domingo, 14 de agosto de 2011

Portugal: O MINISTRO VÍTOR GASPAR TOMA CALMANTES?




ANTÓNIO VERÍSSIMO

O ministro Gaspar, das finanças, veio anunciar o aumento do gás, da eletricidade e aquilo que mais lhe apeteceu anunciar sobre roubos. Calmamente ele disse o que sabia sobre a penúria lusa e das razões porque nos sentencia a mais penúria. O ministro anuncia tudo calmamente, esclarece tudo calmamente, fala calmamente, move-se calmamente, também massacra os portugueses debilitados muito calmamente. Demasiado calmamente, quase em câmara lenta.

Perante tanta calma já há quem insinue que o ministro Gaspar anda a toque de caixas de calmantes, que parece que está “drunfado” e que mais dia, menos dia, ainda se lixa com uma overdose. Não vou por aí. Não toma calmantes nenhuns, nem sequer chá de tília ou de tripas secas de preguiça amazónica. O que acontece com toda aquela calma é que ele se está lixando para que as medidas que anuncia e vão anunciando - sobre nos vir ao bolso e sobrecarregar com impostos e aumentos de tudo baixando ordenados, enquanto aos mais ricos e grande empresariado não o fazem e ainda lhes dão vantagens – lhe é completamente indiferente. Ele está ali exatamente para isso, para cumprir o exigido pela Alemanha, pela França, Inglaterra, Países Baixos, etc., pelos que na Europa ao norte se esqueceram do projeto europeu e consideram que os do sul não são tão europeus quanto eles mas sim pretos ou brancos de segunda. Tanto faz porque vai dar ao mesmo.

Afinal consideram que somos inferiores e como tal não merecemos a solidariedade nem a igualdade europeia sonhada, proposta e escrita pelos que fundaram a EU. Vai daí carregam nos juros do dinheiro que emprestam a tão curto prazo. Vai daí põem-nos a canga em cima como fizeram nas suas colónias. Por certo que Portugal é uma colónia da Alemanha. Só pode. O ministro Gaspar é simplesmente um executor obediente e venerando da Ângela Merkel. O seu chefe, o Passos, é outro. O chefe dos chefes, o Cavaco, nem podia ter escolhido melhor o momento para ser PR (apesar de eleito por uma ínfima quantidade de votos – um quarto dos portugueses eleitores). Este é o momento deles.

Aos plebeus portugueses resta sofrer e vê-los delapidar aquilo que desde 1974 foi consolidado em prol dos direitos liberdades e garantias democráticas. Para isso, para Portugal estar como está, PS e PSD fizeram todos os esforços por o conseguir. Agora é tempo do PSD e do CDS – que nestas coisas anda sempre por ali à babuja. Logo voltará o tempo do PS… E assim sucessivamente.

Cavaco morrerá e outros Cavacos se erguerão. Assim será, porque os responsáveis por isso são aqueles que neles votam, como se não existissem alternativas. Uns poucos elegem-nos porque sabem que são os que lhes defendem os interesses, outros, a maioria,  porque são preguiçosos e nem querem pensar sobre o assunto. Até porque depois é muito mais divertido andarem a criticar as medidas que os vitimam, a chamar ao Passos Coelho aldrabão,  andarem afobados a cravar os familiares e amigos ainda com alguns fundos, andarem a não comer para comprar gasolina e outras inutilidades consumistas. E sempre podem dizer para o parceiro do lado que os políticos são todos “farinha do mesmo saco”. Muitos são, sim, mas não por acaso os que mais são contam com os votos da maioria preguiçosa no pensar e que dizem que de política nem sabem nada, nem querem saber. Então porque se queixam? Porque não olham para o espelho e se chamam borregos? Porque é aquilo que mais são.

Vão atrás uns dos outros a balir, direitinhos às mesas de voto, e até votam sempre no mesmo partido por tradição. Há desses! Pois agora não se queixem. Sustentem os malandros que elegeram. Ao menos que se assumam. Podiam nem ter votado em ninguém!  Sempre seria interessante ver os políticos que nos têm afundado com voto zero nas urnas. O que inventariam a seguir para nos enganar? Iriam tomar calmantes, como o ministro Gaspar? Mas, o ministro Gaspar toma calmantes? Acreditam nisso? É que a vida corre-lhe bem, porque havia de andar stressado, preocupado ou inquieto?

*Também publicado em Página Lusófona, blogue do autor.

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