ANTÓNIO VERÍSSIMO
“NOVO” GOVERNO EM PORTUGAL – CARAS “NOVAS” MAS A PANDILHA É A MESMA
É costume desejar felicidades por algo ou alguém que começa de novo. Em Portugal o governo saído das eleições de 05 de Junho toma hoje posse. Para que não se verifiquem desmaios, como já tem acontecido em outras posses de governo no tradicional Palácio da Ajuda, foram instalados montanhas de aparelhos de ar condicionado. Há pouco alguém disse que aquilo mais parece o Pólo Norte. Mas assim é bom, para que Cavaco não desmaie ao dar posse a “novas” caras da mesma pandilha. Principalmente que não desmaie por dar posse a um comprovado ministro aldrabão, Paulo Portas.
É isso mesmo que nos recorda o general Pezarat Correia em artigo que foi censurado pelo Diário de Notícia mas que afinal acaba por vir a ser conhecido de muitos mais portugueses através deste veículo a que chamam internete, que não se compadece com os interesses censórios instalados naquele jornal e nos vários canais de informação da Controlinveste, proprietária de imensa comunicação social censurada e sensaborona.
Para Cavaco Silva tanto faz ministro aldrabão como não. Na maior das canduras ele nem vai desmaiar graças ao Pólo Norte no Palácio e até vai tecer os desejos das maiores venturas àqueles que nos vão proporcionar fome e porrada. Mais ministro aldrabão, menos ministro aldrabão, para Cavaco tanto faz. Cumpre-se o sonho: Um presidente, um governo, uma maioria parlamentar. É isso que importa ao presidente Cavaco. Ele também não conseguiu esclarecer os portugueses sobre o seu envolvimento ou não nas falcatruas bancárias, nem da SISA que devia ter pago mas não pagou por investimento numa casa na Coelha, no Algarve, como se percebeu pelo divulgado até por ele próprio, que para se “limpar” se “sujou mais”. Foi mais ou menos essa a expressão usada por comentadores num programa da TSF – Governo Sombra?
Seja como for, que ninguém estranhe por um comprovado aldrabão ser hoje empossado ministro. Tanta vez que isso tem acontecido! Algumas caras podem ser novas mas a pandilha continua a ser a mesma. Fica a prosa de Pezarat Correia, que nunca será demais repescar, para que não esqueçamos a censura e o descaramento dos que se apoderam dos poderes para se servirem.
PAULO PORTAS MINISTRO?
Ana Gomes provocou uma tempestade mediática com as suas declarações sobre Paulo Portas. Considero muito Ana Gomes, uma mulher de causas, frontal, corajosa, diplomata com muito relevantes serviços prestados a Portugal e à Humanidade. Confesso que me escapa alguma da sua argumentação contra Paulo Portas e não alcanço a invocação do exemplo de Strauss-Kahn. Mas estou com ela na sua conclusão: Paulo Portas não deve ser ministro na República Portuguesa. Partilho inteiramente a conclusão ainda que através de diferentes premissas.
Paulo Portas, enquanto ministro da Defesa Nacional de anterior governo, mentiu deliberadamente aos portugueses sobre a existência de armas de destruição maciça no Iraque, que serviram de pretexto para a guerra de agressão anglo-americana desencadeada em 2003. Sublinho o deliberadamente porque, não há muito tempo, num frente-a-frente televisivo, salvo erro na SICNotícias, a deputada do CDS Teresa Caeiro mostrou-se muito ofendida por Alfredo Barroso se ter referido a este caso exactamente nesses termos. A verdade é que Paulo Portas, regressado de uma visita de Estado aos EUA, declarou à comunicação social que “vira provas insofismáveis da existência de armas de destruição maciça no Iraque” (cito de cor mas as palavras foram muito aproximadamente estas). Ele não afirmou que lhe tinham dito que essas provas existiam. Não. Garantiu que vira as provas. Ora, como as armas não existiam logo as provas também não, Portas mentiu deliberadamente. E mentiu com dolo, visto que a mentira visava justificar o envolvimento de Portugal naquela guerra perversa e que se traduziu num desastre estratégico. A tese de que afinal Portas foi enganado não colhe. É a segunda mentira. Portas não foi enganado, enganou. Um político que usa assim, fraudulentamente, o seu cargo de Estado, não deve voltar a ser ministro. Mas já não é a primeira vez que esgrimo argumentos pelo seu impedimento para funções ministeriais. Em 12 de Abril de 2002 publiquei um artigo no Diário de Notícias em que denunciava o insulto de Paulo Portas à Instituição Militar, quando classificou a morte em combate de Jonas Savimbi como um “assassinato”. Note-se que a UNITA assumiu claramente – e como tal fazendo o elogio do seu líder –, a sua morte
Um homem que, com tanta leviandade, mente e aborda assuntos fundamentais de Estado, carece de dimensão ética para ser ministro da República. Lamentavelmente já o foi uma vez. Se voltar a sê-lo, como cidadão sentir-me-ei ofendido. Como militar participante no 25 de Abril, acto fundador do regime democrático vigente, sentir-me-ei traído.
Junho de 2011-06-13
PEDRO DE PEZARAT CORREIA
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