quinta-feira, 18 de agosto de 2011

ANGOLANOS DE MAPUTO ACUSAM IMPRENSA LOCAL DE “DIABOLIZAÇÃO”




MMT - AP

Maputo, 18 ago (Lusa) -- A comunidade angolana em Moçambique critica a imprensa moçambicana pela "diabolização do Estado e povo angolano" na denúncia do caso "isolado" de repatriamento de dois jornalistas pelos serviços de migração de Angola.

Em comunicado assinado pelo presidente da Casa de Angola em Maputo, Manuel Mendes, a agremiação apela aos moçambicanos para "confiarem nas autoridades angolanas", afirmando que o caso será esclarecido "em tempo útil" pelos responsáveis.

"Apesar de considerarmos justa a reivindicação do Sindicato Nacional de Jornalistas de Moçambique e da comunidade jornalística, em geral, apelamos para a serenidade e não diabolização do povo irmão de Angola, visto tratar-se de um caso isolado", refere a nota.

Na semana passada, o chefe de redação do semanário Magazine Independente, Nelo Cossa, e a jornalista do matutino Notícias, Joana Macie, foram interditados de entrar em Angola quando se deslocavam à Luanda, capital do país, para participar numa formação jornalística, sob alegação de terem "problema de Estado".

Em declarações à Lusa, Nelo Cossa contou que as autoridades angolanas de migração "escorraçaram" os dois jornalistas tratando-os como "cães e criminosos".

Contudo, o presidente da Casa de Angola na capital moçambicana considera que, apesar do incidente, "as relações de amizade entre os dois países e povos não podem ser postas em causa uma vez que Moçambique tem sido um dos países mais visitados a nível institucional por governantes angolanos na troca de experiências".

Para Manuel Mendes, o convite formulado aos jornalistas para se deslocarem à Angola "é a prova disso".

Hoje, num artigo de opinião, o editor do semanário moçambicano Zambeze, João Chamusse, descreve como "uma vergonha" a atitude das autoridades angolanas "que estão habituadas a prender e julgar jornalistas" e a praticar "outro tipo de pressão para sufocar uma comunicação social isenta".

Também a edição de hoje do semanário Savana, num artigo intitulado "Pôxa, irmão!" critica a "atitude inqualificável" dos serviços de migração angolanas que trataram os jornalistas "pior que um criminoso".

Em editorial, o jornal considera que o incidente revela "a permanência de resíduos de chauvinismo e de um nacionalismo estreito e barato que torna o desejo de integração regional (da SADC) um sonho adiado".

Em nota hoje divulgada, o coordenador africano do Comité Internacional para a Protecção de Jornalistas, Mohamed Keita, exorta "o governo angolano para explicar por que razões os jornalistas foram expulsos do território angolano, negando, desta feita, a sua participação no evento".

Por seu turno, o diretor africano da Human Rights Watch, Daniel Bekele, afirma que "este comportamento obstrutivo evidencia o ambiente restritivo e repressivo em Angola que, por si só, já deveria fazer parte da agenda da SADC", Comunidade de Desenvolvimento da África Austral.

Falando em Luanda, na quarta-feira, o ministro moçambicano dos Negócios Estrangeiros, Oldemiro Baloi, considerou "lamentável" o repatriamento de dois jornalistas pelos serviços de migração angolanas, afirmando haver "qualquer coisa que não está bem e que precisa de ser clarificada" no caso.

Além dos dois moçambicanos, pelo menos outros 15 jornalistas, sindicalistas e ativistas viram recusada a sua entrada recusada em Angola, o que motivou uma queixa da maio central sindical sul-africana COSATU.

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