sábado, 1 de outubro de 2011

CAVACO SILVA, UMA REVISITAÇÃO DE OLIVEIRA SALAZAR




ANTÓNIO VERÍSSIMO

UM REACIONÁRIO EM BELÉM

Estamos a assistir ao inimaginável pela maioria dos portugueses. Tão inimaginável que ainda hoje uma parte muito substancial dos portugueses se revela amorfa relativamente aos “sacrifícios para todos” que a classe política nos exige com o maior dos desplantes e a maior das injustiças. Os “sacrifícios para todos” são na realidade somente para a classe média e para aqueles que quase nada têm mas que estão a ser conduzidos para uma situação de quase esclavagismo ao perderem os direitos que confere ao patronato plenos poderes para sujeitar ou despedir os que neste país são a força produtiva.

Há cerca de duas décadas que assistimos à incompetência e ao depauperar de garantes constitucionais produzidos pela pessoa de Cavaco Silva desde que num nefasto dia foi fazer a rodagem do automóvel a um congresso do PSD em Aveiro e de lá saiu dono do burgo laranja, passando a dono do burgo nacional pouco depois, ao ser votado com maioria em eleições que lhe deram acesso ao cargo de primeiro-ministro. Com maior incidência foi exatamente a partir desse momento que os portugueses começaram a ver malbaratados os seus direitos, liberdades e garantias. Os milhões então provindos da CEE, atual União Europeia, transformaram-se em alcatrão e em betão, os latifúndios renasceram, os grandes da agricultura viram os seus cofres a abarrotar num processo que teve o macabro mérito de destruir a produção agrícola nacional. O mesmo se passou nas pescas. O mesmo se passou quase por toda a parte. Portugal transformou-se num razoável entreposto mercantilista em que o negócio imposto era não produzir. Por esse não produzir os cada vez mais ricos arrecadaram milhões. A decadência do país e dos portugueses começou com Cavaco Silva. Os que lhe seguiram, do PS, quase nada fizeram para contrariar as políticas erradas de Cavaco durante cerca de uma década como primeiro-ministro. O PS em muitos casos ainda agravou mais a situação.

Assistimos ao regresso de Cavaco há meia dúzia de anos… para concretizar ainda mais as políticas de descalabro que geram miséria e fome para os portugueses de menores recursos. Os homens de mão que o rodeiam e que representam o regresso ao passado quase salazarista estão espalhados por todos os poderes na atualidade. Não é por acaso que Cavaco Silva pouco diz e se revela presidente de uma república que não é a de todos os portugueses. Cavaco Silva está recheado de falsidades na perseguição de um objetivo: servir os portugueses mais ricos e os da alta finança internacional, que ficarão cada vez mais ricos. Cavaco Silva personifica a nossa destruição enquanto país. Felizmente é impossível destruir este povo, por mais que procure fazê-lo. É evidente que ele representa aquilo que não queremos, a miséria para onde nos tem empurrado.

Hoje, os portugueses, alguns, vão sair à rua e manifestarem-se contra estas políticas semelhantes em muito ao salazarismo derrubado em Abril de 1974, a organização do protesto é da Intersindical Nacional – CGTP, que dizem afeta ao PCP. Que lhe é afeta… será. Mas isso que importa se a razão está daquele lado? Vamos ver a aderência ao protesto e só depois poderemos fazer a análise justa. Certo é que os trabalhadores portugueses que produzem a maior parte da mais-valia estão a ser roubados por este regime cavaquista e da ala laranja do PSD submetida a Cavaco Silva. Foi ele na qualidade de PR que afirmou que teríamos de fazer bastantes sacrifícios, todos os portugueses, “mas com justiça”, disse. Com aquele ar seráfico, tenebroso, afirmou-o. Afinal onde está a justiça dos sacrifícios que nos estão a impor? Cavaco já se insurgiu contra as injustiças? Não. Antes pelo contrário. Afinal para ele e os de sua eleição, que o rodeiam, a vida é fácil. Até têm beneméritos que lhes compram ações da bolsa com valores muito superiores à sua valia. Caso de Oliveira e Costa, do BPN, o benemérito que deu lucros inadmissíveis a Cavaco e à filha. Por nada, só porque o homem estava em dia de fazer ofertas de negócios a perder. Praticou a boa ação com Cavaco Silva e com a filha… Mas podia ter sido um pobretanas anónimo qualquer a beneficiar. Calhou a Cavaco, sorte… naquele dia. E, talvez ainda mais sorte nos dias que nem sabemos… Passos Coelho não passa de um instrumento dos sevandijas. Formado na juventude laranja, onde lhe extraíram a coluna vertebral, como a tantos outros.

Cavaco nem consegue ser eminência parda. Só não sabe quem não quer, que esta obra de avanço selvagem da direita e do capital é dele. É ele o principal causador de os que trabalham estarem a ser levados para uma situação esclavagista. Obra que começou há cerca de duas décadas e que agora quer finalizar pela parte que lhe cabe. A obra é dele, ao serviço do patronato e do capital reacionário.

Hoje, ele e o seu governo com Passos Coelho tiveram parte da resposta dos trabalhadores no protesto que ainda há pouco terminou em Lisboa e no Porto, onde se manifestaram cerca de 180 mil portugueses, segundo a CGTP. Na semana de 20 a 27 de Outubro está prevista uma vaga de protestos e greves conforme o que foi aprovado nas manifestações. As ações de luta por certo que se vão radicalizando contra os sevandijas que na política servem interesses adversos aos mais elementares direitos dos que trabalham. Vamos ter tempos de muita luta por via do presente e pelas perspetivas futuras já serem de fome e miséria. Cavaco é uma revisitação de Salazar, um reacionário em Belém.

* Texto parcial a publicar em Página Lusófona – blogue do autor – que inclui apontamentos sobre Angola e Timor-Leste

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