< Artur Queiroz*, Luanda >
A Luta Armada de Libertação Nacional foi travada por uma minoria sob as bandeiras do MPLA e da UPA/FNLA. Do lado da tropa de ocupação estiveram milhares de jovens angolanos, residentes em Angola, chamados a cumprir o serviço militar obrigatório. Ninguém chamou à guerra colonial uma “guerra civil”. Na verdade era uma guerra da OTAN (ou NATO) contra os nacionalistas angolanos, que após os massacres de Kinkuzu ficaram reduzidos aos guerrilheiros do MPLA, reforçados com alguns valorosos combatentes do Exército de Libertação Nacional de Angola (ELNA), braço armado do movimento de Holden Roberto. Escaparam aos fuzilamentos em massa.
A assinatura da paz com o Presidente Mobutu, após a Independência Nacional, levou Holden Roberto a renunciar à luta armada e muitos dirigentes da UPA/FNLA aderiram ao MPLA, integrando a direcção do movimento, como aconteceu com Johnny Eduardo Pinnock, representante da FNLA no Colégio Presidencial do Governo de Transição. Ngola Kabangu não fez essa transição porque a 11 de Novembro 1975 proclamou a Independência Nacional na cidade do Uíje ao lado de Ferreira Lima, o ricaço que em 1961 financiou as milícias de colonos, autores de hediondos massacres contra civis indefesos.
O regime racista de Pretória, banido pela comunidade internacional, passou a integrar uma coligação reacccionária e agressiva, capitaneada pela Casa dos Brancos e com a República Federal da Alemanha, França e Reino Unido. A OTAN (ou NATO) comandando a guerra de agressão contra Angola, mas agora sem a intervenção directa dos portugueses. Parecia mal! Os grandes defensores da democracia ocidental conluiados com o regime de apartheid da África do Sul banida por crimes contra a Humanidade. Então a UNITA foi chamada a fazer uma “guerra civil”. Os mentores de Jonas Savimbi ensinaram-no a dizer que estava a lutar contra russos e cubanos!
Os colonialistas serviram-se da UNITA para travar o avanço das forças guerrilheiras do MPLA no sentido do Planalto de Malanje e na outra frente, do Planalto Central, até ao mar. Grande parte dos homens armados de Jonas Savimbi integrou os Flechas da PIDE, sob o comando dos Majores Pedro e Sachilombo, fundadores do Galo Negro, treinados na República Popular da China.
A coligação da OTAN (ou NATO) e da África do Sul racista usou a capa da UNITA para ocupar militarmente Angola e destruir o país, desde a Operação Savana, em Agosto dePara esconderem o conluio entre
os “democratas” da Casa dos Brancos e da OTAN (ou NATO) com os racistas de
Pretória, puseram os Media mundiais, que se vendem à linha, relatando uma
“Guerra Civil”
Jonas Savimbi fugiu do Andulo à pressa e deixou o seu computador com documentos importantes, ente os quais a lista de pagamentos da UNITA. O Presidente José Eduardo dos Santos engavetou a documentação e nada até hoje chegou ao público. Provavelmente esses e outros documentos apreendidos a dirigentes da UNITA (os de Jeremias Chitunda, por exemplo) nunca serão do domínio público. Ma aconselho a leitura das reportagens de jornalistas como Luís Alberto Ferreira, Ryszard Kapuściński, Vítor Bandarra ou este vosso criado.
Em Angola nunca houve uma guerra civil. A guerra, entre 11 de Novembro 1975 e 2002, foi contra estrangeiros, pela Soberania Nacional e a Integridade Territorial. Foi contra a coligação mais agressiva e reccionária do planeta (regime racista de Pretória, Casa dos Brancos, Paris, Londres e Bona) e seus aliados internos, no caso a UNITA.
Os Media do sector empresarial do Estado falam, permanentemente, em “guerra civil” pelos seus jornalistas ou opinantes pagos à peça. Generais que fizeram a guerra contra a coligação internacional falam de guerra civil! A falta de rigor contamina tudo.
Outra mentira que faz o seu caminho, imparavelmente, tem a ver com o tempo no poder do MPLA. Até fazedores de opinião ligados ao partido dizem que está há 50 anos no poder. Mentira mais abjecta não há.
O MPLA fez a Luta Armada de Libertação Nacional até à queda do regime fascista e colonialista de Lisboa. Os seus dirigentes e combatentes nem tiveram tempo para comemorar. Foram imediatamente envolvidos na Guerra da Transição, até 11 de Novembro 1975. Na hora da Proclamação da Independência Nacional continuou a Guerra pela Soberania e a Integridade Territorial. Nasceu a República Popular de Angola com grande parte do território ocupado por forças armada estrangeiras.
Os circuitos de produção e distribuição foram destruídos. Os chefes da coligação lançaram pontes aéreas entre Luanda, Huambo e Lisboa para levarem de Angola todos os quadros superiores. Todos os quadros médios. Todos os trabalhadores especializados. Até ficámos sem motoristas! Os serviços públicos foram esvaziados, ficaram ocos. A Autoridade do Estado foi desmantelada. Uma causa das sanções impostas pelo Conselho de Segurança da ONU à UNITA foi o Galo Negro não devolver à Autoridade do Estado as regiões que ocupou militarmente.
Em 2008 Isaías Samakuva derrubou o Governo de Unidade e Reconciliação Nacional (GURN). Foi apoiado por todos os partidos que o integravam, menos o MPLA. Mas desde o primeiro governo do regime de democracia representativa, dirigido por Marcolino Moco, todos os partidos que elegeram deputados entraram nos governos do MPLA. O seu poder foi combater a rebelião assassina de Jonas Savimbi, contra a democracia. Mais nada.
Só após 2008 o MPLA está no poder. Tem poder. Porque antes só tinha o poder de mobilizar o Povo Angolano contra os invasores estrangeiros. O “EME” está no poder há três mandatos e vai a caminho do quarto. Respeitem os resultados eleitorais ou mudem de ramo. Há muito lugares disponíveis, como motoristas ou roboteiros. Mas se conduzirem não bebam por favor.
* Jornalista
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