domingo, 3 de julho de 2011

Portugal: Mário Soares diz que Presidente da República podia ter evitado a crise política




Público - Lusa

Acusa Cavaco de ter ficado “estranhamente” em silêncio

O antigo Presidente da República Mário Soares considera que o actual chefe de Estado podia ter evitado a crise política no país, lembrando a promessa de Cavaco Silva de que exerceria uma magistratura de influência mais activa.

Esta posição do antigo primeiro-ministro, antigo Presidente e fundador do PS consta do livro “Portugal Tem Saída -- Um Olhar Sobre a Crise”, que relata uma reflexão entre Soares e a jornalista do público Teresa de Sousa e que é apresentado na segunda-feira.

“O Presidente da República ficou estranhamente silencioso. Fiz-lhe um apelo público, angustiado, para que evitasse a crise. Quanto a mim, podia tê-lo feito”, afirma Mário Soares.

O antigo Presidente da República recorda que Cavaco Silva “alegou o facto de as coisas ‘terem sucedido com muita rapidez’ o que lhe retirou ‘margem de manobra’” e tira depois uma conclusão: “É uma explicação seguramente verdadeira, mas faz-nos refletir. Sobretudo depois da promessa que fez aos portugueses de exercer uma magistratura de influência mais activa”.

Afirmando que a oposição “falhou” quando levou à queda do Governo socialista, numa “insensatez tremenda”, Soares sublinha que o PSD “não teve qualquer vantagem em ter precipitado a crise política, no momento em que o fez”.

Ainda sobre os sociais-democratas, o antigo chefe de Estado diz que “há grupos” no partido que não gostam de Pedro Passos Coelho e que só o queriam como primeiro-ministro para o destruir, depois de realizado “o trabalho mais difícil e impopular”.

Quanto à derrota do PS nas legislativas, Mário Soares afirma que é fácil explicar: “[O PS] teve sempre tudo contra ele à direita e à esquerda”.

Sobre José Sócrates, Soares afirma que o antigo primeiro-ministro e ex-secretário-geral dos socialistas foi “um líder forte”, com “grandes virtudes” e “alguns defeitos” também.

“Foi talvez o mais atacado e injuriado dos políticos portugueses desde sempre. Resistiu a tudo. E saiu com honra e grande dignidade”, refere Mário Soares.

Quanto à União Europeia, Mário Soares afirma que os atuais dirigentes não querem ver que o neoliberalismo e o capitalismo de tipo financeiro e especulativo que daí resultou falharam.

“Muitos europeus começam a compreender que a União, ou muda o seu modelo económico-social, ou entrará em irreversível decadência e, por ventura, mesmo em desagregação”, afirma.

Soares refere-se concretamente à chanceler alemã, dizendo que Angela Merkel “já não é uma democrata-cristã no sentido clássico”, considerando que tem sido uma “tragédia” para o projecto europeu a transformação das democracias-cristãs em partidos populares.

A obra é lançada na segunda-feira à tarde, num centro comercial de Lisboa, com apresentação do advogado Vasco Vieira de Almeida.

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