MARGARIDA SANTOS LOPES – PÚBLICO
O chefe da Al-Qaeda, cuja morte foi confirmada por Barack Obama, não era apenas o “inimigo número um da América”, mas do islão. A maioria das suas vítimas foram muçulmanos.
Oriundo de uma família natural de Hadhramawt, região do Iémen cujo significado é “A morte está entre nós”, Osama bin Mohammed bin Awad bin Laden foi o fundador e líder da Al-Qaeda (A Base). Nasceu em 1957, em Riad, na Arábia Saudita, um dos 25 filhos e 29 filhas de Mohammed bin Laden, descendente dos Kenda, tribo de governantes e guerreiros que remonta ao período pré-islâmico, uma poderosa federação do século XVII que ficou reduzida a um clã de 400 a 500 pessoas, devido a guerras e secas.
O pai de Osama fugiu da miséria e foi parar à Casa de Saud, mais ou menos na altura em que o reino descobria jazidas de petróleo. Começou por trabalhar, em Jidá, como carregador no comércio ligado aos que faziam a peregrinação a Meca. Montou depois um negócio de venda de grelhados no mercado. Ele e o irmão Abdullah eram tão pobres, refere Steve Coll, no livro “Os Bin Ladens – Uma Família Árabe no Século Americano”, que, “no início, dormiam numa vala cavada na areia e cobriam-se com sacos”.
Em 1931, quando Jidá registava um “boom” na construção civil, Mohammed abriu a sua própria empresa. Um tipo de 1,72m de altura e um olho de vidro, brincalhão e bem-humorado, o pai de Osama não teve dificuldade em recrutar as pessoas certas para reparar e renovar edifícios, refere Coll. Mais importante: “Ele tinha a capacidade de construir e executar trabalho de empreitada rapidamente e de uma forma que agradava às personalidades caprichosas e exigentes da classe rica” – um deles o ministro das Finanças, que o terá recomendado ao rei Abdulaziz.
A Grande Depressão, no início da década de 1930 forçou o analfabeto Mohammad a mudar-se de novo, desta vez para Dhahran, onde foi assentador de tijolos e pedreiro até vender os seus serviços à Aramco, consórcio petrolífero americano-saudita. Uma das primeiras obras de Mohammed bin Laden, quase a pedra angular do que seria o seu vasto e opaco império de negócios, foi a construção de uma rampa que permitia a Abdulaziz subir, dignamente, na sua cadeira de rodas, até à sala do palácio onde recebia os súbditos. Nunca rejeitando contratos – da instalação da rede telefónica nacional ao restauro das mesquitas de Al-Aqsa, em Jerusalém, e de Meca –, mesmo quando os pagamentos estavam em atraso, Mohammed foi ganhando o favor da realeza, e acumulando uma fortuna incalculável.
Osama bin Laden, filho de Mohammed e da última das suas 22 mulheres, a síria Alia, foi um dos que herdaram esta imensa riqueza quando o pai morreu, em Setembro de 1967. Milionário, o jovem tímido, formado em Economia na Universidade do Rei Abulaziz em Jidá, cumpriu o sonho de ser o financiador dos “mujahedin” (combatentes) afegãos que lutaram contra os invasores comunistas soviéticos, em 1979-89.
No Afeganistão, foi mais patrono que combatente, mas regressou a Riad com aura de herói. Quando o Iraque invadiu o Kuwait, em 1990, cobiçando os poços de petróleo sauditas, Bin Laden ofereceu à família real os seus “árabes da jihad afegã”, para impedir que tropas estrangeiras entrassem no país que é guardião dos dois lugares mais sagrados do Islão. Os príncipes, conscientes do poderio militar de Saddam Hussein, olharam para ele como um ingénuo, recusaram a sua oferta e aceitaram a dos americanos. Ficou assim consumado o divórcio entre ele a Casa de Saud, cuja legitimidade começou a contestar.
Em 1994, já a viver no Sudão desde o ano anterior, Bin Laden perdeu a cidadania. Em 1996, regressou ao Afeganistão para apoiar o regime dos Taliban e do “mullah” Omar. Por esta altura, o apátrida a quem os discípulos chamavam “sheikh”, emitiu uma “fatwa” (édito) frisando que uma “guerra santa” contra os Americanos e os Sionistas “é um dever de todos os Muçulmanos”, porque os EUA mantinham a sua presença na Arábia Saudita e apoiavam Israel.
Em 1998, Osama, Ayman al-Zawahiri e outros companheiros das grutas afegãs fundaram, na cidade paquistanesa de Peshawar, a rede terrorista A Al-Qaeda. Os primeiros ataques contra interesses dos EUA foram na Somália eem Nova Iorque , em 1993. Seguiram-se outros na Arábia Saudita, em 1995, na Tanzânia e no Quénia, em 1998, e no Iémen, em 2000. Em 11 de Setembro de 2001, a Al-Qaeda cometeu o que foi, até agora, a sua acção, mais bárbara. Quase 3000 pessoas de uns 90 países foram mortas, quando 19 pilotos suicidas – quinze deles sauditas – atacaram Nova Iorque (destruindo as Torres Gémeas) e Washington, fazendo explodir quatro aviões comerciais que haviam desviado. Ironia histórica, Mohammed bin Laden foi o primeiro a ter um avião particular na Arábia Saudita, e morreu quando o seu aparelho, pilotado por um americano, se despenhou numa arrojada descolagem.
