domingo, 3 de julho de 2011

Portugal: GOVERNO DO COELHO MERECE BENEFÍCIO DA DÚVIDA, SEM DÚVIDAS…




ANTÓNIO VERÍSSIMO

Provavelmente a maioria ignora qual é o ano chinês em que estamos, se do cão, se do gato, se do rato ou de outro bichano qualquer. O que não ignora é que em Portugal chegou o governo aparentemente do Coelho. Era o que nos faltava, termos governos com nomes de bicharada. É agora que com toda a propriedade podemos dizer que os do governo são uma cambada de animais. Se são todos ou não está por ser comprovado, mas olhando para o passado sabemos que têm sido animais finórios que vão para lá engordar-se e engordar os que fazem parte das cáfilas, dos rebanhos, dos bandos, dos cardumes, das coelheiras… Enfim.

Também sabemos que quando saem dos governos já têm à sua espera colocações em manjedouras douradas e até se diz que saem com mais apetite e que os repastos são paga de favores que fizeram quando nos governos. Se não é assim… parece. Que engordam desmedidamente ninguém põe dúvidas. Alimentam-se de promiscuidade, de corrupções, de ludíbrios fiscais, de prática de crimes morais e até por atropelos à transparência e à legalidade. Mas safam-se sempre. Tudo é abafado. Tudo é esquecido e silenciado. E mesmo que sejam vigaristas, mafiosos, seguem  seu caminho incólumes, impunes, sempre com um apetite devorador. Facilmente se prevê que é o que vai acontecer aos da coelheira deste novo governo do Coelho. Uma vez mais vamos ficar de olhos em bico – para não esquecer a referência similar aos anos chineses dedicados aos animais. Portugal não tem anos dos animais mas aguenta com imensos anos de políticos animais, de governos animalescos em apetites imensuráveis. Haja esperança e que seja proporcionado o benefício da dúvida, sem dúvidas, a esta coelhada que se diz nova, jovem, patriótica… Um regalo.

Coelho, novo (?) primeiro-ministro desta quintarola chamada (por enquanto) Portugal veio dizendo ao longo de todo o PREC – Processo de Recuperação da Exploração e Capitalismo – que o Estado tinha de emagrecer, que tinha de perder a obesidade, que a despesa devia ser contida e que os portugueses não deviam ser mais vítimas de uma “máquina” tão gastadora. Que era aí que ele (uma vez eleito) iria procurar o equilíbrio das contas públicas… Pois disse. Pois prometeu. Até referiu que mais impostos não, que os portugueses estavam saturados de tanta espoliação – não o fez por estas palavras mas disse-o com este sentido.

Surpresa das surpresas: Coelho toma posse, vai apresentar o programa do seu governo no Parlamento e anuncia um imposto extraordinário que vai espoliar os portugueses em metade do seu subsídio de Natal. Extraordinário!

Também disse que sobre as outras medidas… vai estudar. Devem ser as medidas para conter a obesidade do Estado, aquelas que prometeu. Mentiu, para já. Se vai estudar e recuperar a economia através, principalmente, do emagrecimento da despesa porque razão anuncia e decreta de imediato que vai roubar metade do subsídio de Natal a quase todos os portugueses assalariados? Porque é fácil. Porque não se quer dar ao trabalho de “emagrecer” lugares destinados às clientelas nem de fazer aquilo que prometeu. Porque tem apensos imensos parasitas das cores partidárias que ele e Paulo Portas representam, prontos para mamarem nas tetas da “vaca leiteira” que é sustentada pelos paupérrimos portugueses. Roubar o povinho não requer estudar para fazer isso. Mas, assim sendo, até podíamos continuar com José Sócrates, já conhecemos o aldrabão. Olhem agora o trabalho que vamos de novamente ter para perceber um aldrabão de novos tiques e novas artes da falácia, de diferentes endrominações… Pensando melhor até não vai ser assim tão difícil… Porque, como já alguém disse na apresentação dos “novos” que se vão governar, “isto é mais do vira o disco e toca o mesmo”.

