Simon Kamm, Agência Lusa
Lisboa, 13 ago (Lusa) - Os responsáveis da FAO que na quinta-feira estiveram em Dobley, no sul da Somália, reuniram-se com autoridades locais para avaliar as necessidades dos inúmeros deslocados somalis que ali chegam diariamente antes de tentarem atravessar rumo ao Quénia.
A chefe do serviço de operações de emergência para a África, América Latina e Caraíbas da Organização da ONU para a Agricultura e a Alimentação (FAO), a portuguesa Cristina Amaral, integrou a missão que esteve em Dobley, que há meses ainda era controlada pelos insurgentes islamistas shebab.
Situada a escassos quilómetros da fronteira com o Quénia, Dobley é "atualmente o principal ponto de passagem, de todos os deslocados somalis que fogem do centro da Somália e de outras zonas em direção a fronteira queniana", designadamente rumo ao campo de refugiados de Dadaab, nordeste do Quénia, explicou à Lusa a especialista portuguesa.
Cristina Amaral destacou que objetivo da viagem de poucas horas - e que não foi divulgada por questões de segurança - foi perceber quais as "principais necessidades" dos deslocados em Dobley, mas também das populações locais "sujeitas a uma enorme carga" devido ao grande afluxo de pessoas.
"Como ali chega pouca ajuda, é a própria população local que tenta prestar algum apoio aos deslocados internos para que assim consigam passar para o lado queniano", explicou.
A responsável adiantou que a viagem permitiu aos peritos da FAO reunir com autoridades locais para "melhor perceber a situação que ali se vive" e delinear "novas formas de ajudar as pessoas [residentes e deslocados] ainda em território somali". Outro objetivo, explicou Amaral, foi perceber qual era o estado do gado naquela zona, que é "essencial à sobrevivência das populações".
"Infelizmente constatamos que a mortalidade animal é muito alta, pelo que é fundamental desenvolver programas de ajuda no setor veterinário para que as pessoas consigam manter vivo o seu gado até outubro, altura em que estão previstas as próximas chuvas", sustentou.
Mas ao mesmo tempo é também "imprescindível ajudar os camponeses afetados" para que estes não tenham de abandonar as suas terras, através da disponibilização de sementes e de outros meios que lhes permita "replantar os seus campos na Somália", vincou.
De acordo com a especialista da FAO, continuam a chegar diariamente a Dobley pessoas em "condições realmente devastadoras".
"O nível da má nutrição é bastante mau", salientou Amaral, lembrando, contudo, que os deslocados na zona já estão a ser ajudados pela UNICEF, uma ONG francesa e vários grupos de solidariedade somalis.
A seca que fustiga o Corno de África, a pior dos últimos 60 anos, já provocou dezenas de milhares de mortos e constitui uma ameaça para mais de 12 milhões de pessoas na Somália, no Quénia, na Etiópia, no Djibouti, no Sudão e no Uganda. A situação humanitária é particularmente crítica na Somália, onde a ONU decretou formalmente o estado de fome em Mogadíscio e em quatro regiões do sul, controladas pelos shebab.
*Foto em Lusa
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