quinta-feira, 8 de setembro de 2011

SER RICO TAMBÉM É UM DIREITO




JOSÉ RIBEIRO – JORNAL DE ANGOLA, opinião em A Palavra ao Diretor

Os angolanos têm tanto direito a ser ricos como os ricos de qualquer país do mundo. O ideal é que a riqueza material bata à porta de todos em tal abundância que ajude que os pobres passem a ser uma má memória ou fantasmas do passado. Mas o sistema que Angola adoptou, e que é planetário, não permite que esse sonho corra livre, sem preconceitos nem obstáculos.


O mundo tem cada vez mais pobres. E os pobres têm o direito sagrado de lutar e de receber incentivos para saírem da pobreza. Os que são ricos e conquistaram esse estatuto pelo trabalho, pelo sacrifício e pela visão, têm esse direito que a lei angolana garante. Ser rico é também ser responsável e solidário. Por isso, nem os pobres precisam de ter vergonha da sua condição, nem os ricos têm que esconder a sua riqueza. Os pobres angolanos têm, devem ter, a solidariedade nacional. Aliás, muitas das políticas e muitos programas que estão em marcha em Angola visam acima de tudo acabar de vez com a pobreza.

A ordem natural da vida impõe contudo que para os angolanos criarem riqueza sustentável, Angola tem de ser rica em recursos humanos, ter um ensino de qualidade para abrir as portas do conhecimento a todos, as indústrias têm de ser fortes, o comércio ricamente organizado, a agricultura tem que ser a alavanca que arranca da pobreza as comunidades rurais e as parcerias internacionais têm que ser habilmente estabelecidas, para que ninguém nos venha enganar.

Em cada país todos os anos se publica a lista dos mais ricos. Todas as nações se orgulham de ter os seus ricos. Mas entre nós isso parece ser um martírio, porque os empreendedores angolanos estão muito marcados por aquela “humildade” retrógrada de que muito falou Agostinho Neto.

Os ricos angolanos devem ser orgulhosos desse seu estatuto e não precisam de se envergonhar da sua riqueza. Nem devem ficar encolhidos quando alguns meios de comunicação social, com a maior das latas, os tentam hipocritamente insultar ou enxovalhar.

Muitos angolanos já viajaram o suficiente para estarem habituados ao maniqueísmo que domina a filosofia ocidental: um rico europeu, americano ou asiático é um magnata, mas quando um africano se apresenta com um bom carro e vive numa boa casa, é logo corrupto. Mas se um francês aparece ao volante de um Ferrari e vive num palacete num bairro elegante de Paris ou se comprou uma grande fazenda em Angola, é apenas um milionário. Ainda que seja corrupto, esse pormenor é cuidadosamente removido para debaixo do tapete.

Os angolanos conhecem bem o mundo, cultivam o prazer de viajar. O “muangolé”, o emigrante angolano conhece as grandes riquezas que transbordam das capitais nos Estados Unidos, Portugal, Inglaterra, China, Rússia – e sabe muito bem como elas se fizeram. Mas os angolanos que trabalham para darem riqueza à sua terra, abrindo empresas e bancos, criando gado e plantando produtos agrícolas para combater a fome e a pobreza, construindo casas e apartamentos, são insultados e não poucas vezes difamados ou caluniados. Como se não tivessem o direito de realizar o seu “american dream”.

Os ricos angolanos que mostrem a alma. Que mostrem à sociedade e ao mundo que merecem ser ricos. Que criam riqueza para eles e para o país. Que revelem quantas pessoas têm uma vida digna e confortável devido às suas acções, à sua solidariedade, à sua forma fraterna de estar na vida. Mostrem os carros que têm, os aviões particulares em que viajam, as mansões que lhes servem de morada. Os ricos angolanos que mostrem que gostam de viver bem, que adoram o país e este povo, que se derretem pela nossa música, pela nossa gastronomia, pela nossa dança, pelas nossas mamãs, pelos nossos camponeses, pelos nossos pobres que tanto queremos arrancar da pobreza.

Numa altura em que o sistema financeiro mundial está em crise e que os mais ricos do mundo procuram novas fontes de riqueza, os ricos angolanos devem revelar-se, mostrar que não são uns pobres diabos arruinados e que Angola sabe também trabalhar e vencer com dignidade nessa matéria.

Mas uma coisa é segura: estou consciente que hoje é mais fácil mover uma montanha do que um preconceito.

1 comentário:

Anónimo disse...

A LÓGICA CAPITALISTA PARA ANGOLA É ABSOLUTAMENTE DISPENSÁVEL!

1 ) Este artigo, num momento em que o capitalismo pela via do império dá sinais de acabar com qualquer hipótese a uma questão que lhe é essencial, a concorrência, é duma pobreza intelectual confrangedora: não reconhece o beco sem saída em que o capitalismo está a cair, quando África continua a ser a primeira grande vítima do desespero a que ele está a conduzir toda a humanidade.

2 ) Por outro lado, não respeita o esforço vital daquelas gerações de angolanos que no âmbito do movimento de libertação, lutando contra o colonialismo, contra o "apartheid" e contra suas sequelas, tinham e têm no socialismo a melhor visão de felicidade, equilíbrio e justiça social para o presente e o futuro.

3 ) Em Angola só há ricos por que foi privilegiada a lógica capitalista desde 1985, com todo um cortejo de injustiças sociais gritantes: é imenso o fosso que separa um punhado do resto da população e isso é sobretudo visível na geografia humana da cidade capital, Luanda!

4 ) É por causa deste tipo de argumentos que em praticamente todos os projectos não se vislumbra "pinta" do tal "socialismo democrático", pelo contrário: mantém-se a tendência para o elitismo, por vezes com projectos megalómanos e mal equacionados, não sendo por acaso que Luanda é considerada a "cidade mais cara do mundo"!

5 ) Quantos ricos angolanos não se estão a tornar agentes desse capitalismo, desrespeitando o esforço de várias gerações que perseguiam o sentido da vida para o povo angolano e para toda a humanidade?

6 ) Falta coragem à classe dirigente para seguir a trilha heróica do movimento de libertação e isso está a fazer com que muitos angolanos capitulem e façam com que também Angola escorregue para a situação típica duma neo colónia!

7 ) A SADC é das poucas esperanças que há em África e isso ficou visível com a tomada de posição em relação ao caso da Líbia, todavia a energia que advém do movimento de libertação está a perder-se e a responsabilidade, mais que individualizá-la, cabe por inteiro à lógica capitalista que está a ser absorvida sem qualquer resistência por parte daqueles que deveriam dar o exemplo de inteligência alternativa, de amor, patriotismo e respeito para com todo o povo angolano e para com África!

Martinho Júnior.

Luanda.

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