sábado, 30 de novembro de 2024

Portugal | AGARRA QUE NÃO É LADRÃO

Pedro Ivo Carvalho* | Jornal de Notícias | opinião

O primeiro-ministro de “um dos países mais seguros do Mundo” sentiu necessidade de interromper o jantar dos seus concidadãos com uma mensagem sobre os perigos de esse mesmo país se transformar, no futuro, numa nação vergastada pela criminalidade. “É preciso não viver à sombra da bananeira de uma performance passada”, avisou Luís Montenegro, durante a inusitada alocução a partir de São Bento, onde se fez acompanhar de um pequeno exército de personalidades: as ministras da Administração Interna e da Justiça, o diretor nacional da Polícia Judiciária, o comandante-geral da GNR, o diretor nacional da PSP e o secretário-geral Adjunto do Sistema de Segurança Interna. Sem apresentar factos que sustentem este exercício de adivinhação, Montenegro baseou as suas convicções na perceção dos portugueses. No fundo, somos comprovadamente um país seguro, mas há muita bandidagem à solta que nos deixa de coração apertado. Algo que, convenhamos, é no mínimo bizarro vindo da boca de um primeiro-ministro. E mais se torna quando ao diagnóstico não se faz corresponder uma solução. Porque o anúncio da compra de mais 600 viaturas para a PSP e a GNR não terá certamente o poder transformador desejado.

Depois, ao contrário do que sugeriu o primeiro-ministro, não se tranquiliza ninguém com comunicações sobre os perigos da criminalidade. Por isso, não tenhamos ilusões sobre o real alcance deste “número” político: dar uma prova de vida musculada ao eleitorado de Direita. Àquele que vai alinhando nas teorias conspiracionistas do Chega, mas também àquele que, efetivamente, vive em regiões do país onde a criminalidade e a insegurança são preocupações de todos os dias. Porém, ao dar este peso institucional a uma comunicação vazia, Montenegro apenas generalizou um problema que está longe de ser transversal num “dos países mais seguros do Mundo”.

* Diretor adjunto

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