segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Cabo Verde: …CRÓNICA PARA “OS CANALHAS DO COSTUME”…




ABRAÃO VICENTE – LIBERAL, opinião

Liberal acaba de encontrar este texto fabuloso de Abraão Vicente no seu blog. Pela qualidade do conteúdo e pela importância do tema nos dias que correm, com a merecida vénia ao autor, publicámos o texto para proveito dos nossos leitores. Recordamos que o autor é deputado do Movimento para a Democracia, MpD.

…CRÓNICA PARA “OS CANALHAS DO COSTUME”…
O IMPROVÁVEL “TRIUNFO DOS PORCOS”… OU SIMPLESMENTE “ISSO DE TER IDEAIS”!

Somos pequenos demais. Somos tacanhos demais para merecer alguma outra denominação senão “laboratório de experiências”. Tantos Doutores e tantos mestres para que? Para continuarmos nessa mentalidade tacanha de só ver o que nos convém, de só lutar pelo que nos dá benefícios directos. Estamos em maus lençóis como sociedade e como Nação. Somos canibais e sanguinários, somos mesquinhos e brutais. Nenhuma causa nos move, nenhuma nobreza nos vai na alma.

Se por um lado existe essa juventude revoltada e ousada, essa nova casta de cabo-verdianos que vem das massas e estão desejosos de triunfar na vida, por outro lado temos essa massa cinzenta e apática que quer ser muro e betão armado, grades e muralhas. Essa gente preconceituosa e demente que só quer manter o status quo. A todo o custo manter o status quo.

O caso da má gestão da Electra e do falhanço da hipotética política energética do governo desmascara a essência das faces maquilhadas dos cabo-verdianos. Põe a prova a convicção dos políticos e a seriedade dos jornalistas, desvenda de que fibra é feito o discurso dos críticos e cronistas, passa a limpo as verdades da tal sociedade civil. Uma simples concentração/manifestação e as reacções que se seguiram, revelaram o que vai na alma dos mesquinhos e dos “Velhos de Restelo” de serviço.

Por curtas palavras: esta sociedade está inundada por gente preconceituosa que não hesita em mentir, em rotular, em apontar os dedos e condenar, em avaliar, em ajustar contas em julgar na praça pública. Uma boa percentagem desta sociedade está mais preocupa com o supérfluo, com ideias preconcebidas, com carros e roupa de marca do que com alguma causa comum ou colectiva. Esta sociedade está colonizada por indivíduos egocêntricos e oligarcas que, quer no poder quer na oposição, pensam só e unicamente em manter os seus privilégios e a sua situação social. O povo é sistematicamente afastado do núcleo do poder e das decisões centrais por estratégias e manipulações eleitorais, por esquemas de promoção selectiva dos lambe botas de costume.

Indo mais além, tocando na política partidária: eu não entrei na política por favor de ninguém ou para servir interesses deste ou daquele. Enganados estão aqueles que pensam poder condicionar a minha liberdade de expressão ou de pensamento. Tenho muito claro as minhas ideias e convicções. Tenho uma relação de respeito e lealdade com o MpD, mantenho uma relação de total honestidade intelectual com o líder do partido e com as figuras com as quais melhor me identifico. Mais, trabalho todos os dias para honrar os compromissos eleitorais que o partido assumiu e que como oposição tentaremos ajudar a concretizar. Estarei no parlamento enquanto defensor dos interesses da população e em respeito aos valores do partido que me elegeu.

Defendo causas e não é por haver criticas ou bocas que a minha essência muda. Sou deputado nacional pelas listas do MpD porque é o partido com cujos valores me identifico, mas não sou nem serei nunca prisioneiro dos modus operandi nem das leituras e ambições políticas de grupos instalados na politica nacional. E depois, que estória é essa de politico ter medo de assumir o seu partido mesmo quando defende as grandes causas nacionais? Por exemplo, na manifestação também estavam Indira pires, Luís Leite e Edson Medina mandatários nacionais para a juventude dos candidatos presidenciais Aristides Lima, Jorge Carlos Fonseca e Manuel Inocêncio respectivamente. Também estavam professores, investigadores, artistas, empresários e funcionários públicos. Defender uma causa comum muda algo às nossas convicções pessoais? Não, apenas as reforça. Somos apenas jovens de uma outra geração: a geração consciente.

Por outro lado, tampouco serei vítima da lavagem cerebral que o partido no poder e a sua bancada parlamentar têm em marcha. A instalação do pensamento único, a criação do sistema de poder do PAICV. Dogmas e doutrinas que falharam por onde passou o socialismo fruto dos movimentos independentistas e que abriram feridas incuráveis nas respectivas sociedades.

Penso pela minha própria cabeça e isso incomoda muita gente neste país. Para muitos o mais grave ainda é o facto de ter conquistado espaço próprio e não andar na sombra de ninguém. Por isso mesmo fica o aviso: estou na vida pública cabo-verdiana para ficar. Estou na vida pública cabo-verdiana para agir. Tinha espaço de acção antes de entrar na política e continuarei a ter depois da política.

Tenho sinais claros, que a grande maioria dos cabo-verdianos, os tais que não tem acesso à internet, que vivem excluídos e em condições de vida deploráveis, os jovens que estudam arduamente e andam à procuram de emprego, os que tais que não tem assento nos partidos e nos órgão de decisão, muitos jovens inteligentes, honestos, sonhadores de zonas urbanas e rurais deste país…esses aprovam a irreverência e a voz dos que os defendem honestamente e convictamente. Tenho a certeza que na hora certa a sociedade saberá dar razão àqueles jovens que comandaram o 07 de Outubro e quiseram manifestar um novo tempo…novo tempo de novas escolhas, novas opções, novos ideais. Estou convicto.


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