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Genebra, 28 jul (Lusa) - O Alto Comissário da ONU para os Refugiados (ACNUR) considerou hoje que a seca e a fome no Corno de África representam «um drama de proporções desconhecidas», lamentando a fraca capacidade de resposta da comunidade internacional até agora.
«Estamos angustiados porque aquilo que fazemos não é suficiente quando vemos a dimensão da tragédia. Estamos perante um drama humanitário de proporções desconhecidas», disse o português António Guterres em entrevista à agência noticiosa espanhola EFE.
No campo de refugiados de Dollo Ado (Etiópia), a taxa de mortalidade ronda as 7,4 mortes diárias por cada 100.000 pessoas (uma emergência é declarada quando se chega a uma morte por cada 10.000).
No sul da Somália, a área mais afetada pela seca, a taxa de subnutrição aguda é de 82 por cento e a mortalidade entre os menores de cinco anos é de quatro por 10.000, em todas as zonas sobre as quais existem dados.
O responsável da ONU para os refugiados disse que «esta seca não é a primeira nem será a última» e o que «mais impressiona é que, sabendo isto, a comunidade internacional não desenvolveu medidas de prevenção a longo prazo para dar capacidade de resistência às comunidades».
O antigo primeiro-ministro português lembrou que, devido às alterações climáticas, é possível esperar que os desastres naturais, como a seca no Corno de África, sejam mais severos e frequentes.
Sobre a situação na Somália, Guterres assegurou que é complexa e inclui três cenários: os refugiados somalis que fogem para o Quénia, os que atravessam a Etiópia (em ambos os casos são acolhidos em campos geridos pelo ACNUR) e os que continuam no país.
A seca afeta cerca de 12 milhões de pessoas na Somália, Quénia e Etiópia e, em menor proporção, no Djibuti que formam a região conhecida como Corno de África.
Dados divulgados hoje pelo agência da ONU para os Refugiados, mais de 800.000 somalis estão fora do país, 90 por cento dos quais no Quénia (445.000), Iémen (191.000), Etiópia (156.000) e Djibuti (16.700).
Na Somália, 1,5 milhões de pessoas são agora deslocados internos, dos quais 100.000 fugiram do Sul - a zona mais castigada pela seca - para o interior, incluindo a capital, Mogadíscio.
Em relação às críticas sobre a lentidão da ajuda para as vítimas da fome, Guterres evocou «as enormes dificuldades logísticas, de acesso e de segurança», mas também a falta de fundos.
Mas, apesar de os novos fundos para a Somália chegarem a um ritmo lento, é «importante reconhecer o apoio que o ACNUR recebe, não só de governos, como da população em geral», disse.
*Foto em Lusa
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