O acontecimento que nos EUA ficou conhecido como “11/9” nada teve a ver com aquele acidente, em 1967. O 11 de Setembro expôs o fracasso de Osama (um dos poucos filhos de Mohammed que não aprendeu a voar) na luta que a sua família – “99,999999 por cento de variante não maléfica, segundo um analista da CIA, e ainda hoje um dos maiores conglomerados na Arábia Saudita –, continua a travar para conciliar tradição, religião e modernidade, num mundo vertiginoso e sem fronteiras.
O pai de Osama fugiu da miséria e foi parar à Casa de Saud, mais ou menos na altura em que o reino descobria jazidas de petróleo. Começou por trabalhar, em Jidá, como carregador no comércio ligado aos que faziam a peregrinação a Meca. Montou depois um negócio de venda de grelhados no mercado. Ele e o irmão Abdullah eram tão pobres, refere Steve Coll, no livro “Os Bin Ladens – Uma Família Árabe no Século Americano”, que, “no início, dormiam numa vala cavada na areia e cobriam-se com sacos”.
Em 1931, quando Jidá registava um “boom” na construção civil, Mohammed abriu a sua própria empresa. Um tipo de 1,72m de altura e um olho de vidro, brincalhão e bem-humorado, o pai de Osama não teve dificuldade em recrutar as pessoas certas para reparar e renovar edifícios, refere Coll. Mais importante: “Ele tinha a capacidade de construir e executar trabalho de empreitada rapidamente e de uma forma que agradava às personalidades caprichosas e exigentes da classe rica” – um deles o ministro das Finanças, que o terá recomendado ao rei Abdulaziz.
A Grande Depressão, no início da década de 1930 forçou o analfabeto Mohammad a mudar-se de novo, desta vez para Dhahran, onde foi assentador de tijolos e pedreiro até vender os seus serviços à Aramco, consórcio petrolífero americano-saudita. Uma das primeiras obras de Mohammed bin Laden, quase a pedra angular do que seria o seu vasto e opaco império de negócios, foi a construção de uma rampa que permitia a Abdulaziz subir, dignamente, na sua cadeira de rodas, até à sala do palácio onde recebia os súbditos. Nunca rejeitando contratos – da instalação da rede telefónica nacional ao restauro das mesquitas de Al-Aqsa, em Jerusalém, e de Meca –, mesmo quando os pagamentos estavam em atraso, Mohammed foi ganhando o favor da realeza, e acumulando uma fortuna incalculável.
Osama bin Laden, filho de Mohammed e da última das suas 22 mulheres, a síria Alia, foi um dos que herdaram esta imensa riqueza quando o pai morreu, em Setembro de 1967. Milionário, o jovem tímido, formado em Economia na Universidade do Rei Abulaziz em Jidá, cumpriu o sonho de ser o financiador dos “mujahedin” (combatentes) afegãos que lutaram contra os invasores comunistas soviéticos, em 1979-89.
No Afeganistão, foi mais patrono que combatente, mas regressou a Riad com aura de herói. Quando o Iraque invadiu o Kuwait, em 1990, cobiçando os poços de petróleo sauditas, Bin Laden ofereceu à família real os seus “árabes da jihad afegã”, para impedir que tropas estrangeiras entrassem no país que é guardião dos dois lugares mais sagrados do Islão. Os príncipes, conscientes do poderio militar de Saddam Hussein, olharam para ele como um ingénuo, recusaram a sua oferta e aceitaram a dos americanos. Ficou assim consumado o divórcio entre ele a Casa de Saud, cuja legitimidade começou a contestar.
Em 1994, já a viver no Sudão desde o ano anterior, Bin Laden perdeu a cidadania. Em 1996, regressou ao Afeganistão para apoiar o regime dos Taliban e do “mullah” Omar. Por esta altura, o apátrida a quem os discípulos chamavam “sheikh”, emitiu uma “fatwa” (édito) frisando que uma “guerra santa” contra os Americanos e os Sionistas “é um dever de todos os Muçulmanos”, porque os EUA mantinham a sua presença na Arábia Saudita e apoiavam Israel.
Em 1998, Osama, Ayman al-Zawahiri e outros companheiros das grutas afegãs fundaram, na cidade paquistanesa de Peshawar, a rede terrorista A Al-Qaeda. Os primeiros ataques contra interesses dos EUA foram na Somália e
O acontecimento que nos EUA ficou conhecido como “11/9” nada teve a ver com aquele acidente, em 1967. O 11 de Setembro expôs o fracasso de Osama (um dos poucos filhos de Mohammed que não aprendeu a voar) na luta que a sua família – “99,999999 por cento de variante não maléfica, segundo um analista da CIA, e ainda hoje um dos maiores conglomerados na Arábia Saudita –, continua a travar para conciliar tradição, religião e modernidade, num mundo vertiginoso e sem fronteiras.
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1 comentário:
faltou falar dos comunistas que ele matou lá no Afeganistão.
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