Cadeiras Vazias Cabeças Ocas – Artur Queiroz

< Artur Queiroz*, Luanda >

O melhor sistema é sem sistema. O sonho libertário um dia vai ser tão real como um grupo de marcianos em excursão pela Lua Cheia. Mestre Aquilino Ribeiro era um nadinha anarquista. Escreveu que “o cúmulo da baixeza humana é um cão tinhoso da plebe defender o açafate dos ricos e o pendão do rei”. Nenhum modelo político, social e económico sobrevive a isto. Meu avô Domingos lutou ao lado dos anarco-sindicalistas em Chicago. Dizia que enquanto existir capitalismo, todos somos vítimas do imperialismo, até os miseráveis humanos que fazem figura de cães que não conhecem os donos.

Ainda ontem o Papa Francisco era meu aliado na luta contra o capitalismo que mata e hoje já é pó, cinza e nada. Tenho cada vez menos companheiras e companheiros de jornada. Mesmo assim, cuidado comigo e com o cão feroz que habita em mim. Sobretudo os hipócritas que manifestam pesar pela morte do líder da Igreja Católica e atafulham o Vaticano de mensagens mentirosas. 

João Lourenço, ditador com cárcere privado, que nem respeitou a dor dos filhos do Presidente José Eduardo dos Santos, também diz que ficou muito dorido com a morte do Papa Francisco. Mentiras e água benta, cada qual toma a que quer.

Aquilo no Vaticano está cheio de camerlengos, Custodes Helvetici (Guarda Suíça Pontifícia) e deixaram chegar Jeidi Vance, o subchefe da internacional fascista, à presença do Papa Francisco! Claro que quando se cumprimentaram ele soltou um pemba daqueles! Mataram o adversário do capitalismo genocida, com um feitiço fortíssimo! Sim, existem bruxas. A prova é que Donald Trump foi parido.

Todas as potências coloniais são genocidas. Os seus líderes, ao longo dos séculos, tiveram sempre cães tinhosos da plebe defendendo os palácios dos ricos e os cofres dos reis. Chusmas de famintos bendiziam a sua fome e partiam para as colónias, morder as mãos de seus irmãos colonizados e submetidos. É injusto qualificar os nazis de Telavive de genocidas, deixando de fora todos os outros que apoiam e armam as mãos dos que matam crianças e Mamãs na Palestina. Matam médico e socorristas. Matam velhos e doentes. Todos os antigos e actuais impérios coloniais alinham nestas mortes. Todos são genocidas. A morte do Papa Francisco deixou as vítimas ainda mais vulneráveis.

O juiz desembargador Manuel Pereira da Silva tomou hoje posse, na Assembleia Nacional, como presidente da Comissão Nacional Eleitoral (CNE). Foi o vencedor de um concurso público realizado pelo Conselho Superior da Magistratura Judicial, para o provimento da vaga. Após o acto de posse foi apresentado ao Plenário da CNE, onde estão representados todos os partidos com representação parlamentar. Manuel Pereira da Silva obteve no concurso a classificação mais alta, 91 pontos, superando os concorrentes Rosalino Miguel Domingos (48 pontos) e Amélia Cristina Ernesto Messo e Tyova (33 pontos).

Os deputados do grupo parlamentar da UNITA abandonaram a cerimónia de tomada de posse, gritando: “Manico não, Manico fora”. Mais uma vez a política das cadeiras vazias, traindo os eleitores que lhes confiaram os votos. Políticos de cabeças ocas valem zero, vírgula zero. O Justino Pinto de Andrade também está nesse estado. Pobre diabo.

O deputado do Galo Negro Liberty Chiaka justificou assim a debandada dos descabeçados: “O regulamento que serviu de base ao Conselho Superior da Magistratura Judicial (CSMJ) para a escolha do presidente da CNE está eivado de ilegalidades”. Senhoras e senhores juristas. Senhoras e senhores democratas. Senhoras e senhores defensores das liberdades. Um partido político interferiu grosseiramente numa decisão do Poder Judicial. Essa interferência é tão grave como são as de João Lourenço. Sobretudo a que deu dez por cento de comissões por cada activo recuperado.

A UNITA pode fazer negociatas com a “República de Cabinda”. A UNITA pode continuar na kamanga desalmadamente. A UNITA pode recrutar marginais (qualquer dia mobilizam o Riquinho…) para destruir equipamentos públicos essenciais. E por fim, os sicários da UNITA também podem violar o princípio da separação de poderes, pedra de toque do regime democrático. 

Aviso já. Mesmo que Angola tenha todo o petróleo e todos os diamantes do mundo, nunca vai sair do pântano enquanto existir a UNITA e os gangues de apoiantes, nas redes sociais e nas organizações não-governamentais, pagas pelos colonialistas genocidas. 

Hoje a TPA fez um programa especial dedicado ao falecimento do Papa Francisco. A emissão esteve a cargo de David Themudo. Lá na casa chamam-lhe “Deivid”. Provavelmente pensam que Themudo é uma palavra estrangeira. Não é. Mas mesmo que fosse, David é David não é “Deivid”. Que eu saiba a TPA é um canal de televisão num país de Língua Portuguesa. A não ser que João Lourenço tenha negociado com o genocida Joe Biden o trespasse de Angola para a Casa dos Brancos. Sem querer armar-me em sabichão, informo que o sobrenome Themudo é uma palavra do Português Arcaico. 

Eu sei disto porque em 1974, Cabinda tinha um governador e comandante militar português chamado Themudo Barata, brigadeiro do Exército Português. Raio de nome! O artista vendeu Cabinda às petrolíferas e seus criados da FLEC. Levou uma porrada tão grande dos combatentes do MPLA que só parou em Lisboa. Cobri o acontecimento. Fui investigar a origem do nome Themudo e descobri que era muito português, vem da origem da nacionalidade. Este “Deivid” da TPA pode ser criado da Casa dos Brancos e dos colonialistas genocidas. Mas é angolano e o seu nome pronuncia-se mesmo David. Lá no país dos Themudo também é David.

Fiquem com os vossos algoritmos e continuem a bendizer o vosso pedaço de fome. Eu vou ler o livro do repórter, cronista e escritor angolano Jaime Azulay. Aprender mais sobre Benguela. Temos de ler muito para saber qualquer coisinha.

* Jornalista