segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Cabo Verde: Pedro Pires dedica prémio Ibrahim a todos os combatentes da independência




JSD - LUSA

Cidade da Praia, 10 out (Lusa) - O ex-Presidente de Cabo Verde, galardoado hoje com o Prémio Ibrahim, dedicou a distinção a todos os combatentes da independência e mostrou-se "orgulhoso" por os colegas africanos o terem escolhido.

"Apanhado" pela Agência Lusa e pela Rádio de Cabo Verde (RCV) em pleno ginásio, onde fazia a tradicional ginástica matinal, Pedro Pires interrompeu o "treino" e, de sapatilhas, pólo e calças de fato de treino, indicou que ainda não sabe o que vai fazer ao dinheiro -- cinco milhões de dólares (3,7 milhões de euros) repartidos por 10 anos -, salientando, porém, que "são conhecidas" as suas "dificuldades materiais".

"É um reconhecimento dos 50 anos dedicados inteira e exclusivamente à política e à causa da independência e da democracia"", disse Pedro Pires, que adiantou ter tido conhecimento do prémio antes de seguir para o ginásio na capital cabo-verdiana.

Pedro Pires, um dos obreiros da independência das antigas colónias portuguesas em África, foi primeiro-ministro de Cabo Verde entre 1975 e 1991, e presidente da República de 2001 até setembro último, quando se retirou da vida política, para se dedicar a escrever as suas memórias.

Salientando que as responsabilidades agora aumentam, Pedro Pires adiantou que, apesar dos 50 anos dedicados à causa, ainda tem muito pela frente.

"O prémio é por aquilo que já fiz. Mas o meu compromisso continua, a não ser que eu tenha alguma limitação de outra ordem, de saúde e da idade. Mas o meu compromisso com África, com a paz em África, com a modernização institucional de África, continua permanente", afirmou.

"Os decisores, os analistas e avaliadores dos diversos chefes de Estado africanos consideram que eu cumpri. Certamente, estou à espera que isso me vá solicitar muita coisa. Por isso, as responsabilidades continuam e tenho de continuar a pensar e refletir o futuro de Cabo Verde, da África Ocidental e de África, que tem muitos problemas. Vou continuar empenhado", garantiu.

Realçando que "todos aqueles que têm trabalhado pelo progresso de Cabo Verde são merecedores, beneficiários e fazem parte do prémio", Pedro Pires admitiu que a distinção é "uma honra para qualquer um".

"Acredito que os meus amigos estejam contentes com isso e que para os que sempre confiaram em mim, que seguiram comigo esta longa caminhada de 50 anos - que não terminou ainda, porque entendo que a libertação é um longo processo para se consolidar e desenvolver, pode até ter retrocessos - é um prémio para todos os meus companheiros", acrescentou.

"É a prova de que quando nós nos comprometemos e empenhamos num projeto podemos ver os resultados sempre. Se se pode falar numa palavra orientadora seria trabalho, honestidade, idoneidade e lealdade às causas. Há aqui uma lealdade a uma causa", sublinhou o ex-chefe de Estado cabo-verdiano.

Assegurando que não cultiva falsas modéstias, Pedro Pires salientou, porém, que "é bom" ser reconhecido, "mesmo que seja nos últimos anos de vida".

"Este prémio é bom, gratificante para mim e para os meus, para a minha família - tenho uma enorme família -, mas ainda para os meus companheiros da Guiné-Bissau, Cabo Verde, Angola e Moçambique, que fizemos juntos essa caminhada, mesmo que hoje alguns já não estejam entre nós", referiu.

Pedro Pires admitiu que já sabia que era um dos nomeados, mas que fora "interditado" de comentar o facto, "nem mesmo com a família".

"Sempre sonhei com um mundo mais pacífico, mais justo, sobretudo com um mundo que não cultive só a força mas deixe um lugarzinho para a razão, porque nós todos temos os mesmos direitos. Um bocadinho de razão, para que a força não condicione a distribuição ou a afetação dos recursos da Humanidade", concluiu.

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