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Lisboa, 02 mai (Lusa) -- O IV Congresso Extraordinário do MPLA, partido no poder em Angola, que decorreu em Luanda nos dias 29 e 30 de abril, "não apresentou qualquer surpresa, mas sim promessas por cumprir", disseram à Lusa observadores angolanos do evento.
Para o historiador angolano Carlos Pacheco os discursos proferidos durante os dois dias de trabalhos e as conclusões do congresso representam uma "oratória" que não o surpreende.
"É um discurso que já conheço há muitos anos, que se repete, congresso após congresso, e que já vem do tempo do (primeiro Presidente de Angola, Agostinho Neto). É um discurso que está embutido, que serve para tudo, para todos os conclaves, maiores ou menores. São sempre promessas que depois não se concretizam", sentenciou.
Autor de vários estudos publicados sobre os primórdios da luta armada em Angola e sobre o processo colonial, Carlos Pacheco criticou, sobretudo, no discurso que o presidente do partido, José Eduardo dos Santos, fez na abertura, a referência à alegada ingerência das potências industrializadas ocidentais nos assuntos internos africanos, para acederem facilmente às matérias-primas.
"Esta tendência não é neo-colonialista. Já está desenhada há muito tempo, sustentada, ajudada pelos poderes instalados em praticamente todos os países africanos, e eu diria que em Angola também", defende.
Para Carlos Pacheco em Angola "vigora uma situação neo-colonialista na medida em que os homens que integram a estrutura do poder têm sido permissivos exatamente a estas entradas abusivas, arbitrárias, selváticas do capital internacional, porque estão a beneficiar destas ofensivas", acentuou.
Fortemente critico do regime instituído em Angola, Carlos Pacheco frisa que o que existe é uma "cleptocracia interna coligada com a cleptocracia internacional", e destaca não conhecer "nenhum perfil nacionalista nas políticas do regime de Luanda".
"Há um propósito claro do regime em impor a sua força, de reforçar a sua hegemonia. Eu não acredito nestes homens, não acredito naquela gente", sublinhou.
A Lusa solicitou igualmente a Massilon Chindombe e Carbono Casimiro, dois dos "rappers" mais populares de Angola e que juntamente com outros jovens organizaram, no passado dia 02 de abril, em Luanda uma manifestação em que se exigiu liberdade de expressão e o fim dos 32 anos de poder de José Eduardo dos Santos, a opinião sobre as conclusões do congresso do MPLA.
Contactados telefonicamente a partir de Lisboa, quer Carbono Casimiro, quer Massilon Chindombe, disseram não terem ficado surpreendidos, nem com os discursos nem com as conclusões.
"A reunião correu da forma como esperava que corresse. Não tem nada de diferente. Nada demais. Eu podia dizer que foi uma espécie de campanha eleitoral, prevendo já as eleições em 2012", salientou Massilon Chindombe.
O teor dos discursos, aliás, remete para o passado.
"É sempre assim. Na véspera das últimas eleições também foi assim: tentar convencer o maior número de eleitores", afirmou.
Para Carbono Casimiro, o congresso do MPLA "foi um exercício de demagogia".
"Tudo aquilo que foi dito pela maior democratização, na verdade, na prática, não se veem esforços para isso. Já alguém disse que a política do MPLA é prometer. Acho que eles se especializaram em prometer. Estamos cansados de promessas, há mais de 30 anos", concluiu.
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