ORLANDO CASTRO*, jornalista – ALTO HAMA
Para se saber o que se passou na manifestação contra o democrata presidente de Angola, que está há 32 anos no poder sem nunca ter sido eleito, nada melhor do que ouvir a voz do dono do país, de seu nome José Eduardo dos Santos.
A Televisão Pública de Angola condenou a "tentativa de agressão" de que terão sido alvo os seus profissionais e da RTP. Estranho a TPA condenar as agressões? Não. De modo algum. É que, segundo esta correia de transmissão do regime, os agressores foram os jovens manifestantes.
De acordo com uma "nota de repúdio" da estação oficial do regime, veiculada pela agência noticiosa oficial do regime, a Angop, a TPA "repudia a acção e lembra que ela fere o direito dos telespectadores de serem informados" e diz ainda que se "solidariza também com os profissionais da RTP que de igual modo foram vítimas desta acção".
Aliás, em imagens que correram mundo, todos ficamos a saber que os jovens manifestante estavam armados até aos dentes, sendo visíveis – entre outro tipo de armamento – centenas de Kalashnikov…
Fonte oficial da direcção de informação da RTP disse à Agência Lusa que a estação já deu "conta da situação às autoridades angolanas" dos acontecimentos e que "com os jornalistas não houve problemas", mas que "o material [equipamento] ficou danificado". Por outras palavras, a RTP deu conta da situação aos que de facto foram os seus agressores. Não está mal.
A manifestação, no Largo da Independência, em Luanda, tinha como objectivo - condenável e atentatório das leis de um Estado de Direito - exigir "a destituição de José Eduardo dos Santos" e a "democratização dos órgãos públicos".
Mas, segundo os órgãos de propaganda do regime, o forte aparato repressor da Polícia (entre outras forças no local) não foi suficiente para evitar que os criminosos manifestantes agredissem os jornalistas.
As agressões, segundo jornalistas no local e que não são assalariados do regime, foram perpetradas por elementos civis que se encontravam igualmente no local, sem identificação. E como eram civis (apesar de bem armados e apoiados pela Polícia) só poderiam ser afectos aos manifestantes, isto no que concerne às agressões aos jornalistas.
Bom. Mas foram alguns desses civis que prenderam e levaram para parte incerta muitos dos manifestante. Pois foram. Mas estava tudo combinado. Os manifestantes não foram presos, foram apenas festejar para um local diferente…
"Contrariando as orientações da Polícia, alguns indivíduos, de forma anárquica, forçaram o cordão de segurança policial, proferindo ofensas verbais contra pacatos cidadãos que circulavam nas redondezas e aos efectivos da Polícia Nacional, alegando que pretendiam dirigir-se ao palácio", esclareceu a Polícia no comunicado.
Que mal educados são estes manifestantes. Como se já não bastasse, como diz a TPA, agredir os jornalistas, ainda resolveram ofender os agentes da segurança. Quando será que aprendem que só têm liberdade para estar de acordo com as ordens do dono do país?
*Orlando Castro, jornalista angolano-português - O poder das ideias acima das ideias de poder, porque não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado.
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