domingo, 11 de setembro de 2011

Macau: Presença nacional na aviação chega ao fim "por decisão política" - Diretor




PNE

Macau, China, 11 set (Lusa) -- A presença portuguesa no setor da aviação civil em Macau chega esta segunda-feira ao fim com a saída do consórcio formado pela ANA e a estatal chinesa CNAC da gestão do aeroporto, após 16 anos, por "decisão política".

No início de 2010, o consórcio TAP/BNU (SEAP) vendeu a participação que detinha na Air Macau ao grupo da Air China.

Um ano depois, a Sociedade do Aeroporto Internacional de Macau (CAM) decidiu não renovar o contrato de gestão com a ADA - Administração de Aeroportos (constituída em 1994 pela ANA, com 49 por cento, e a China National Aviation Corporation -- CNAC, com 51 por cento), que geriu a infraestrutura desde a sua abertura, em 1995.

Após meses de negociações, a CAM adquiriu a ADA a 31 de agosto por cerca de 3,8 milhões de euros (45 milhões de patacas), indicou à agência Lusa fonte ligada ao processo.

José Carlos Angeja, um dos seis quadros da ANA em Macau e o terceiro e último a assumir a direção do aeroporto local, nos últimos quatro anos e meio, regressa a Lisboa com a "consciência de que o trabalho foi bem feito, ético, criterioso e profissional" ao salientar que a ADA foi provavelmente a "mais antiga e bem sucedida joint-venture" sino-portuguesa.

"O que aconteceu não foi devido à imputabilidade de um serviço mal feito, desvios orçamentais ou má prestação de um serviço operacional, foi uma decisão essencialmente política", disse em entrevista à Agência Lusa, sublinhando que a "decisão foi tomada em assembleia-geral da CAM, cujo sócio maioritário é o Governo [55%], não podendo deixar de ser política".

Questionado sobre o intuito dessa decisão, o responsável remeteu explicações para a CAM, que em março alegou apenas "razões comerciais" em linha com a política de 'continuidade e inovação' do Executivo e com o desenvolvimento económico da Região, sem especificar.

"Tivemos a primeira abordagem de aquisição em 2009 e tivemos a perfeita noção de que, sem o apoio que na altura tivemos do então chefe do Executivo [Edmund Ho], o que aconteceu agora teria acontecido em 2009", declarou ao salientar que essa intenção da CAM "não era velada".

A ANA "já esperava" este desfecho perante o "desenvolvimento rápido da Região" e a "passagem de Macau para a 'mãe China'", observou o responsável, destacando, porém, que "a única surpresa foi alguma facilidade e a maneira hábil como a CNAC, uma holding chinesa fortíssima com seis empresas grandes, uma delas a Air China, foi também forçada a vender".

"Com certeza que isto deve ter sido tratado a nível muito superior, de que não temos conhecimento nem nunca questionámos, mas obviamente tem de haver aqui alguma troca", considerou Angeja, para quem "algumas pessoas da CNAC ainda estarão a digerir" esta situação.

A ANA "fez tudo o que foi possível", constatou, admitindo que "houve conversas a nível diplomático, mas todos entenderam que, a partir do momento em que esta decisão, que foi política, estava consumada, haveria de se tratar da negociação de uma forma ética e sair de Macau com a cabeça levantada tal como quando se entrou".

A compra da ADA "era a situação mais privilegiada", segundo Angeja e como a própria proprietária do aeroporto reconhece, pois "a CAM nunca teve e não tem conhecimento suficiente para gerir" aquele espaço.

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