terça-feira, 26 de julho de 2011

Eleições presidenciais em São Tomé: PRIMEIRAS OBSERVAÇÕES




PAULO GORJÃO* – i Online, opinião

Na segunda volta, os votos vão decidir se é Pinto da Costa ou Evaristo Carvalho o futuro presidente. Trovoada, o primeiro-ministro, vai torcer muito pela vitória da segundo

Tal como se previa, as eleições presidenciais em São Tomé e Príncipe não ficaram resolvidas no passado dia 17 de Julho, pelo que terá lugar uma segunda volta, no próximo dia 7 de Agosto. Em confronto estarão Manuel Pinto da Costa e Evaristo Carvalho, os dois candidatos mais votados na primeira volta. Não sendo ainda possível fazer uma leitura global do processo eleitoral e das suas implicações, em todo o caso há algumas observações que se podem fazer desde já a partir dos resultados da primeira ronda.

Em primeiro lugar, destaque para a derrota estrondosa de Aurélio Martins, líder do Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe/Partido Social-Democrata (MLSTP/PSD). O líder do maior partido da oposição não conseguiu melhor que um sétimo lugar, num total de dez candidatos. Eleito em Janeiro de 2011 para a liderança do MLSTP/PSD, Aurélio Martins foi incapaz de agregar minimamente o eleitorado do seu partido. A dimensão da sua derrota constitui uma enorme humilhação pessoal e a sua liderança do MLSTP/PSD entrou seguramente em contagem decrescente.

Uma segunda nota para salientar o resultado de Delfim Neves, vice-presidente do Partido da Convergência Democrática (PCD). Excluído inicialmente pelo Tribunal Constitucional, o candidato acabou por ser readmitido pelo Supremo Tribunal de Justiça, tendo ficado num honroso terceiro lugar. O resultado de Delfim Neves confirma o bom momento do PCD, aliás em linha com o seu regresso ao parlamento nas eleições legislativas de Agosto 2010.

Em terceiro lugar, refira-se que a Acção Democrática Independente (ADI) cumpriu os objectivos mínimos, ao colocar Evaristo Carvalho na segunda volta da disputa presidencial. A eleição de Evaristo Carvalho é crucial do ponto de vista do primeiro-ministro, Patrice Trovoada.

Por último, mas não em importância, destaque para o bom resultado de Manuel Pinto da Costa, líder histórico do MLSTP e antigo presidente de São Tomé e Príncipe, entre 1975 e 1991. Depois das tentativas fracassadas de regressar ao Palácio Cor-de-Rosa, em 1996 e 2001, será desta vez que Pinto da Costa consegue voltar à presidência da República através do sufrágio universal, directo e secreto?

O vento parece soprar a seu favor. Tendo alcançado 35% dos votos na primeira volta, à partida Pinto da Costa parece ser o candidato em melhores condições para recolher os votos que se dispersaram pelas restantes candidaturas, algumas delas de outros candidatos oriundos do MLSTP/PSD. Todavia, a sua vitória não está garantida. Patrice Trovoada tudo fará para ajudar a eleger Evaristo Carvalho, consciente que está do risco que a eleição de Pinto da Costa representa para a sua própria continuidade no cargo de primeiro-ministro.

Nos próximos dias, Evaristo Carvalho repetirá vezes sem conta que a eleição de Pinto da Costa constitui uma grave ameaça à estabilidade política, em parte devido ao papel interventivo que o antigo presidente da República assumirá a partir do Palácio Cor--de-Rosa.

Uma última nota para as acusações recorrentes de "banho", i. e. de compra de votos. Trata-se de um fenómeno cíclico em São Tomé, cujo impacto é difícil de avaliar. Em todo o caso, a Missão de Observação Eleitoral da CPLP não teve dúvidas em considerar as eleições credíveis, livres e justas.

*Director do Instituto Português de Relações Internacionais e Segurança (IPRIS)

*Escreve à terça-feira

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