Falou Cavaco, o protetor da Coelhada e ator de ludíbrio ao Fisco relativamente a imposto de SISA – tanto quanto ele não consegue explicar que assim não é – sobre fazermos sacrifícios justos… Pois, dizer disse, mas aquilo que vem logo de rompante e sem “estudo” foi roubar dos bolsos dos assalariados através de um imposto dito extraordinário que pode muito bem passar a definitivo. É só uma questão de aguço dos apetites daqueles que incorporam o despesismo do Estado se manter ou até aumentar. E lá vamos nós, portugueses paupérrimos sustentar a gula de mais outros parasitas sacadores, desta vez não são cor-de-rosa mas sim laranja e azuis… Cores que para os portugueses são indiferentes porque até estão a ficar daltónicos.

Além destas medidas de espoliação dos Sempre os Mesmos a Pagar para a Cambada, que outras nos irá apresentar o “novo” Governo do Coelho? O seu grupo parlamentar vai propor a redução do número de deputados na Assembleia da República? Parece que sim. Pelo menos falou disso. Veremos.

E vão propor que o tempo de atingir as reformas dos deputados passe ao regime geral? E vão propor que aqueles deputados que se reformaram com 8 anos de mandatos, ou com 12, vão ser taxados de forma a recuperar minimamente a vilania de uma disposição que a máfia parlamentar decidiu imoral e indevidamente? E vão propor que as imensas mordomias dos deputados e afins que se lhes “colam” passem a portugueses normais, de vencimentos normais e sem mordomias escandalosas? E vão retirar os direitos que implicam gastar fortunas em viaturas de luxo? E vão conter todos os subsídios principescos que são verdadeiras golpadas e assaltos escabrosos ao erário público? E vão fazer o mesmo nos ministérios, nas secretarias de estado e afins? Vão mesmo reduzir as despesas “à séria” e acabar com a chularia de que temos sido vítimas, praticada por uma classe política sem escrúpulos? E a corrupção? O que fará este Coelho sobre a corrupção? Alguma vez falou sobre esse nefasto “fenómeno” que abunda nas máquinas partidárias e consequentemente nos antros da política e das grandes empresas que vão financiando os partidos? Não. E a legislação para conter estas sangrias vai ser contemplada pela coelhada? E o mais de errado, muito mais, também? E aquilo que sabemos ou não sabemos mas que eles sabem, de que todos eles – políticos e ilhargas - vão beneficiando sem um pingo de vergonha por nos estarem a explorar e ser causa principal que nos tem vindo a conduzir para a miséria? Este governo vai “endireitar” tudo com toda a honestidade?

Se vai não parece, porque se atiraram logo de cabeça a sugar ao povinho, sem contemplações, um imposto aberrante e “extraordinário”, fornecendo prova evidente de que sai Sócrates Aldrabão e entra um governo Coelho do mesmo jaez mas com algumas clientelas diferentes. Provavelmente ainda com mais clientelas.

Mas então o “novo” Governo do Coelho não merece o benefício da dúvida e até o Estado de Graça dos primeiros cem dias de governação? Sem dúvida que merece, sem dúvidas. Sem dúvidas de que vamos ter mais do mesmo. Aguentar é a nossa alcunha.

A República Portuguesa, os portugueses, são cordatos, pacíficos, serenos, aborregados, perfeitos apaixonados pelos seus umbigos e muito medrosos. Preferem a fome e a miséria a defenderem-se e defender a democracia real - juntarem-se e mostrarem o seu repúdio pela corja que há mais de duas décadas se estabeleceu nesta República pós 25 de Abril. Cada português pensa: “Os outros que avancem que é para depois também beneficiar das melhorias. Figura triste, cagarolas e egoísta. Talvez por isso é que ninguém toma a iniciativa de exigir que BASTA! Que queremos novas políticas, queremos justiça, transparência e democracia real. Queremos que os responsáveis políticos corruptos e os corruptores sejam punidos. Queremos o fim da promiscuidade entre políticos e os agentes económicos do empresariado, dos banqueiros e afins, que têm vindo a afortunar-se através dos conluios. Queremos um Portugal Decente. Queremos respeito pela restauração da nossa dignidade.

Benefício da dúvida para os novos animais da coelheira. Sem dúvidas. Parvos não somos. Só contidos e até cobardes. E eles sabem muito bem isso. Não foi por acaso que os portugueses aguentaram uma ditadura por meio século, num borreganço de temores vergonhosos e inadmissíveis!

Mas esta Coelhada merece ou não o benefício da dúvida? Sem dúvidas... de que sabemos aquilo com que podemos contar. Logo à primeira viu-se!

*Revisto por Beatriz Gambôa

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