quarta-feira, 6 de julho de 2011

Argentina: Bariloche quer fazer uma praia com cinzas vulcânicas que caíram na cidade


Forrada de pedrinhas e cascalhos, as margens do lago Nahuel Huapi podem ganhar uma praia com as cinzas do vulcão - Aldo Jofre Osorio/Opera Mundi


Blocos de construção, fertilizante para o solo, cobertura das ruas quando houver neve para que os carros não patinem e até mesmo uma praia. Estes serão os possíveis destinos dados às toneladas de areia e cinzas vulcânicas que caíram sobre a cidade de San Carlos de Bariloche, no sul da Argentina, durante as duas semanas posteriores à erupção do vulcão chileno Puyehue, no início do mês.

Acostumados a uma paisagem de pedras e rochas à beira do lago Nahuel Huapi, reservatório de água de origem glaciar de mais de 500 km2 de superfície, localizado na frente de Bariloche, alguns moradores da cidade estão animados com a possibilidade de, finalmente, ter uma praia de areia. “Essa será a única coisa boa da chuva de cinzas, para alguma coisa temos que aproveitá-las”, afirmou ao Opera Mundi o taxista Luis Almonacid.

A decisão de depositar os sedimentos nas margens do lago para cobrir as pedras e ter uma praia de areia foi tomada pelos próprios participantes do mutirão organizado na última segunda-feira (20/06), quando mais de mil moradores de Bariloche limparam as ruas cobertas de cinzas. As toneladas de material vulcânico também foram descarregadas em uma pedreira a cerca de 40 minutos da cidade e em um depósito municipal. 

“Descarregar na praia foi uma decisão espontânea, tomada naquele momento, porque o galpão da prefeitura ficou lotado e pensamos em depositar sobre as pedras de dois trechos da costa, porque não temos praia de areia”, contou o dono de um dos veículos que participou do mutirão, Gregorio Martínez. “Só espero que o vento não leve toda a cinza de volta para a cidade”, disse ele, que transportou cerca de 20 caminhões cheios de material vulcânico a diferentes depósitos.

“Foi um erro”, afirmou um funcionário da prefeitura sobre a decisão de despejar os sedimentos na praia, ressaltando a possibilidade de que o material acabe levados pelo vento ao lago, já parcialmente coberto por camadas de cinzas vulcânicas, que em algumas áreas chegam a 20 cm de profundidade. Segundo ele, o prefeito da cidade “ficou louco” quando notificado do destino de parte dos caminhões que transportavam o material.

Apesar da resistência inicial das autoridades, a ideia vem ganhando adeptos. O secretário de Obras e Serviços Públicos da cidade, Hugo Pike, confirma que a decisão de depositar o material na costa foi errônea, mas acredita que o material poderá ser utilizado para cobrir as pedras e formar uma praia de areia. “Estamos esperando estudos técnicos que solicitamos a diferentes universidades e centros de investigação para determinar que uso poderemos dar aos sedimentos”, explicou ao Opera Mundi.

Segundo ele, se as análises químicas determinarem que o uso do material vulcânico não é viável, este será retirado da costa. Caso contrário, prevê que a área de pedras cobertas pelas cinzas será de cerca de 200 metros: “Temos poucas praias na cidade e não se pode aproveitá-las porque as rochas e pedras pequenas machucam o pé. Poderemos utilizar este material para que as pessoas possam ir tomar um mate, um café ou praticar esportes de praia, como vôlei e futebol”, disse.

O secretário afirma ainda que os sedimentos vulcânicos depositados no local não são motivo de preocupação. “O lago já está coberto de cinza e o depósito foi feito em um lugar retirado. Além disso, o nível da água não aumenta tanto, o que dificulta que a areia seja arrastada. Como o vento sopra do lago para a cidade na maioria do ano e há um muro que divide a cidade da costa, esta área está protegida”, explicou.

Outro meio de aproveitar o material, segundo ele, é para fazer blocos de construção. Por esta razão, grande parte da cinza vulcânica foi depositada na pedreira da cidade. “Sabemos que isso pode ser feito, mas estamos esperando o resultado de estudos que determinarão as porções corretas de cimento e de areia vulcânica que devem ser utilizadas. E em vez de levantar paredes com tijolos, utilizaríamos estes blocos”, disse Pike.

Houve, no entanto, quem não mostrou preocupação em esperar estudos e já aproveitou o material expelido pelo vulcão. Segundo a imprensa local, um grupo de bombeiros admitiu já ter usado os sedimentos que se acumularam nas ruas da cidade para terminar o muro da casa de um deles. “Recolhemos areia das casas da vizinhança e juntamos as bolsas no quartel. Um de nós, que também é pedreiro, nos ensinou como utilizá-la”, comentaram.


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