terça-feira, 28 de junho de 2011

OS TRISTES E OS CHATOS





Há dois tipos de pessoas no mundo, impagáveis, mas que nós pagamos para ver. São os tristes e os chatos. É possível reconhecê-los a longa distância, pois são figuras inconfundíveis no cenário do cotidiano. Circulam aqui e ali, enchendo o mundo de depressão e chatice, respectivamente.

O triste é até engraçado. Ele consegue obscurecer a luz do dia com sua tristeza e não sorri nem que a vaca tussa. Podem contar a melhor piada do momento para ele, mas a reação é pífia: um esboço de sorriso entre amarelo e vermelho. É que ele fica vermelho de raiva de ter de sorrir, ou quase rir, pois adora viver mergulhado em sua tristeza.

Como vai, cara? – e o triste responde: “Mal…”. Como vai, cara? E o chato começa a responder. Aí, quem mandou perguntar… aguente.

O chato é um tipo típico de todas as rodas. Aliás, falando em roda, é fácil observar. O chato chega e a roda se desfaz. Ninguém o suporta. Então, este é o termômetro para cada um de nós. Será que sou muito chato? Ou chata? Bom, se eu chego e a turma se espalha… hummmm… Mau sinal. Mas se eu chego e todo mundo fica firme ali, não sou chata; de repente, sou até popular, interessante, inteligente e sensível. Chega, né? Senão a gente vira chata.

Bom, o triste é de uma tristeza infinita e nada o alegra. Se ele ganhar na Loteria, vai dizer: “Ai, por que isso foi acontecer comigo, e agora, o que vou fazer com tanto dinheiro? Como administrar tudo isso?”. Esta criatura das trevas empesteia o ar, o ambiente, a fauna e a flora. Ela é altamente contagiosa e devemos nos precaver contra este tipo que ronda todas as portas e lugares. Tristeza pega.

Para o triste, tipo desanimado, nada vai dar certo. Ele tem o DNA do fracasso. Aliás, tudo já começou errado e não tem nenhuma chance de melhorar. Para qualquer iniciativa, ele responde tristemente: “Desista…”. Ninguém quer desistir, tá todo mundo animado e disposto; mas o triste derrotista não deixa ninguém prosseguir. Ele consegue deter qualquer plano ou projeto. E depois diz: “Se não fosse eu, aquilo ia continuar, imagine”.

O triste acha que qualquer novo vírus vai virar uma pandemia e o mundo vai acabar; o chato acha que ele tem uma saúde tão perfeita e é tão saudável, que até usarão o sangue dele para fazer uma vacina mundial. Ele se acha mesmo a salvação da lavoura. Ele é o máximo, só ele conhece tudo e ninguém ainda viu nada. Só o que ele tem presta, as coisas dos outros são um lixo total. Ele é teimoso feito uma mula e não ouve nem o papa em pessoa.

O mais engraçado é ver um triste e um chato juntos. Misericórdia! Preste atenção. Você não quer sair de perto por nada, porque a conversa é de uma finura daquelas. O triste olha para o vácuo e suspira: “Meu Deus do céu!…”. O chato pergunta: “Mas você ainda acredita em Deus?” – e começa uma discussão teológica com ele mesmo, pregando para os transeuntes da rua, enquanto o triste olha para o alto, desconsolado, mudo, procurando o Criador de todas as coisas. E o chato fala, fala, fala… Até os cachorros famintos e farejantes se desviam dele. Au, au, au.

Então, tu não te lembras da casinha pequenina, onde o nosso amor nasceu? E por aí vai. A gente precisa ficar de plantão conosco mesmos. Eterna vigilância. Fazer uma auto-análise. Ver se não andamos meio tristinhos e desanimados demais; ou se não estaríamos sendo um pouco chatinhos com certas coisas. E tomar tento.

*Marisa Bueloni mora em Piracicaba, SP. Formada em Pedagogia e Orientação Educacional – marisabueloni@ig.com.br

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