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Rio de Janeiro, 21 out (Lusa) - A Prefeitura do Rio de Janeiro iniciou esta semana as primeiras medidas para desalojamentos dos moradores da comunidade da Vila Autódromo, cuja área terá de ser desocupada para a construção do Parque Olímpico dos Jogos de 2016.
Antiga vila de pescadores, a zona expandiu-se e tornou-se numa comunidade na década de 1970. Localizada junto ao atual Autódromo Internacional Nelson Piquet, em Jacarepaguá, na zona oeste da cidade, e com casas também de classe média, a comunidade possui especificidades que fazem a sua remoção a mais difícil das que já foram realizadas até ao momento.
Uma das razões da dificuldade é o facto de boa parte dos habitantes possuir título de posse do imóvel, distribuído em 1993, quando o então governador Leonel Brizola tentou legalizar o bairro.
No dia em que ocorreu a primeira visita de funcionários da Prefeitura para identificação das famílias e medição dos imóveis, a maioria dos moradores dizia não querer sair e reclamaram falta de informação a respeito sobre o seu destino.
"Teve uma reunião aqui no domingo, e eles prometeram um apartamento na Estrada dos Bandeirantes [região próxima do local]. Agora, parece que deu um problema e que o prefeito desistiu de comprar esse terreno, então quero saber para onde vão mandar a gente", protestou a motorista Cristiane Macedo, que disse não querer deixar sua casa "erguida à base de muita luta".
À Lusa, a Secretaria de Habitação explicou que a compra do terreno foi apenas suspensa, temporariamente, até que um perito independente confirme o valor justo a ser pago pelo local, para que não fiquem dúvidas quanto à "lisura" do processo, como algumas publicações locais chegaram a sugerir.
O responsável acrescenta que, caso a compra não venha a ser concretizada, será oferecido outro imóvel, também num local próximo da comunidade, para garantir proximidade do trabalho e das escolas frequentadas pelas crianças.
A comerciante Vânia Cristina foi uma das que já recebeu a visita de funcionários da Prefeitura na sua casa. Os responsáveis, afirmou, fizeram medições e pediram autorização para entrar e fotografar o interior do imóvel, mas não explicaram o motivo do trabalho.
"Eu não queria sair, porque é uma comunidade muito tranquila, moro aqui há 13 anos, mas a gente não pode brigar com quem tem poder", afirmou, resignada.
Já o marceneiro Josiel de Oliveira, que também teve seu imóvel cadastrado esta semana, está decidido a comprar uma guerra para não sair.
"Quando perguntaram se podiam entrar, eu perguntei para o que era, e eles disseram que não iam me responder, então não deixei", contou.
Josiel explica que a alternativa que lhe oferecem - um apartamento num conjunto habitacional popular construído pelo governo - não correspondente às suas necessidades.
"Se tiver de sair, vou perder o meu trabalho, porque trabalho com marcenaria, preciso desse espaço aberto, num apartamento não tem jeito", argumentou.
Outro problema apontado são as contas extra que virão com a mudança. "Tem morador aqui que a gente sabe que vive de 'gato' [furto de energia elétrica por meio de ligação clandestina]. Acho que quem está aceitando a proposta, não está pensando nas contas que vão passar a ter de pagar, e muita gente não tem condição", acrescentou Vânia.
Nem todos são unânimes nas contestações. Milton Araújo esteve na reunião realizada no último domingo e achou que as condições oferecidas eram justas.
"Esta reunião de domingo foi a primeira vez que as coisas ficaram claras para gente. Não queria sair, mas se for para uma melhoria, quem não quer ser feliz?", disse à Lusa.
A previsão é de que a remoção seja concluída até 2013. A comunidade em questão fica ao lado da região onde será construído o Parque Olímpico, uma das principais obras referentes aos Jogos de 2016, que se realizarão no Rio de Janeiro.
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