segunda-feira, 16 de maio de 2011

DESCOBERTA PORTUGUESA SOBRE A MALÁRIA




PP – TVI24
 
A redução dos níveis de ferro no fígado provocada pelo vírus da malária previne uma segunda infecção pelo mesmo vírus, uma descoberta portuguesa com implicações sobretudo nas crianças com menos de sete anos em zonas endémicas da doença, escreve a Lusa.

«Nas regiões endémicas de malária temos indivíduos que estão constantemente a ser picados por mosquitos infectados [...]. O que o nosso estudo demonstra é que uma segunda infecção não se estabelece enquanto a primeira não for limpa e isso acontece porque a primeira infecção causa uma redução dos níveis de ferro no fígado e, como o parasita necessita de ferro para se replicar, fica bloqueado», explicou à agência Lusa Maria Mota, que lidera a equipa de investigadores do Instituto de Medicina Molecular de Lisboa (IMML) responsável por esta descoberta.

A investigadora explicou que a descoberta terá implicações sobretudo nas crianças com menos de sete anos em zonas endémicas de malária.

«A maior parte das crianças são anémicas e a prática clínica passa pela administração de ferro, o que pode levar a que, crianças que têm quase uma protecção natural contra múltiplas infecções [pelo vírus da malária] passem a ter essas infecções e acabem por ficar mais debilitadas e possam morrer», disse.

Maria Mota lembrou um estudo feito em finais dos anos 90, na ilha de Temba, na Tanzânia, em que se administrou ferro a crianças com menos de cinco anos, o que aumentou muito os casos de infecções múltiplas e mortes por malária naquela região.

A investigadora do IMML disse à agência Lusa que o passo seguinte é perceber as alternativas à administração de ferro às crianças anémicas, considerando que não se pode simplesmente deixar de lhes dar ferro.

«É um alerta para que os clínicos tenham isso em atenção, para se questionarem se devem ou não devem dar [ferro]», disse.

O estudo foi desenvolvido em Portugal pela equipa liderada por Maria Mota no Instituto de Medicina Molecular em colaboração com investigadores do Weatherall Institute of Molecular Medicine e da Universidade de Oxford, no Reino Unido.

Para Hal Drakesmith, investigador no Weatherall Institute of Molecular Medicine e co-autor do estudo, agora que se compreende «a forma como os parasitas da malária protegem o seu território de parasitas competidores no organismo infectado, poderemos ser capazes de aumentar as defesas naturais do organismo no combate ao risco de infecção por malária».

Por outro lado, acrescentou, poderemos necessitar de «olhar de novo para o efeito dos programas que introduzem suplementos de ferro na alimentação das populações onde a malária é endémica, nomeadamente para a hipótese de potenciarem o risco de infecção».

Os resultados da investigação foram publicados on-line na revista Nature Medicine.

A malária afeta extensas áreas da África, Ásia, América do Sul e América Central, causando anualmente a morte a milhares de crianças abaixo dos 5 anos.

As tentativas para erradicar a doença têm sido infrutíferas por causa da resistência dos mosquitos transmissores do parasita aos insecticidas e dos parasitas aos fármacos de combate à malária.

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