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Rio de Janeiro, 15 mai (Lusa)- Os preços dos imóveis no Rio de Janeiro registaram no último ano uma subida até 100 por cento, mas para os profissionais do setor "ainda" não se trata de especulação, e sim de um aumento real na procura por moradias na cidade.
Para o sócio-diretor da Imobiliária Mauá, Marco António Viera de Mello, o forte aumento ocorreu, sobretudo, devido à fartura de crédito e à melhoria das condições das classes C e D, além da própria atividade económica mais aquecida, que naturalmente funciona como uma "catalisadora" do mercado imobiliário.
"É bem diferente do que aconteceu nos EUA, os preços estão mais altos porque as pessoas realmente estão pagando esse valor. Acho que o aumento reflete a melhora do poder aquisitivo da classe média, que é a grande protagonista dessas compras", pondera.
Como exemplo desta variação, refere que um apartamento de três quartos numa rua nobre no bairro do Flamengo, na zona sul do Rio, custava entre 500 e 600 mil reais (260 mil euros), no início do ano passado, e hoje chega a custar 1 milhão de reais (434 mil euros).
Na Atlântica, avenida beira-mar do bairro de Copacabana, um apartamento que custava 3,5 milhões de reais (1,5 milhão de euros), até ao ano passado, hoje já passou a custar 7,5 milhões de reais (3,26 milhões de euros), segundo dados de corretoras de imóveis da cidade.
Na avaliação de Mello, no entanto, não há "ainda" uma bolha inflacionária no setor, mas ele não descarta este cenário, caso a valorização continue a este ritmo, nos próximos meses.
"O que houver de valorização a partir de agora, poderá ser especulação, porque até então essa alta estava refletindo um aumento do poder aquisitivo da população e também do acesso ao crédito para financiamentos", considera.
"Acredito que essa alta não vá continuar, podemos dizer que desde fevereiro os preços, que já vinham subindo desde o princípio do ano passado, começaram a se estabilizar", afirma Vieira de Mello à Lusa.
A política de segurança adotada pelo governo do Rio também ajudou a influenciar a melhora da imagem de alguns bairros próximos de favelas, que há anos vinham sofrendo com a desvalorização dos imóveis, por conta da falta de segurança.
Por outro lado, as próprias favelas já pacificadas, muitas delas bem localizadas, em regiões de fácil acesso aos principais pontos da cidade e também com vistas privilegiadas sobre o mar, começam a ver os preços de suas moradias aumentarem.
Segundo Vieira de Mello, por conta da implantação de UPP (Unidades de Política Pacificadora), sua imobiliária conseguiu reajustar o preço do aluguer com inquilinos que moram junto do morro Dona Marta, em Botafogo, ou mesmo no início das primeiras ladeiras que dão acesso à comunidade.
"Devido à situação anterior, com o domínio do tráfico, os alugueres estavam muito desfasados. De um modo geral, conseguimos reajustar esses contratos em cerca de 50 por cento do valor", informa o diretor da imobiliária, que ainda não trabalha com locação de imóveis dentro das comunidades, mas não descarta a possibilidade de fazê-lo, em breve.
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Alta nos preços de imóveis chega às favelas
Fabiane Roque, da Agência Lusa
Rio de Janeiro, 15 mai (Lusa) - Localizada no coração do Rio de Janeiro e sem o antigo problema de falta de segurança, a favela do morro Dona Marta, em Botafogo, já figura entre as zonas da cidade com valorização nos preços dos imóveis.
"Tem muita gente procurando, chega a ser até chato de tantas vezes que tenho que repetir a mesma coisa, que não tem mais casa para alugar", declarou à Lusa a secretária da Associação dos Moradores.
O aluguer de um pequeno apartamento de quarto e sala na região passou, de acordo com a responsável, de 280 reais (120 euros), até o início do ano passado, para uma média de 350 reais (150 euros) nos últimos meses.
Fora do "circuito" formal das imobiliárias e corretoras, nestes casos, quando há disponibilidade, o anúncio é feito oralmente ou colado no mural da sede da Associação que, no momento, possui uma única oferta de aluguer, de um quarto, a 450 reais (195 euros) por mês.
De acordo com os moradores -- a maioria vive em casa própria --, as pessoas que têm pago esse preço são de fora da comunidade, boa parte deles trabalhadores imigrantes da região nordeste ou estrangeiros.
"Quem paga isso é só estrangeiro, não sei o que tanto eles veem aqui, mas está cheio de gringo querendo morar no morro hoje em dia", afirmou a dona de casa Julieta de Souza, para quem os apartamentos não valem o preço cobrado.
Outro tipo de procura comum é de trabalhadores que moram em regiões mais afastadas e possuem emprego na zona sul. Como os transportes públicos são caros, e nem sempre suportados pela empresa, preferem dormir perto durante a semana e só voltar para casa no sábado.
Para que valha a pena, esses trabalhadores formam grupos de até quatro pessoas, para alugar um espaço com um único quarto, que utilizam apenas para dormir.
Edésio Rangel, dono de uma barbearia de cerca de 10 metros quadrados, localizada entre muitas das ruelas do morro, diz que não venderia o seu ponto por menos de 30 mil reais (13 mil euros).
Para comparar a desproporção dos preços, o bombeiro hidráulico Cosmo Uchôa conta que possui uma casa com três quartos e varanda no Vidigal, comunidade ainda não pacificada, na Zona Oeste, que está alugada a 300 reais-mês.
"Aqui, por este preço, não se consegue mais nem um porão", compara.
Por outro lado, o pedreiro Josemar, que além de morador é dono de outras duas pequenas casas no morro, alugadas hoje a 400 reais mensais, diz que "esse preço novo é ótimo, se for um sonho, não quero nem acordar", brinca.
Segundo Josemar, uma de suas atuais inquilinas é uma ex-moradora da rua São Clemente, em Botafogo, que não agüentou pagar o preço do aluguer no "asfalto" e decidiu "subir" em busca de moradia mais barata, o que consolida de uma vez por todas a mudança da visão das pessoas dos bairros melhores em relação às favelas.
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