FERREIRA FERNANDES – DIÁRIO DE NOTÍCIAS, opinião
Gostei quando Passos Coelho voou para Bruxelas em económica. Não gostei quando ele disse que não foi o seu gabinete que tornou pública essa austeridade. Se não foram os seus assessores que sopraram a notícia aos jornais, deviam ter sido.
Eu não quero que, por castigo, o meu primeiro-ministro vá trabalhar de pernas encolhidas, sem uma refeição razoável, se precisar dela, sem espaço para ler os jornais e abrir o computador. Se ele troca a comodidade eficaz da executiva pela austeridade penosa da económica, quero que o faça por uma boa causa. E essa boa causa, a única que vejo, é que o País conheça a sua vontade de dar exemplo. À gente a quem se está a pedir sacrifícios, sabe bem ouvir que os seus governantes não gastam o desnecessário. Andar de avião em económica nas viagens na Europa (duas ou três horas de voo) não é mortificação nenhuma, é só um pequeno sacrifício.
Há poucos meses, todos os deputados europeus do PSD e alguns do PS votaram contra trocar as suas viagens em executiva por económica. Soou-lhes talvez a demagogia. Estavam certos e errados. Era demagogia, mas era para ser praticada: etimologicamente demagogia quer dizer "arte de dirigir o povo". E ter essa arte é, hoje, uma condição necessária (embora não suficiente) para governar bem. Passos Coelho não nos resolve nenhum problema ao viajar em económica. Mas tenta resolver um problema seu: convencer-nos. Mal seria que não o tentasse.
Sem comentários:
Enviar um comentário