quinta-feira, 21 de julho de 2011

ESTUDO APONTA QUE SALÁRIOS NA ALEMANHA DIMINUÍRAM NA ÚLTIMA DÉCADA




DEUTSCHE WELLE

Quem ganhava pouco há dez anos recebe hoje ainda menos dinheiro. Pesquisa mostra a contradição vivida na Alemanha: apesar de a economia estar indo bem, a média salarial não acompanhou essa evolução.

A economia alemã cresce, mas os salários diminuem. É esse o paradoxo apontado no estudo do Instituto Alemão de Pesquisa Econômica (DIW), que mergulhou no desenvolvimento dos salários do país nos últimos dez anos. Apesar de a economia alemã ter apresentado bons números desde a virada do milênio, os trabalhadores quase não foram beneficiados com esse cenário positivo, relata o estudo.

De fato, o contrário aconteceu: entre a camada de baixa renda, o salário caiu drasticamente neste período. "Uma pessoa de renda média, por exemplo, independente da ocupação que tem na Alemanha, ganhava um salário líquido de cerca de 1.300 euros em 2000. Em 2010, essa quantia caiu para 1.200", exemplifica Markus Grabka, pesquisador do DIW.

Enquanto o salário líquido de todos os trabalhadores caiu em média 2,5% desde 2000 na Alemanha, entre as pessoas que recebem menor remuneração essa queda foi de até 22%. E com o aumento da inflação na zona do euro, o poder de compra dessa faixa da população ficará ainda menor.

Desigualdade

O estudo considerou uma pesquisa de acompanhamento de longo prazo. Desde 1984, o instituto questionou cerca de 22 mil pessoas sobre suas condições de vida e salários. O chamado Painel Sócio-Econômico (SOEP) mostrou que os mais afetados foram os trabalhadores que recebem a soma líquida entre 700 e 1.300 euros.

Para Wilhelm Adamy, sindicalista e perito em mercado de trabalho, o resultado mostra uma tendência fatal. "Quando se compara com o cenário internacional, esse desenvolvimento é muito preocupante. Porque em nenhum outro país industrial a desigualdade de renda e a pobreza aumentaram tanto na última década como na Alemanha", comenta.

Motivos para a queda

Segundo Grabka, diversos motivos contribuíram para a diminuição dos salários entre a população de menor renda. O plano de reforma do mercado de trabalho chamado de Hartz IV, introduzido em meados da década passada, provocou um dramático crescimento da camada populacional que recebe baixos salários na Alemanha.

Dados publicados pelo Departamento Federal de Estatísticas da Alemanha (Destatis), nesta terça-feira (19/07), confirmam essa tendência: entre 2008 e 2010, o maior número de vagas criadas na Alemanha foi de empregos temporários ou terceirizados.

Outro motivo, acredita Grabka, é o aumento da participação feminina no mercado de trabalho, que, segundo as estatísticas, ainda recebem menos do que os homens. Além disso, os sindicatos teriam evitado a exigência de melhores salários, intimidados pelo temor do desemprego em massa, afirmou o especialista.

O resultado é que, em 2010, o número de trabalhadores de baixa renda alcançou o nível recorde de 7 milhões. Segundo Grabka, um entre cada sete empregados na Alemanha, num universo de 40 milhões de trabalhadores, recebe um salário considerado baixo.

Salário-mínimo?

Para muitos economistas, essa é a prova de que a flexibilização do mercado de trabalho alemão, tão exigida ao longo dos anos, e a luta contra o desemprego em massa foram bem-sucedidas.

Sindicatos e partidos da oposição alegam o contrário diante de tais números, e exigem em tom mais alto um salário-mínimo mais abrangente. Até o momento, algumas áreas adotam um pagamento mínimo como, por exemplo, empresas de segurança, serviços de limpeza em prédios e serviços de assistência a idosos.

No entanto, Grabka chama a atenção para o risco da medida. "A introdução de um salário-mínimo teria para a camada de baixa renda uma função estabilizadora. Mas nós observamos uma estagnação do salário real numa grande parcela da população. Então a prática de um salário-mínimo iria beneficiar, de fato, apenas uma pequena parte dos trabalhadores."

Assunto para empregados e empregadores

O Ministério alemão do Trabalho ainda não vê necessidade de negociação. Segundo um porta-voz do órgão, a necessidade de introdução de um salário-mínimo e a definição do seu valor são tarefas que cabem a empregadores e empregados.

Wilhelm Adamy acredita, no entanto, que os legisladores também precisam ter interesse em não permitir que as pessoas permaneçam nos setores de baixos salários. "Quem um dia foi trabalhador de baixa renda e teve um emprego precário permanece, com grande probabilidade, nesse emprego precário, caindo assim numa armadilha do mercado de trabalho, ao contrário da ideia que muitos também tentam nos vender."

Autor: Richard Fuchs (np) - Revisão: Carlos Albuquerque

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