PL – LUSA
Lisboa, 19 Jun (Lusa) - A Avenida da Liberdade provou hoje servir mais do que para o trânsito passar e os peões passearem. Sábado foi horta e palco de concerto, hoje serviu para reclamar uma "democracia verdadeira" em português com ou sem sotaque estrangeiro.
A colaborar com o sociólogo Boaventura de Sousa Santos, na Universidade de Coimbra, o italiano Giovanni juntou-se a mais uma manifestação do movimento "a rua é nossa" com dois 'camisolas': a de investigador e a de cidadão.
"Interesso-me muito sobre movimentos populares e de renovação da democracia", relata em português com sotaque italiano o professor que dirige um curso de doutoramento "democracia no século XXI".
Como "cidadão", Giovanni "está muito interessado em ver um Portugal que tem outras coisas além dos partidos tradicionais".
Ao seu lado, Ricardo conta que já vive em Lisboa há 16 anos e marcou presença no percurso entre a Avenida da Liberdade e a Praça do Rossio como "cidadão".
"Portugal precisa de um movimento que chegue dos cidadãos e que haja outro tipo de envolvimento das pessoas comuns neste tipo de temas", acrescentou já num português 'menos' italiano.
Helena também é italiana, mas a morar em Barcelona e, por isso, é num espanhol perfeito que explica ter "tirado umas horas às suas férias" para participar na manifestação.
Participante no levantamento popular que dura há várias semanas em Espanha, Helena fez coincidir as férias para participar noutras concentrações que têm sido definidas como de cidadania. Admitindo que em Barcelona, os levantamentos têm mais pessoas e "mais participação", a ativista lembrou que do "pequeno se chega ao grande".
E as várias dezenas de pessoas que hoje estiveram na rua são "super-importantes" para mostrar aos outros o "que se está a passar".
"É uma crise que afeta Espanha, Irlanda, Grécia, Islândia e Itália e as pessoas têm de despertar, abrir os olhos e ver o que se está a passar e lutar contra o que se está a passar", defendeu.
Turista, mas também simpatizante do "direito da manifestação" declarou-se a francesa Nathalie, que chegou hoje de Paris.
"Penso que é importante a manifestação porque o povo português tem problemas. É importante que se manifestem e têm esse direito", comentou.
Tomou conhecimento da manifestação quando chegou a Lisboa, mas já sabia através da comunicação social em França das "condições duras em Portugal".
Fernando tem pai português e nacionalidade espanhola. Ainda trabalhou em Portugal como rececionista durante três anos, mas os 600 euros mensais fez com que se decidisse a passar a fronteira.
Num português de sotaque espanhol, contou como "teve de ir para lá" e agora ganha mais do que o "dobro".
"Com 600 euros eu tinha de viver em casa dos meus pais e em Espanha por 1.500 euros sou independente e eu não sei quem tem mais coragem: se ir para fora ou ficar no seu país em más condições", disse.
A sua decisão de sair para si foi a mais "fácil". "Difícil é ficar em casa dos pais e viver miseravelmente".
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