Artur Queiroz*, Luanda
Luanda faz 449 anos dentro de 25 dias. A colonização portuguesa começou em 1575 quando Paulo Dias de Novais desembarcou na Ilha do Cabo com 400 militares e oficiais de vários ofícios. Precisamente 400 anos depois Agostinho Neto proclamou a Independência Nacional. Foi o fim da dominação estrangeira mas também o ponto final do império colonial português.
A caminho dos 50 anos de Angola Independente, um jornal angolano defendeu que os colonialistas deviam ficar mais umas décadas para nos ensinarem a governar. Eles que, segundo os romanos, não se governam nem se deixam governar! Isto fere o mais fundo da condição humana dos angolanos mas o filho de enfermeiro quer assim, para entregar o país e o Povo Angolano à Casa dos Brancos, numa bandeja e de joelhos num tapete de dólares falsos. Pobre diabo!
A cidade da Kianda está aí,
agonizando. O Centro Histórico praticamente destruído. A destruição impiedosa
começou em 1961, quando patos-bravos sem gosto nem raízes culturais começaram a
demolir a velha Luanda e construíram
As calemas destruíram, durante um el niño, há muitos séculos, dois terços da Ilha do Cabo. Levaram para as profundezas do mar a Fortaleza de Nossa Senhora da Flor da Rosa. Muitas ruas da cidade desapareceram levadas pelas enxurradas que se repetiram em 1963.Mas o camartelo dos patos-bravos portugueses foi bem mais grave. A destruição continua pelas nossas mãos. Os sucessivos governos da província de Luanda não puseram em prática planos para preservação e recuperação do Centro Histórico. A velha cidade de Loanda já só vive nas aguarelas de Carlos Ferreira (Lito).
Em Luanda, no Sambizanga, nasceu um velho amigo que hoje quero homenagear porque faz 20 risonhas luas cheias e ele é todo luar! Salviano de Jesus Sequeira juntou-se à guerrilha do MPLA em 1968. Alguns anos depois comandava um grupo de guerrilheiros que entrou em combate com as tropas do exército colonial português. Mas o inimigo era muito forte e os combatentes tiveram que recuar. O comandante Kianda andou 21 dias perdido no Maiombe. Até então, nunca ninguém tinha sobrevivido mais do que uma semana na floresta cerrada.Kianda comia coconotes e bebia água das folhas das árvores. Um dia encontrou uma bananeira e cortou um cacho com as bananas ainda verdes. Carregou-o às costas e os frutos entretanto amadureceram. Já no fim da odisseia encontrou uma horta, perto de uma aldeia congolesa. Ficou lá um dia inteiro, a banquetear-se com tomates e laranjas. Tinha sobrevivido.
Há quem pense que o seu nome de guerra vem daquele “ki anda” muito. Mas vem mesmo de Kianda, a mítica sereia de Luanda. Quando nasceu, no Sambizanga, o mais luandense dos bairros da capital, tinha a cabeça muito grande. E logo a sua avó materna sentenciou: “Foste concebida pela sereia”.
Desde esse 31 de Dezembro, todos os anos a família punha a toalha branca em cima da mesa, repleta de comida. Oiçam o aniversariante: “Como o dinheiro não dava para mais, as bebidas eram vinho abafado e também havia aguardente. Para me dar sorte. Aos 13 anos recusei o meter a mesa”. O general Kianda recusou o “meter a mesa” mas para toda a vida e para História vai ficar ligado à Independência e à Soberania Nacional.
Logo após o 25 de Abril de 1974 participou na operação militar do MPLA que depôs o governador de Cabinda, Temudo Barata, que estava a preparar tudo para entregar a província à FLEC. Depois foi para a União Soviética com o Comandante Ndozi, líder da guerrilha do MPLA na Frente Norte (I e II Regiões Político-Militares), constituir a IX Brigada.
Desde os primeiros dias de Novembro, 1975, eu ia ao posto de comando, em Kifangondo, para saber novas do avanço dos invasores estrangeiros. Era recebido pelo Comandante Kianda que me dava todas as informações para depois contar no Diário de Luanda o ponto da situação. Concorrência ao Comandante Juju do Estado-Maior das FAPLA.
Já com as FAPLA convertidas
O General Kianda foi nomeado ministro da Defesa mas quando percebeu que havia um plano para entregar Angola à Casa dos Brancos opôs-se. Foi demitido pelo filho de enfermeiro e a traição seguiu em frente.
Hoje abri uma garrafa de vinho tinto e estou a comemorar o teu aniversário, meu mano. Não pus a mesa à Kianda mas a ti, ao Ndozi ao Eurico, ao nosso ministro Dilolwa, ao Guinapo e à nossa querida Netita, a anfitriã. A música é mesmo semba.
Notícia sensacional no Jornal de Angola onde trabalhei uma porrada de anos: “Juiz ordena prisão do Presidente da Nicarágua por violar direitos humanos”. Leiam o resto: “O juiz federal argentino, Ariel Lijo, ordenou a prisão do presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, e da esposa Rosario Murillo, por violação sistemática dos direitos humanos no país”.
Esta notícia é de hoje, agora mesmo: “O juiz Artur Queiroz ordenou a prisão de João Lourenço por alta traição à decência e a prisão de sua esposa, Ana Dias Lourenço, por ser danada para a brincadeira e atacar as criancinhas com brinquedotecas e fometecas. O chefe Miala cumpriu as ordens do magistrado”.
Feliz Ano Novo e votos de longa vida a todos, até ao casal presidencial.
* Jornalista
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