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Lisboa, 08 jun (Lusa) -- O chefe de Estado do Sudão, Omar al-Bashir, tem de levar a cabo "reformas políticas importantes", caso contrário poderá enfrentar o "mesmo destino" dos depostos presidentes tunisino e egípcio, Ben Ali e Hosni Mubarak, advertiu em Lisboa o multimilionário sudanês Mo Ibrahim.
Em entrevista à Agência Lusa, à margem da reunião anual do Banco Africano de Desenvolvimento (BAD), que decorre até sexta-feira em Lisboa, o presidente da Fundação Mo Ibrahim considerou que al-Bashir também poderá ser deposto por uma revolta popular se não levar a cabo "reformas políticas importantes" e garantir uma "maior abertura" do seu governo.
"Omar al-Bashir não é mais forte do que [o líder líbio Muammar] Kadhafi, ou mais poderoso do que [o presidente deposto do Egito] Hosni Mubarak, e também não dispõe de melhor segurança do que Bashar al-Assad", presidente da Síria, que enfrenta uma forte vaga de contestação popular no seu país, salientou.
Torna-se por isso "urgente" que o chefe de Estado sudanês "abra caminho para essas reformas" e que "finalmente perceba que o Sudão é um país de múltiplas etnias, que devem ser respeitadas e levadas em conta", vincou o presidente da Fundação Mo Ibrahim, criada em 2006, e que anualmente divulga um índice de boa governação.
"O Sudão está num estado muito mau, o país precisa urgentemente de reformas, essa é a questão central. O 'buisness as usual' não pode continuar, um único partido político não pode continuar a dominar todo o Estado", frisou o multimilionário sudanês.
É também necessário que Omar al-Bashir, que é procurado pelo Tribunal Penal Internacional (TPI) por crimes de guerra na região do Darfur, "faça uma limpeza no seu governo para acabar com a corrupção existente", advogou.
Mo Ibrahim lamentou, por outro lado, a instabilidade que, desde maio, assola a cidade de Abyei, situada entre o norte e o sul do Sudão, e onde as duas partes têm vindo a travar violentos combates.
Estes confrontos intensificaram-se após o referendo de janeiro ter ditado a independência do Sul do Sudão, que deverá tornar-se um Estado independente a 09 de julho.
"Essa instabilidade também está relacionada com o tipo de governo que existe. Enquanto no poder estiverem governos que não são representativos, as pessoas são capazes de fazer todo o tipo de loucuras", lamentou.
Mesmo assim, Ibrahim disse acreditar que apesar da escalada da violência "nenhuma das duas partes deverá optar pela guerra".
"Se não se for inclusivo, se não se abraçar todos os sudaneses, nunca se poderá ter um governo saudável e estável, que seja capaz de levar o país para a frente. Dessa maneira, apenas se alimenta uma espiral de violência, que acabará com toda a esperança", considerou.
*Foto em Lusa
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