ORLANDO CASTRO*, jornalista – ALTO HAMA
Em África não há prédios em escombros para mostrar (e as cubatas não têm o mesmo impacto mediático), gente morta e ferida é tanta que já deixou de ser notícia…
Barack Obama acredita que vai ajudar a pôr ordem em África. Enquanto as armas chegam a todos os que têm dinheiro (neste caso não há terroristas bons e maus) os EUA decidiram agora enviar uma centena de soldados para o Centro de África, para aconselhar os responsáveis militares locais a capturar Joseph Kony, chefe do Exército de Resistência do Senhor (LRA), que há duas décadas semeia o terror em vários países da região.
Joseph Kony deve ter feito agora alguma maldade aos súbditos dos tio Sam. Se ele e os seus homens matam tudo o que lhes aparece pela frente há décadas, porque será que só agora o assunto preocupa os EUA?
O LRA é acusado desde sempre pelos massacres de civis, mutilações e raptos de crianças (de rapazes para combater, e de raparigas para serem usadas como escravas sexuais), e em 20 anos de tiros e violência de toda a espécie morreram dezenas de milhares de pessoas e os deslocados são mais de dois milhões.
Os confrontos cessaram em 2006, quando foi lançado um processo de negociações, mas o diálogo falhou dois anos depois, quando Joseph Kony se recusou a assinar um acordo para acabar com as atrocidades.
Todo o mundo sabe que centenas de milhares de crianças, mulheres e homens inocentes foram, são e serão mortos naquela região.
Mas o que é que isso importa? Para saber o que se passa nesta região do mundo onde habitam pessoas de segundo ou terceiro nível (África), o leitor terá de fazer uma busca exaustiva. É muito mais fácil e simples saber o que se passa na Palestina, na Líbia ou no Cazaquistão.
De facto, se quiser ler tudo sobre as centenas de mortos palestinianos na Faixa de Gaza, ou a meia dúzia de israelitas vitimados pelo Hamas, basta comprar o primeiro jornal que encontrar, ouvir a primeira rádio ou olhar para qualquer canal de televisão.
Para saber que nos conflitos da África Central terão morrido, nos últimos anos, qualquer coisa como cinco milhões de pessoas, naquilo a que a Igreja Católica congolesa chama de “o maior drama mundial desde a II Guerra mundial”, o leitor terá de fazer uma busca exaustiva.
O mesmo acontece se quiser fazer contas aos milhares de mortos com cólera na Zimbabué, à fome em Moçambique ou à repressão de Angola na sua colónia da Cabinda.
Até se compreende a posição dos EUA, bem como da ONU. Para começar o LRA não é constituído por brancos, além disso é preciso ver que existe uma substancial diferença entre ser massacrado no Congo ou na Faixa de Gaza.
Desde logo porque, ao contrário de Israel, no Congo são pretos e não têm bons hotéis para albergar os jornalistas internacionais.
Os africanos ainda não perceberam que até para se ser notícia quando se morre é preciso ter sorte. O importante é o que a Imprensa mostra: Prédios em escombros, gente morta e ferida. É assim na Faixa de Gaza.
Em África não há prédios em escombros para mostrar (e as cubatas não têm o mesmo impacto mediático), gente morta e ferida é tanta que já deixou de ser notícia…
* Orlando Castro, jornalista angolano-português - O poder das ideias acima das ideias de poder, porque não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado.
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