VOZ DA RÚSSIA
“Quem não está conosco, está contra nós”. Presentemente, este princípio de relações com os vizinhos foi adotado nos contatos com a Argélia pelo Conselho Nacional de Transição (CNT), o qual se prepara para tomar as rédeas de poder. Logo no começo do enfrentamento militar entre o regime de Muamar Kad hafi e a Oposição armada apoiado por todo o poderio da OTAN, o Governo argelino não tem escondido suas apreensões no sentido de poder a guerra civil na Líbia trazer as mais lamentáveis consequências.
O selvático atentado terrorista acompanhado de numerosas vítimas mortais, realizado em 26 de agosto contra os alunos da Academia Militar Churchill, na Argélia, o qual foi reivindicado pela “Al-Qaeda no Magrebe Islâmico”, foi mais uma confirmação desses receios. Com sua recusa em reconhecer o CNT, a Argélia continua apoiando a decisão política proposta pela União Africana para o conflito na Líbia, sempre acentuando sua “neutralidade rigorosa” em relação à guerra civil nesse país.
Na manhã de 29 de agosto, as autoridades argelinas admitiram no território nacional ums familiares de Muamar Kadhafi, nomeadamente Safyia, sua esposa, sua filha Aicha e os filhos Hannibal e Mohamed, que vieram acompanhados dos seus filhos e alguns íntimos dessa família. A Chancelaria argelina sublinhou que a família Kadhafi não ficará na Argélia, devendo buscar refúgio em terceiros países, conforme foi notificado o Conselho de Segurança das Nações Unidas, seus secretário-geral e o próprio Conselho Nacional de Transição. A notícia provocou raiva em Trípoli. Os dirigentes do CNT qualificaram as ações da Argélia como um ato de agressão por parte do vizinho país e reivindicou extradição da família.
“Queremos que essas pessoas voltem. Garantimo-lhes um julgamento justo, pois eles são acusados de terem perpetrado os mais diversos crimes, e vamos conceder-lhes uma possibilidade para se justificarem” – declarou o porta-voz do Conselho, Mahmoud Chammam. Por sua vez, o coronel Ahmed Omar Bani, adido de Imprensa do CNT, exigiu novamente da Argélia reconhecimento do Conselho, dizendo:
“Reconhecemos os Argelinos como sendo combatantes pela Liberdade e como libertadores do seu País, todavia, o Conselho faz a diferença entre o povo argelino e o Governo argelino. O dia virá em que os dirigentes argelinos vão ter que responder pela sua atitude em relação aos revolucionários líbios – acrescentou Ahmed Omar Bani”.
Tais reivindicações abertamente extremistas por parte dos novos dirigentes líbios foram recebidas na Argélia como uma ameaça à estabilidade política, como uma ameaça de repetição do cenário líbio no seu país. Ao comentar a situação em entrevista ao canal de televisão RTF, Aissi Kassa, membro do Buró Político da Frente de Libertação Nacional, o partido no poder na Argélia, disse:
“Estamos indignados contra semelhantes declarações de alguns membros do CNT, os quais por alguma razão estão empurrando a Líbia para uma intromissão nos assuntos internos da Argélia. Somos um Estado soberano, respeitamos a liberdade dos outros povos, mas somos contra uma intromissão desse tipo. Somos solidários com o povo líbio e lhe expressamos nossa compaixão nas dificuldades que está hoje atravessando. Estamos ligados por relações amistosas historicamente criadas entre os dois povos, os quais sempre souberam achar uma solução em relação aos problemas entre eles surgidos”.
P. S. Pois, é dessa forma que os novos dirigentes líbios, os quais serão com certeza apoiados pela “Conferência dos Amigos da Líbia”, convocada no 1 de setembro em Paris por iniciativa da França, vão dando uns primeiros passos diplomáticos na região da África Setentrional. Aí não se vislumbra o mais leve indício da boa vizinhança. Quanto ao próprio Muamar Kadafi, seu paradeiro continua desconhecido. Em todo caso, ele não se encontra no território argelino, com certeza absoluta.
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