ANDRÉ BARROCAL – CARTA MAIOR
Sem condições políticas de ficar no governo sob a suspeita de enriquecimento ilícito, Antonio Palocci pede demissão e abre espaço para Dilma Rousseff devolver "perfil técnico" à Casa Civil. Nova ministra, a senadora petista Gleisi Hoffmann, assume nesta quarta-feira (08/06). Espólio político deixado por Palocci será divido entre Dilma, vice Michel Temer, que é do PMDB, e Secretaria de Relações Institucionais, controlada pelo PT.
BRASÍLIA – Depois de 176 dias, o governo Dilma Rousseff será refundado nesta quarta-feira (08/06), com a substituição de Antonio Palocci, na chefia da Casa Civil, pela senadora Gleisi Hoffmann, do PT do Paraná. Figura central na lógica de funcionamento do governo, de jogo duro na relação com partidos aliados e com o Congresso, Palocci não suportou mais a perda de legitimidade como principal estrategista da presidenta, decorrente da notícia de seu enriquecimento, e pediu demissão nesta terça-feira (07/06).
Em nota à imprensa para informar que mandara carta de demissão à presidenta, Palocci reconheceu a fragilidade política em que estava, mesmo com a decisão da Procuradoria Geral da República de arquivar pedido de inquérito contra ele. No texto, afirma que “a continuidade do embate político”, que nem a decisão da Procuradoria nem a entrevista que deu para se explicar conseguiram conter, prejudicaria atribuições dele no governo.
Também em nota oficial, a Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República informou que Dilma aceitou a demissão, “lamenta a perda de tão importante colaborador” e convidou Gleisi para comandar a Casa Civil. A senadora é esposa do ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, e vinha chamando a atenção da presidenta pela defesa do governo no Senado.
Segundo colaboradores, Palocci deixa o cargo convencido de que foi vítima de “fogo amigo” de aliados do governo, por causa da postura mais rígida que vinha adotando, com respaldo do Dilma, nas negociações com partidos aliados, especialmente PT e PMDB.
Durante mais de quatro meses, a dupla Dilma-Palocci resistiu ao máximo as tentativas dos partidos de emplacar indicados políticos para cargos públicos; cortou repasses de dinheiro para obras incluídas no orçamento por deputados e senadores; buscou contornar votações no Congresso, trabalhando mais com instrumentos exclusivos do Executivo, para não dar chance a aliado contrariado de reagir votando contra o governo.
O demissionário chefe da Casa Civil acreditava que, ao impor jogo duro ao Congresso, teria apoio dos veículos de comunicação, críticos à necessidade de um governo construir maioria parlamentar fazendo acordos de repartição de espaço com aliados.
Por isso, e por cultivar a idéia de que conseguia dialogar com bancos, empresários graúdos e outros setores distantes do PT, Palocci jamais imaginou que seria alvo de alguma denúncia dos veículos de comunicação. Muito menos que o conjunto da imprensa daria tanto espaço e destaque à revelação de que se tornara rico prestando consultoria para empresas privadas, informação que ele tem certeza de que foi passada ao jornal Folha de S. Paulo por um governista.
Não é a visão de Dilma, de acordo com um auxiliar próxima dela. A presidenta acredita que o disparo partiu de alguém ligado ao PSDB na secretaria de Finanças da prefeitura de São Paulo, comandada por Mauro Ricardo, ex-secretário do tucano José Serra. Dilma reconhece, no entanto, de acordo com o mesmo auxiliar, que a revelação serviu no mínimo para dar a aliados a chance de tirar proveito da situação.
Independentemente da origem da informação sobre o enriquecimento do ministro, o fato é que, desde que veio a público, Palocci começou a perder legitimidade política, o que é fatal para um estrategista e operador, como era o caso dele. Em nenhum momento, uma instância partidária de PT e PMDB, por exemplo, manifestou apoio ou confiança ao ministro. Houve apenas comentários individuais de políticos.
