terça-feira, 22 de abril de 2025

Mundo de Lógicas Frias – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda >

Páscoa é importante para os cristãos porque nesta data comemoram a ressurreição de Jesus Cristo. Eu não sou crente mas estou em ressurreição permanente. Todos os dias me deito meio morto e acordo vivíssimo, ressuscitado, pronto para mais um dia de luta contra todos os poderes, eleitos ou usurpados. Imbuído de espírito pascal e acabado de despertar, envio um grande abraço aos padres com quem me relacionei em vida: Joaquim Pinto de Andrade, André Muaca, Damião Franklin. Também ao cónego Rui Osório e ao padre Mário de Oliveira, meus colegas de Redacção no Jornalismo. Ao cónego Apolónio, meu amigo, bem vivo e, espero, por muitos e muitos anos.

“Construímos um mundo que funciona assim: um mundo de cálculos e algoritmos, de lógicas frias e interesses implacáveis.(…)  A economia de Deus não mata, nem descarta, nem esmaga. É humilde, fiel à terra. O vosso caminho, Senhor Jesus, é a via das bem-aventuranças. Não destrói, mas cultiva, repara, guarda”. A todos dedico este pensamento do Papa Francisco, meu companheiro acidental nesta vida de luta pela Liberdade. Dou comigo a pensar nesta realidade inquietante: A Humanidade evoluiu, evoluiu, mais, mais, ainda mais e a nível planetário só existe um líder digno desse nome: Papa Francisco. Agora que precisávamos de tantos Franciscos e Agostinhos Netos.

Sempre imbuído do espírito pascal venho dizer aos meus irmãos emigrados que não existe “diáspora” angolana. Este termo é em si um insulto a todas e todos que de livre vontade decidiram viver noutros países. Estamos a chegar ao fim da globalização por obra e graça da internacional fascista, liderada por Donald Trump. Mas enquanto durar, vamos aproveitar.

Os colonialistas (genocidas) antes de deixarem Angola asseguraram-se de que não ficava pedra sobre pedra. Destruíram as condições mínimas para vivermos com dignidade. Mesmo assim, a maioria do Povo Angolano levantou-se em armas para defender a Soberania Nacional e a Integridade Territorial. Conseguiram! Honra e glória a todas e todos. 

Uma minoria foi “estudar” para o estrangeiro. E ficou ou andou cá e lá, torrando dinheiro ao Estado. Depois de 1992, com a rebelião armada de Jonas Savimbi, o êxodo aumentou. Ninguém gosta de viver em perigos e guerras. Ao mesmo tempo o regime de democracia participativa e economia de mercado atingiu o auge. Pobres cada vez mais pobres alimentando minorias milionárias. É eta a lógica do sistema. Querem o socialismo de volta?  Não me parece.

Neste quadro, o ministro Rui Falcão tem toda a razão quando afirma que não são patriotas as angolanas e angolanos emigrados que se dedicam a dizer mal de Angola nas redes sociais ou nos Media. Tem toda a razão a ministra Luísa Grilo quando afirma que só fazem falta os que cá estão. Imbuído do espírito pascal digo a essas e esses emigrantes que não devem confiar muito nos papéis que conseguem nas escolas superiores dos países onde vivem. Não valem muito mais do que os certificados emitidos em Angola. Só mandam mais fama. 

D. Quixote dizia ao seu fiel escudeiro: “Toma nota, Sancho. Um Homem só vale mais do que os outros, se fizer mais do que eles.” A papelada de licenciaturas, mestrices e doutorices vale pouco. Rui Falcão e Luísa Grilo fizeram e fazem seguramente mais do que Alexandra Simeão, que se dedica a escrever aleivosias contra Angola. Ainda criança emigrou para Portugal com os pais. Regressou com eles em 1992. Fundaram um partido que nas eleições conseguiu eleger deputados. Graças à política do MPLA, o partido entrou no Governo de Marcolino Moco.

Alexandra Simeão fez parte do Governo de Unidade e Reconciliação Nacional sem ser profissional de nada. Sem nunca ter trabalhado na vida. A ambição desmedida levou os partidos da Oposição a deitarem abaixo o GURN e exigirem eleições. O partido de Anália Vitória Pereira, Manolo Simeão e da filhota Alexandra foi extinto por falta de votos. Incompetência, inacção e desprezo pelo eleitorado. Enquanto esteve no poder, a menina encheu o bornal. E agora na “diáspora” faz figura de víbora envenenando Angola. 

Querem mais? Luzia Moniz trepou na vida pela horizontal e porque seu tio era alto dirigente do MPLA. Encheu a pança até não lhe caber na pele. Agora cospe no prato e diz mal de Angola. Alexandra e Luzia nada fazem nem fizeram por Angola. Luísa Grilo e Rui Falcão fizeram e fazem muito. Adquiriram o direito a opinar, Quem nada fez e tudo comeu, perdeu esse direito. Mas estão a tempo de regressar a Angola e mostrarem quanto valem as licenciaturas, mestrices e doutorices. Mais actos e menos conversa. 

Sempre imbuído do espírito pascal (está quase esgotado) vou falar da Emissora Oficial de Angola (RNA). O jornalista Cruz Gomes criou na rádio a primeira Redacção digna desse nome. Quando o substituí, em Junho de 1974, não encontrei Livro de Estilo e elaborei um, porque é instrumento fundamental para o trabalho dos jornalistas. Em 1993, quando regressei à estação e criei o Gabinete de Formação Permanente, encontrei o Livro de Estilo como estava 20 anos antes. Fiz uma nova versão actualizada que, segundo Júlio Mendonça, anda por lá. 

