segunda-feira, 6 de junho de 2011

A PRÁTICA DA GENEROSIDADE HUMANA





“O futuro da democracia depende da concretização do individualismo, que tem sido a meta ideológica do pensamento moderno desde o Renascimento. A vitória da liberdade só será exeqüível, se a democracia evoluir para uma sociedade em que o indivíduo, seu crescimento e sua felicidade sejam a meta e a finalidade da cultura, em que a vida não careça de nenhuma justificativa dada pelo sucesso ou qualquer outra coisa, em que o indivíduo não seja subordinado nem manipulado por qualquer força alheia a ele, quer seja o Estado ou a máquina econômica; por fim, uma sociedade em que a consciência e os ideais do homem não sejam a interiorização de exigências externas, mas sejam realmente dele e exprimem os objetivos oriundos da peculiaridade de seu próprio ego”. (Autor: Erich Fromm – Livro: O Medo à Liberdade – Zahar Editores – ano l983).

Todos nós somos individualidades, valorizamos jeitos de ser diferentes uns dos outros, e a vida que nos foi dada por Deus nos contemplou com a tendência intrínseca para crescer, para expandir e para expressar nossas potencialidades. Sentimos um chamamento interior para contribuirmos com algo construtivo para nós, para os outros e para o mundo. Os arquivos da História da Humanidade revelam crueldade e destruição, mas a despeito de tudo, os homens procuram manter e desenvolver as qualidades de dignidade, coragem e ética, que encontramos em inúmeros indivíduos de nossos dias.

A história da humanidade é a história crescente da responsabilidade pela própria individuação, que reforça a busca incessante da liberdade. Temos certeza de que somos despertados para renovar valores existenciais. Quando sentimos esta força pulsar dentro de nós, tornamo-nos felizes por descobrir respostas, fato que nos deixa conscientes do nosso caminho original, só nosso que não é copiado, nem reproduzido, mas que se originou de nossa própria reflexão. A liberdade de podermos nos soltar de velhas maneiras de pensar, de rirmos de nossas tristezas, de acentuarmos a renovação positiva em nossa vida só nos traz alegrias.

Somos dotados de competência para edificar nossos próprios projetos pessoais, culturais, econômicos e sociais. É bem possível que a nossa emancipação da cultura vigente (consumista), permita surgirem idéias capazes de favorecer novas propostas de crescimento social e cultural. É de se perguntar, num diálogo muito íntimo, do eu para o próprio eu: – Qual o motivo do desaparecimento do mundo das virtudes como a hospitalidade e a magnanimidade?…

Sempre pergunto. – Afinal quem somos nós? – Sinto extrema necessidade de repensar tudo. Sempre me encanto na beleza do planeta!… Sempre agradeço… Deus pensou em tudo… Fazendo uma leitura retrospectiva, vimos que foram cultuados, por milênios, a dedicação às práticas humanísticas civilizadas. Fazendo uma leitura contextualizada, noto muito vivos estes dogmas iluminados praticados por pessoas, que não aderiram a este presente retrocesso humanístico, e continuam enriquecendo o seu imaginário social e espiritual. Muitos de nós experimentamos momentos em que parece haver uma união de tudo o que nos agrada. Num instante assim, somos felizes e gostaríamos que durasse para sempre.

Essas pessoas maravilhosas de alma iluminada praticam os atos de grandeza de coração, aconselhando e fazendo orações para a humanidade despertar desta cegueira global. Essas pessoas praticam atos de bom acolhimento para as pessoas incondicionalmente, procurando ajudar. Esforçam-se por gerar uma corrente de motivação intensa no auxílio mútuo. Estamos no mundo por desígnio de Deus.

Representamos a fonte básica de valores para a nossa família, para a nossa cidade, para o nosso país e para o mundo inteiro, não só em termos de planejamento na vivência de sustentabilidade econômica, como também em termos de visão do bem-estar humano. Se compreendermos a importância de objetivos, de práticas, que favoreçam a propagação das normas humanísticas, que seriam incorporadas pelas pessoas, que ficariam inteligentes e saudáveis se fosse eliminada a violência, que hoje tomou conta do mundo. O sistema cultural seria orientado para a vida plena. Desapareceria o modelo de ser passivo, entediado, insensível, que desenvolve sintomas patológicos como ansiedade, depressão, despersonalização, indiferença à vida, indiferença à violência…

É um grande desafio para todos nós praticar a generosidade. Somos obrigados a ajudar, nem que seja com um mínimo, pois este gesto humano nos dará a felicidade espiritual que tanto almejamos. Unidos pela prática da generosidade, rezando com fé pelo bem de todas as pessoas, melhoraremos a qualidade de idéias e pensamentos em nosso planeta. É preciso lembrar que nossa atuação é única e essencial para os que nos cercam.

Podemos falar, e falar, de todas as filosofias ao longo de toda a nossa vida e não desenvolver nada em nossos corações. Nada substitui a nossa bondade com os outros. Seja qual for a nossa crença, é possível expressarmos a dimensão espiritual de nossa vida de maneira simples. Cada pensamento de benevolência, cada impulso de brandura fortalece a nossa alma e inunda a nossa vida com a luz dos sentimentos.

“Não menos do que 1.2 bilhões de pessoas, ou seja, um em cada cinco habitantes do planeta deve contentar-se com menos de um dólar por dia. Essas pessoas praticamente não têm acesso aos mercados, portanto, nenhum acesso a bens e serviços, os quais seriam propriamente necessários à condução de uma vida satisfatória e humanamente digna! Devido à pobreza, todos os anos morrem prematuramente, 18 milhões de pessoas – 50 mil por dia. Isso representa um terço de todos os casos de morte em seu conjunto”. (Autor: Thomas Kesselring – Livro: Ética, Política e Desenvolvimento Humano, A Justiça na Era da Globalização – Editora Educs – Universidade de Caxias do sul – 2007).

O fato de alguns serem ricos e outros serem pobres acompanha a história da humanidade. O contraste chocante entre o luxo suntuoso e a miserabilidade nos propõe uma profunda reflexão. O grande desafio é criar um programa, nem que seja com um mínimo de sustentabilidade, porque um relativo bem-estar e uma mínima qualidade de vida são essenciais à paz social.

Uma razoável qualidade de vida econômica e social depende de um bem pensado sistema educacional, de boas propostas de relações sociais justas, e principalmente de instituições políticas confiáveis. Uma proposta coerente seria o debate em mediação construtiva, das melhorias estruturais de solidariedade e não unicamente materiais. Há milênios já se sabe, que quanto mais alto o padrão de vida de uma sociedade, menos sustentável é sua forma de vida.

É mentalmente sadio afastar do ser humano tudo o que o ameaça, a guerra civil, a insegurança, o terrorismo e a criminalidade violenta. Talvez a troca do modelo da ditadura do desenvolvimento econômico em prol do desenvolvimento humano desse melhores resultados. Cada indivíduo é único e precioso, e lembrar sempre isso eleva o nosso espírito, e assim tornamo-nos competentes em conjunto com nossos semelhantes em respeito mútuo… É possível fazer de nosso planeta um lugar abençoado por Deus…

*Lúcia Regina Diniz Trindade é palestrante, graduada em Literatura e Filosofia e mora em Porto Alegre, Rio Grande do Sul.

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