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Rio de Janeiro, 29 jul (Lusa) -- O ex-Presidente Lula da Silva disse hoje, no Rio de Janeiro, que o próximo passo do Brasil deverá ser a África e defendeu mais uma vez uma "representatividade mais sólida" do país no Conselho de Segurança das Nações Unidas.
"A África é o nosso próximo passo. O Brasil tem que voltar para a África. Há uma vantagem comparativa, eles se sentem iguais a nós e nós nos sentimos iguais a eles", afirmou Lula da Silva, que deu hoje uma palestra sobre o 'futuro do Brasil' a convite na Escola Superior de Guerra (ESG) para um público de militares e autoridades civis.
Para o ex-presidente, o Brasil quer manter "relações harmónicas com todo o mundo" e tem a responsabilidade de manter a paz. "A nossa política é a de construir uma relação de respeito. Não queremos uma relação hegemónica com ninguém", afirmou.
Próximo de tornar-se a quinta maior economia mundial, em 2016, o Brasil deve olhar mais para os países em desenvolvimento como os estados africanos, defendeu.
"O Brasil não tinha embaixada em nenhum dos países africanos. Como o Brasil quer fazer política sem fincar os pés nesse países?", questionou Lula da Silva.
O ex-chefe de Estado lembrou que, no início do seu governo, em 2003, as trocas comerciais com todo o continente africano não ultrapassavam cinco mil milhões de dólares. "Hoje vamos chegar a 20 mil milhões de dólares".
O país deixou de sofrer do "complexo de vira latas", sublinhou Lula, comentando que o Brasil "aceitava" ser tratado como inferior.
"Tudo o que era 'made in' outro lugar era melhor. O Brasil foi visto durante muito tempo como se fosse ruim para a América do Sul e para a África", realçou.
Na sua intervenção o ex-presidente brasileiro defendeu também, mais uma vez, a necessidade de uma reforma profunda no Conselho de Segurança da ONU.
"O Brasil tem que estar no Conselho, assim como a Índia, a Alemanha, o Japão, a África e a América Latina tem que ter mais de um país além do Brasil. Se quisermos ter uma governação global mais séria e respeitada, temos que repensar o Conselho de Segurança. O mundo está a exigir que o Conselho mude", destacou, referindo ainda que quer ver o Brasil no Conselho de Segurança "a fazer diferença".
No âmbito da manutenção da paz, Lula da Silva realçou a presença do Brasil em missões da ONU, como no Haiti, ou em outras operações sob responsabilidade da organização, como na Guiné-Bissau.
"Eu era um dos grandes defensores do Brasil estar com a sua tropa no Haiti. Ouso duvidar se alguma força conquistou o carinho que as tropas brasileiras conquistaram no Haiti", referiu.
Lula reconhece que haverá um momento que o Brasil terá que retirar-se da Minustah. "Não queremos ficar para sempre. Temos que analisar corretamente se não está na hora de compartilhar com eles a nossa saída".
Para Lula, o Brasil pode servir de exemplo. "A atuação do Brasil merece respeito. Só um brasileiro misturado com africano e índio é capaz de fazer isso". Por isso, defende que o Brasil participe em "quantas missões de paz for chamado".
"Se a ONU for forte, terá muitas forças a fazer a paz em muitos países. A violência na Guiné-Bissau, por exemplo, com 1,5 milhões de pessoas. A ONU teria que estar lá para ajudar", destacou.
Lula reiterou que o Brasil deveria compor uma intervenção da ONU na Guiné-Bissau para "equilibrar o país".
*Foto em Lusa
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