Assistindo ao teatro da “limpeza ética” no governo brasileiro, vemos reforçada a tese de que não reside exatamente no voto popular a responsabilidade pelo que ocorre nos corredores de Brasília e na Disneylândia das assembleias legislativas e câmaras municipais Brasil afora.
Senão vejamos: o cidadão brasileiro vota, a cada quatro anos, em candidatos aos cargos de deputado estadual e federal, senador, governador e presidente. No entanto, quem nomeia os responsáveis pelos ministérios – pastas governamentais que administram serviços públicos da maior importância para o país – é o presidente, não o povo. E quem escala os secretários executivos, como o Sr. Frederico Silva da Costa, do Turismo, preso em recente operação da polícia federal, são os ministros. E assim segue até os mais baixos escalões do governo.
Não se discute o fato de que, ainda assim, existe responsabilidade por parte do eleitor, já que seu voto de confiança na figura do presidente lhe condiciona a dar início a essas (perigosas) ligações. Além do quê, votos dão maior poder de influência a determinados partidos políticos em detrimento de outros, o que incide diretamente na forma como a coisa pública é administrada no país.
Porém, o peso do voto parece pequeno frente à autonomia que os governantes têm para selecionar seus subalternos. Se assim não fosse, esposas, irmãos, primos e apadrinhados de caráter duvidoso e absolutamente inaptos para a função a que foram designados não estariam “servindo” os brasileiros nos gabinetes de Brasília. Tampouco se daria brecha para a institucionalização de relações de camaradagem entre políticos e empresários que, curiosamente, passam a ganhar todas as licitações públicas – isso quando estas são mesmo realizadas e, pior, quando o político não é o próprio executivo de negócios.
Saindo do micro para o macro, convém lembrar que, muito embora um presidente, governador, senador ou deputado esteja entre as figuras mais honestas do planeta, isso não significa que o problema da corrupção generalizada será resolvido. Não só porque, para chegar a tais posições, o sujeito depende de acordos e coligações políticas com outros partidos, como porque não daria conta de, sozinho, enfrentar toda uma máfia que já vem aparelhando o Estado brasileiro há décadas.
Este cenário desolador, contudo, poderia sofrer melhoras caso mudanças no processo eleitoral fossem feitas. A começar pela proibição de gastos milionários em propaganda política, aspecto que não combina exatamente com preceitos democráticos. Afinal, se direitos e chances iguais devem ser concedidos a todos, como pode haver candidatos que jamais terão real oportunidade de disputar uma posição política com outros simplesmente porque não têm dinheiro para tanto?
Beijinhos na mão de Barbalhos e comentários elogiosos a Sarneys e afins serão praxe enquanto a recorrente estrutura política – incluindo aí o processo eleitoral – subsistirem, pois a conquista do top of mind dos brasileiros seguirá em função da liderança nos submercados – dos miseráveis aos abastados – nacionais.
É o óbvio ululante. Por isso mesmo, vale sempre atentar para a relativa (ir)relevância do voto, principalmente nas ocasiões em que oportunistas depositarem sobre os dedos que teclam à urna eletrônica o peso da corrupção, do fisiologismo, do nepotismo e de todas as ratarias praticadas por nossos representantes políticos.
Texto publicado em 19/08/2011 às 12:46 na(s) seção(ões) Brasil, Cidadania, Justiça & Direito, Opinião da revista Consciencia.net.
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