segunda-feira, 2 de maio de 2011

PORTUGAL: BLOCO CENTRAL




LUÍS MARQUES MENDES, Ex-líder do PSD, opinião – CORREIO DA MANHÃ – 02 maio 2011

Decididamente, parece que o País passou do oito para o oitenta. Depois de ter tolerado um governo de minoria, parece agora virado para criar um governo de bloco central ou, pior ainda, integrando os três partidos do arco governativo (PS, PSD e CDS). Reconheço que é, em abstracto, uma solução atraente e sedutora. Mas não é, em concreto, uma boa solução.

Juntar os dois principais partidos no governo é trair o sentido de voto dos eleitores. Ninguém vota no PSD para ele se coligar com o PS ou vice-versa. O voto em cada um destes dois partidos é dado com o sentido de que eles se assumam como alternativa um ao outro, não como muleta um do outro. Assim, juntar no poder o que os cidadãos separam nas urnas é construir uma solução incoerente e artificial.

Mas um governo de "unidade nacional" juntando os três partidos do arco governativo é também uma má solução para a democracia. Se os partidos com vocação de governo se unem todos na governação quem exerce o papel de oposição? Os partidos radicais da extrema-esquerda? Os partidos de protesto, que só sabem destruir? Aqueles que já hoje representam cerca de 20% dos votos e que assim teriam condições para crescer ainda mais? E, quando o governo chegar ao fim, quem faz de alternativa? Por maior que seja o desespero, convém não reduzir a política a um exercício de tacticismo, perdendo a noção de futuro e a visão de médio prazo.

Finalmente, um governo desta natureza também não é garantia de sucesso. Com tantas diferenças estratégicas, de conteúdo e de visão do Estado por parte dos dois principais partidos, corremos um sério risco – o risco de um governo destes passar mais tempo a negociar entendimentos, a ultrapassar clivagens e a distribuir clientelas do que a governar o País. Ora, Portugal precisa de um governo diferente – unido nas convicções, ágil na acção, determinado e eficaz.

Convém ponderar tudo isto para não vender ilusões nem alimentar disparates. Por mim, mantenho-me fiel às minhas convicções – fui contra governos minoritários, mesmo quando muito boa gente achava essa uma solução normal; sou contra blocos centrais mesmo quando a moda vai nesse sentido; sou a favor de governos de maioria que tenham coerência, que garantam a governabilidade e que não comprometam a alternância democrática. Será assim tão difícil manter a coerência e evitar saltitar de um lado para o outro?

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