amigos e apoiantes do MPLA.

Nas eleições de 2017 os militares não eram abandalhados. Os funcionários públicos recebiam os seus magros salários a tempo e horas. Havia pouco para distribuir mas era distribuído. Agora fica tudo na bolsa venenosa dos lacraus. O Grupo Carrinho distribui umas n«bolachinhas às crianças e o Corredor do Lobito está aom serviço da corrupção.

Em 2027, o MPLA precisa de apresentar um líder que não seja lacrau. Que não caia na tentação de envenenar tudo e mais alguma coisa. Que não persiga nem excremente os camaradas que estiveram no poder. O MPLA precisa de um governo, não um sinédrio de bajulação. Ou de acomodados amestrados na arte de dizer sim ao dono. 

Dino Matross deu voz a milhares de militantes que pensam assim. Pela parte que me toca, estou cem por cento de acordo. Digo a João Lourenço que no congresso do partido há uma certeza antecipada: Vai aparecer mais do que uma candidatura à liderança do MPLA. E mesmo que comecem desde já a traficar o número de delegados favoráveis ao chefe, não vão conseguir o triunfo dos lacraus. A vitória do MPLA exige um poderoso insecticida que acabe com eles na direcção do partido.

“Mas para isso, precisamos de manter a unidade e coesão interna do nosso Partido, combater qualquer tentativa de nos dividir, porque só unidos somos fortes e em condições de cumprirmos o nosso papel histórico”. Assim falou João Lourenço. Fugiu-lhe a boca para a verdade. Por muitas voltas que dê, é mesmo assim. O seu lacrau vai ser esmagado. Não sei quem vai triunfar. Mas sei que, seja quem for, acaba com dez anos de picadas dos lacraus. 

* Jornalista

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