PONTO FINAL - MACAU
INDONÉSIA E TIMOR-LESTE ESTÃO REPRESENTADOS*
O futebol pode ser o desporto-rei, mas aqui não há realeza. A 9ª edição do Mundial de Futebol de Sem-Abrigo começa este domingo e Hong Kong está representado. O vice-presidente da equipa da RAEHK fala da experiência. Mel Young, presidente do torneio, quer mais países asiáticos envolvidos.
Este domingo 64 equipas de futebol, femininas e masculinas, de 53 países e territórios, viajam até Paris para um disputado campeonato desportivo. A estrutura, as regras, os espectadores, em tudo são semelhantes aos do Mundial de Futebol que move multidões de quatro em quatro anos. A diferença está em quem chuta a bola: os jogadores deste torneio internacional, que todos os anos são acolhidos numa capital do mundo, não têm casa nos seus países de origem.
O Mundial de Futebol dos Sem-Abrigo nasceu em 2003 e começou por estar associado a jornais de rua, vendidos por sem-abrigo em diversas cidades do mundo. Hoje em dia a maioria das equipas já se desvinculou dos jornais e surgem através de organizações não-governamentais e associações desportivas.
O evento, agora na 9ª edição, tem vindo a ganhar mais e mais visibilidade e estima uma audiência anual de 50 mil espectadores. Acredita-se que o impacto do desporto na vida de alguém em situação precária, como um sem-abrigo, é muito significativo. Se, por um lado, a nível pessoal, a estrutura dos treinos melhora a saúde física e psicológica dos jogadores, por outro, a nível social, o evento pode funcionar como um despertar de consciências para um problema que afecta cerca de mil milhões de pessoas no mundo.
Até hoje mais de 100 mil pessoas estiveram envolvidas no campeonato e, de acordo com a organização do Mundial de Futebol dos Sem-Abrigo, 70 por cento conseguiram uma melhoria de vida, seja por terem abandonado um vício como o álcool ou drogas, por terem reatado relações familiares, ou por terem conseguido emprego, formação ou casa. Algumas enveredam pelo mundo do desporto e tornam-se treinadores, como é o caso de Leung Kwok Fu, técnico-adjunto da equipa de Hong Kong. O mais famoso e bem sucedido jogador é Tiago Manuel Dias Correia, conhecido no mundo do futebol como Bebé, um português da Casa do Gaiato que em 2010 assinou com o Manchester United. Bebé nunca chegou a competir no Mundial de Futebol dos Sem-Abrigo, mas participou num torneio semelhante a nível europeu, organizado pela mesma associação.
Hong Kong oferece apoio a Macau
No conjunto dos participantes do torneio, a Ásia ainda está pouco representada. Este ano 12 equipas do continente vão participar, num total de 64. A Indonésia é a grande estreia desta edição. Além deste país, vão também competir o Afeganistão, o Camboja, Hong Kong, Índia, Japão, Cazaquistão, Quirguistão, Filipinas, Singapura, Coreia do Sul e Timor-Leste.
O vice-presidente do comité organizador da equipa de Hong Kong, Alex Chan, disse ao PONTO FINAL que a participação no evento é uma forma de “encorajar a população a preocupar-se com os mais frágeis” e que o encara como um meio de “educação do público”. “A comunidade de Hong Kong tem uma imagem negativa dos sem-abrigo e a participação no Mundial pode ajudar a mudar isso.”
Esta é a sétima vez que a RAEHK participa no campeonato. Para financiar a viagem e estadia da equipa, a organização – de que fazem parte as ONG Wofoo Social Enterprises e Society Community Organization – leva a cabo, por sua vez, um campeonato entre os patrocinadores. As regras são simples: qualquer empresa pode participar desde que doe 15.500 patacas. Este ano tiveram 24 concorrentes e juntaram mais de 300 mil patacas.
Para os participantes da antiga colónia britânica, a experiência tem sido positiva. Chan dá o exemplo de Alan, que em 2007 foi à Dinamarca. “Antes de participar no campeonato, Alan foi apanhado por roubo (foi condenado com pena suspensa) e tinha cortado relações com a família. Depois do Mundial dos Sem-Abrigo, começou a fazer voluntariado, voltou a estudar, a jogar futebol e os seus pais foram despedir-se dele ao aeroporto.” Ao regressar a Hong Kong, Alan reatou com a família e começou a participar em actividades na igreja local.
Este ano a equipa inclui Chung Man, um ex-toxicodependente que começou a treinar enquanto estava numa clínica de reabilitação. O futebol foi para Chung um forte incentivo para se manter limpo. Além dos treinos intensivos a que tem comparecido, o jogador é também voluntário na clínica onde fez tratamentos e começou a estudar à noite, tendo planos para tirar um curso em serviços sociais.
Apesar do Mundial de Futebol dos Sem-Abrigo ser uma competição, o espírito de entreajuda está sempre presente e Alex Chan faz questão de lançar um apelo a Macau: “Há uns dois anos fui abordado por algumas celebridades de Macau que me disseram estar interessadas em formar uma equipa. Queria dizer que nós aqui em Hong Kong ficaríamos muito felizes de poder ajudar no que for necessário. Teríamos todo o gosto em partilhar a nossa experiência com Macau e em apoiar qualquer ONG que esteja interessada em formar uma equipa”.
I.S.G.
*Subtítulo PG
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