No livro de Estilo da RNA consta que os nomes estrangeiros são convertidos para a versão portuguesa, se existir. New York Nova Iorque. Beijing Pequim. London Londres. Elizabeth Isabel. Margaret Margarida. Charles Carlos. Мockbа Moscovo.  Stockholm Estocolmo.  Den Haag Haia. Chega de exemplos. O Jornal de Angola entrevistou Paula Simons, que conta uma versão contrária ao Livro de Estilo. No seu tempo, final dos anos 80, até telefonavam às embaixadas para saberem como se pronunciavam correctamente os nomes. O contrário ao Livro de Estilo. Por estas e por outras, a RNA mergulhou num buraco técnico donde é difícil sair vivo. Não há Páscoa que a faça ressuscitar. Muito vício, muita incompetência.

O entrevistador apresenta Paula Simons como alguém que “firmou o seu nome no jornalismo angolano com uma carreira que se estende há cerca de quatro décadas…” A senhora, depois de 1992, enveredou pelo marketing, comunicação e imagem, actividades incompatíveis com o exercício da profissão de jornalista. É público e notório que até criou uma empresa do ramo. Como deputada do MPLA inscreveu na sua ficha da Assembleia Nacional:  “consultora de comunicação e imagem” além de “subdirectora de marketing e comunicação do banco BAI”. Quem faz estas coisas pode ser tudo, até subchefe de família (como eu) mas jornalista não.

Perguntador do Jornal de Angola: Quem são os pioneiros da rádio angolana?

Reposta: Além do Mesquita Lemos, pioneiros da rádio… Álvaro da Fonseca, Fernando Alves, David Borges, Leston Bandeira, Horácio Reis, que está no Lubango, Nuno Fernandes, que, entretanto, depois fez um percurso pela comunicação institucional, Aldemiro da Conceição, do tempo da minha mãe ainda, João Miranda, José Patrício, íamos muito longe...”

Os malanjinos já nascem com uma licenciatura e não pagam renda porque têm casa própria. O Riquinho, patrão do Manuel Homem, com sete anos já comandava uma base de pioneiros no Cazenga, ano de 1972 quando o MPLA estava na mais rigorosa clandestinidade. O mesmo Riquinho com dez anos já era campeão de fugas à polícia. Tinha mesmo muita corrida. 

A Paula Simons, ainda com nove aninhos, foi colega do Álvaro da Fonseca e do Fernando Alves que em 1975 abandonaram a Emissora Oficial e foram para Portugal. O David Borges que trabalhava no Lubango e em 1975 também e retirou para Portugal.  O Horácio da Fonseca começou na Rádio comigo, anos 60. A Rádio Angolana tinha começado 30 anos antes. O João Miranda e o José Patrício começaram em 1975. Pioneiros de quê? Aldemiro Vaz da Conceição começou em 1974. Praticamente meio século depois dos pioneiros. E era jornalista. A mãe de Paula Simons (Maria João) era funcionária administrativa. Mas sim, éramos todos colegas na Emissora Oficial (RNA).

Tenham pena dos jovens que agora começaram na profissão. Não o aldrabem. Não os enganem. Não os façam acreditar que comunicação, imagem, marketing e jornalismo são a mesma coisa. Porque depois vão fazer o mesmo que está moda. Servem-se do jornalismo para negociatas no marketing, comunicação e imagem. Alguns assinam textos de opinião como “jornalistas” para venderem os produtos dos seus clientes de marketing, comunicação e imagem. Esses clientes são ministérios, empresas públicas e até a Presidência da República. Deixem a candonga para os candongueiros. Não metam nisso o Jornalismo e os Jornalistas. 

Os Media são instrumentos de soberania, diz Paula Simons. Aqui esfumou-se o espírito pascal. Soberania de Sobrinhos e Madalenos? Soberania de donos sem rosto que se escondem atrás de testas de ferro como o Carlos Rosado de Carvalho? Maka Angola é soberania de quem? Club K é instrumento de que soberania? Aviso à navegação. Muito cuidado com as e os diletantes do Jornalismo. Habitualmente ignoram (porque lhes convém...) que os Media há muito deixaram de ser espaços de liberdade, para serem antros de poderes instalados, perigosos e sobretudo ilegítimos. Só se salvam os Media públicos.

Antes de acabar a minha jornada de bom menino, alerto para a bojarda do Justino Pinto de Andrade. O seu herói agora é Juca Valentim. Radical, sectário, estalinista até dizer chega. Associado à turma de Nito Alves declarou morte aos maoistas e aos “traidores” da Revolta Activa, onde estava o deputado da UNITA Justino Pinto de Andrade, que afortunadamente escapou aos furores assassinos dos fraccionistas do 27 de Maio 1977. Isto de fazer de um político, sectário e radical emblema de uma geração, traz água no bico. Justino está a preparar-se pera aprontar outra pior do que ir pra a cama com os sicários da UNITA.

Eu era amigo de Juca Valentim. Mas o seu ódio aos maoistas e aos apoiantes da Revolta Activa era insuportável. Os fraccionistas ainda não tinham dado o golpe nem conquistado o poder já ostentavam a arrogância dos ditadores. Juca Valentim era uma espécie de João Lourenço mas mais simpático. Infelizmente não soube parar a tempo e cavou a sua própria sepultura. Não há Páscoa que o ressuscite.

* Jornalista

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