domingo, 29 de maio de 2011

Portugal: A GUERRA DO SOLNADO




SÃO JOSÉ ALMEIDA - PÚBLICO

A campanha eleitoral está assemelhar-se a algo do domínio do caricato. Com o país à beira de sofrer mudanças radicais impostas pela Comissão Europeia e a sua missão a Lisboa chefiado a delegação que integrava o BCE e o FMI, os partidos continuam a ter um discurso que passa ao lado do que de substancial de facto importa discutir, que deveria ser, é claro, o que vai acontecer à sociedade portuguesa.

Com os líderes do PSD e do CDS mais interessados em discutir se foram ou não informados sobre alterações ao memorando do que em explicar o seu conteúdo e as suas reais consequências e com o PS e o ainda primeiro-ministro interessado em explicar coisa nenhuma, a campanha chegou a meio e, a cada dia, se parece mais com a guerra do Solnado, tal a inutilidade de algumas polémicas epidérmicas que rebentam e até o tom ridículo que algumas atingem.

Este sábado, na sequência de uma notícia do “Expresso” que confirma o que é um dado histórico, Cavaco Silva não gosta de governos pequenos – foi ele, aliás, que, como primeiro-ministro, modernizou e complexificou a estrutura governamental, como prova a tese de doutoramento de Marina Costa Lobo.

E, perante a notícia de que em Belém havia dúvidas sobre se seria sensato encolher o executivo para os dez ministros prometidos por Passos Coelho, o próprio Passos tratou de vir esclarecer que, afinal, a sua proposta de governo liofilizado era só para o caso de ter maioria absoluta.

Ora como, se ganhar, prevê que não terá maioria absoluta - uma constatação que só abona a favor do seu bom senso -, Passos Coelho confessou já que afinal o seu Governo terá de ter mais pois terá de incluir outros partidos.

Este episódio da “guerra do Solnado veria um novo desenvolvimento ao fim da tarde e a rapidez com que Passos foi no rastro das teses do Presidente, fizeram por tropeçar no desmentido que Cavaco faria já perto da hora de jantar à notícia do “Expresso”.

Um desmentido tardio, que apenas mostra que o Presidente temeu ser acusado de prejudicar a campanha do PSD por tornar pública uma discordância em relação a Passos, mas que tornou ainda mais caricato todo este episódio.

Além de mostrar a vacuidade do debate nesta campanha, a notícia oficialmente desmentida serviu para mostrar duas coisas. A conclusão que se tira é a de que, por um lado, a convicção na bondade de um Governo pequeno é para inglês ver, já que desaparece com a leitura do “Expresso” e as notícias sobre Belém.

Por outro, o Governo é, para Passos Coelho, não constituído de acordo com um modelo destinado a resolver os problemas do país e com ministérios que respondam às solicitações da sociedade e do Estado. Mas que o critério para aumentar ou diminuir ministérios é antes a necessidade de negociar com outros partidos quantos ministérios tem que dar a estes para comprar a paz parlamentar que lhe permita ser primeiro-ministro.

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