Nem a própria presidenta chegou a tanto. Na única vez em que se pronunciou até agora sobre o assunto, Dilma disse que Palocci daria todas as explicações necessárias, mas sem afirmar, com todas as letras, que confiava nele. Segundo um auxiliar da presidenta, foi uma fala calculada exatamente para deixar uma brecha para o caso de a saída de Palocci mostrar-se inevitável, como aconteceu.
Pouca afeita a conversas com parlamentares e partidos, atribuição que havia delegado a Palocci, Dilma foi obrigada, desde o início do caso, a participar de almoços e reuniões com políticos numa frequência incomum em cinco meses de mandato. No dia da demissão de Palocci, almoçou com senadores do PTB. Antes da posse de Gleisi, vai fazer o mesmo com a bancada do PR.
Teve ainda de conviver com o fantasma do antecessor e mentor, o ex-presidente Lula, que viajou a Brasília para se reunir com aliados e tentar ajudar a contornar o imbóglio Palocci de algum modo.
Por coincidência, uma destas reuniões de Lula foi um almoço na casa de Gleisi Hoffmann, com a bancada de senadores do PT. Naquela ocasião, segundo apurou Carta Maior, Gleisi comentou que era mais difícil defender Palocci do que os envolvidos no suposto "mensalão", já que o primeiro foi acusado de enriquecer pessoalmente, enquanto a suspeita sobre os demais diz respeito a financiamento de um projeto político do PT.
Em entrevista coletiva que deu depois de ser convidada por Dilma e ter aceito o cargo, a senadora disse considerar “uma pena perder o ministro Palocci neste governo, pelas qualidade que ele tem”.
Formada em direito, ex-secretária no Paraná e no Mato Grosso do Sul e ex-diretora de Itaipu, Gleisi representa uma opção “técnica” de Dilma para comandar a Casa Civil. Com isso, o órgão voltará a ter uma atuação mais voltada a coordenar ações de governo, como no tempo em que a própria Dilma exercia essa função no governo Lula, em vez do perfil mais político que adquirira na gestão de Palocci.
“Ela [a presidenta] disse que meu perfil é um perfil que se adequa ao que ela pretende agora na Casa Civil, que é o acompanhamento dos projetos do governo”, afirmou Gleisi.
Com o esvaziamento político da Casa Civil, o poder será repartido – ao menos por ora – entre a própria Dilma, que nos últimos tempos têm se dedicado mais a conversas e articulações; o vice-presidente, Michel Temer, presidente licenciado do PMDB com grande ascendência sobre o partido; e a Secretaria de Relações Institucionais, controlada hoje pelo PT.
Em nota à imprensa para informar que mandara carta de demissão à presidenta, Palocci reconheceu a fragilidade política em que estava, mesmo com a decisão da Procuradoria Geral da República de arquivar pedido de inquérito contra ele. No texto, afirma que “a continuidade do embate político”, que nem a decisão da Procuradoria nem a entrevista que deu para se explicar conseguiram conter, prejudicaria atribuições dele no governo.
Também em nota oficial, a Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República informou que Dilma aceitou a demissão, “lamenta a perda de tão importante colaborador” e convidou Gleisi para comandar a Casa Civil. A senadora é esposa do ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, e vinha chamando a atenção da presidenta pela defesa do governo no Senado.
Segundo colaboradores, Palocci deixa o cargo convencido de que foi vítima de “fogo amigo” de aliados do governo, por causa da postura mais rígida que vinha adotando, com respaldo do Dilma, nas negociações com partidos aliados, especialmente PT e PMDB.
Durante mais de quatro meses, a dupla Dilma-Palocci resistiu ao máximo as tentativas dos partidos de emplacar indicados políticos para cargos públicos; cortou repasses de dinheiro para obras incluídas no orçamento por deputados e senadores; buscou contornar votações no Congresso, trabalhando mais com instrumentos exclusivos do Executivo, para não dar chance a aliado contrariado de reagir votando contra o governo.
O demissionário chefe da Casa Civil acreditava que, ao impor jogo duro ao Congresso, teria apoio dos veículos de comunicação, críticos à necessidade de um governo construir maioria parlamentar fazendo acordos de repartição de espaço com aliados.
Por isso, e por cultivar a idéia de que conseguia dialogar com bancos, empresários graúdos e outros setores distantes do PT, Palocci jamais imaginou que seria alvo de alguma denúncia dos veículos de comunicação. Muito menos que o conjunto da imprensa daria tanto espaço e destaque à revelação de que se tornara rico prestando consultoria para empresas privadas, informação que ele tem certeza de que foi passada ao jornal Folha de S. Paulo por um governista.
Não é a visão de Dilma, de acordo com um auxiliar próxima dela. A presidenta acredita que o disparo partiu de alguém ligado ao PSDB na secretaria de Finanças da prefeitura de São Paulo, comandada por Mauro Ricardo, ex-secretário do tucano José Serra. Dilma reconhece, no entanto, de acordo com o mesmo auxiliar, que a revelação serviu no mínimo para dar a aliados a chance de tirar proveito da situação.
Independentemente da origem da informação sobre o enriquecimento do ministro, o fato é que, desde que veio a público, Palocci começou a perder legitimidade política, o que é fatal para um estrategista e operador, como era o caso dele. Em nenhum momento, uma instância partidária de PT e PMDB, por exemplo, manifestou apoio ou confiança ao ministro. Houve apenas comentários individuais de políticos.
Nem a própria presidenta chegou a tanto. Na única vez em que se pronunciou até agora sobre o assunto, Dilma disse que Palocci daria todas as explicações necessárias, mas sem afirmar, com todas as letras, que confiava nele. Segundo um auxiliar da presidenta, foi uma fala calculada exatamente para deixar uma brecha para o caso de a saída de Palocci mostrar-se inevitável, como aconteceu.
Pouca afeita a conversas com parlamentares e partidos, atribuição que havia delegado a Palocci, Dilma foi obrigada, desde o início do caso, a participar de almoços e reuniões com políticos numa frequência incomum em cinco meses de mandato. No dia da demissão de Palocci, almoçou com senadores do PTB. Antes da posse de Gleisi, vai fazer o mesmo com a bancada do PR.
Teve ainda de conviver com o fantasma do antecessor e mentor, o ex-presidente Lula, que viajou a Brasília para se reunir com aliados e tentar ajudar a contornar o imbóglio Palocci de algum modo.
Por coincidência, uma destas reuniões de Lula foi um almoço na casa de Gleisi Hoffmann, com a bancada de senadores do PT. Naquela ocasião, segundo apurou Carta Maior, Gleisi comentou que era mais difícil defender Palocci do que os envolvidos no suposto "mensalão", já que o primeiro foi acusado de enriquecer pessoalmente, enquanto a suspeita sobre os demais diz respeito a financiamento de um projeto político do PT.
Em entrevista coletiva que deu depois de ser convidada por Dilma e ter aceito o cargo, a senadora disse considerar “uma pena perder o ministro Palocci neste governo, pelas qualidade que ele tem”.
Formada em direito, ex-secretária no Paraná e no Mato Grosso do Sul e ex-diretora de Itaipu, Gleisi representa uma opção “técnica” de Dilma para comandar a Casa Civil. Com isso, o órgão voltará a ter uma atuação mais voltada a coordenar ações de governo, como no tempo em que a própria Dilma exercia essa função no governo Lula, em vez do perfil mais político que adquirira na gestão de Palocci.
“Ela [a presidenta] disse que meu perfil é um perfil que se adequa ao que ela pretende agora na Casa Civil, que é o acompanhamento dos projetos do governo”, afirmou Gleisi.
Com o esvaziamento político da Casa Civil, o poder será repartido – ao menos por ora – entre a própria Dilma, que nos últimos tempos têm se dedicado mais a conversas e articulações; o vice-presidente, Michel Temer, presidente licenciado do PMDB com grande ascendência sobre o partido; e a Secretaria de Relações Institucionais, controlada hoje pelo PT.
Fotos: Waldemir Barreto/Agência Senado
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