ANDRÉ DAMON - WSWS
No início do mês, o World Socialist Web Site informou que operários estão sendo contratados por US$ 12 a hora na planta da Volkswagen em Chattanooga, Tennessee, e que a BMW abriu uma nova linha de montagem em Spartanburg, Carolina do Sul, onde emprega principalmente trabalhadores temporários a US$ 15 a hora.
Esses salários, entre os mais baixos pagos a metalúrgicos de qualquer parte do mundo desenvolvido, são resultado de um ataque implacável contra os padrões de vida dos trabalhadores americanos durante as últimas três décadas. Esse ataque atingiu novos patamares desde que a crise financeira irrompeu em 2008.
Com o pleno apoio da administração Obama, corporações de dentro e fora dos EUA estão explorando níveis de desemprego e pobreza que encontram precedentes somente na Grande Depressão para transformar os EUA numa plataforma de força de trabalho barata, que possa competir diretamente com México, China, e outros países.
O Tennessee, assim como quase metade dos estados dos EUA, tem uma taxa de desemprego em torno de 10%, e sua verdadeira taxa de desemprego é provavelmente o dobro. Quando a Volkswagen começou a aceitar candidatos para 1.700 vagas de emprego em Chattanooga, recebeu 65 mil aplicantes nas primeiras três semanas. Ao cortar os custos da mão de obra em ao menos um terço na sua fábrica americana, a Volkswagen é capaz de vender carros por US$ 7.000 menos do que modelos comparáveis fabricados na Alemanha.
Com a ajuda do dólar em desvalorização, a diferença salarial entre os trabalhadores americanos e suas contrapartes brutalmente exploradas no México e na Ásia está sendo rapidamente reduzida. Questionado por um colunista do New York Times sobre por que a Siemens escolheu construir uma nova fábrica em Charlotte, Carolina do Norte, em vez da China, um porta-voz disse que, para trabalho altamente qualificado, o diferencial de custo da mão de obra não era grande. “Para este tipo de fabricação”, disse, “os EUA podem competir com a China”.
A redução dos salários é um componente central do plano da administração Obama de dobrar as exportações dos EUA até 2015. Sem fazer nada para atenuar a crise de desemprego, a administração encabeçou a iniciativa dos cortes salariais durante as falências forçadas e a restruturação da General Motors e da Chrysler em 2009.
Se apoiando na ameaça de liquidação, a Casa Branca exigiu a implementação ampliada de salários de fome por toda a indústria, tirou dos trabalhadores o direito de greve e demandou que as fábricas não sindicalizadas no Sul, operadas por fabricantes asiáticos e europeus, se tornassem a nova referência de custos da força de trabalho. Isso resultou num boom de lucros para os fabricantes automotivos baseados nos EUA, que, por sua vez, se recusavam a oferecer qualquer aumento salarial para os trabalhadores, enquanto distribuíam dezenas de milhões de dólares em bônus para executivos.
Longe de defender os interesses dos trabalhadores, a central sindical United Auto Workers (UAW, sigla em inglês) facilitou o rebaixamento sistemático dos salários. O acordo recentemente assinado pela UAW aumentará os custos horários da mão de obra da GM em apenas 1% ao ano, a menor taxa nas últimas quatro décadas. Isso inclui planos para expandir rapidamente o número de trabalhadores cujo salário de US$ 15 a hora os coloca no mesmo patamar dos operários da planta da Volkswagen em Chattanooga.
Por décadas, a UAW e outros sindicatos bradaram que os trabalhadores em países de baixo salário “roubavam empregos americanos”. Agora o presidente da UAW, Bob King, propagandeia que a GM redirecionou a produção de plantas mexicanas de volta para fábricas representadas pela UAW no Michigan e outros estados.
O parâmetro salarial baixo estabelecido pelo UAW desencadeou uma competição para rebaixar os salários por toda a indústria automotiva global. Trabalhadores europeus agora estão sendo informados que precisarão aceitar concessões salariais como as americanas assim como “flexibilidade trabalhista”, do contrário, suas fábricas serão fechadas. Como o WSWS observou no início do mês, no mesmo ano em que a BMW anunciou que iria transferir a produção de seu utilitário esportivo X3 para Spartanburg, Carolina do Sul, anunciou também 5 mil demissões na Alemanha.
O severo declínio nos padrões de vida dos trabalhadores metalúrgicos é particularmente significativo porque eles são historicamente os trabalhadores industriais mais bem pagos dos EUA, recebendo assim-chamados salários de “classe média”. Mas a experiência de destruir os salários e as condições de trabalho é comum a todo setor da classe trabalhadora no que se tornou o “novo normal” na América.
Desde o início do mergulho econômico, os salários estão em queda livre, e não há qualquer perspectiva de recuperação no mercado de empregos. De acordo com um relatório de censo divulgado no início do mês, a renda média real do lar americano caiu 2,3% (US$ 1.154) no ano passado e 7,1% abaixo da taxa atingida uma década antes. Trabalhadores jovens foram fortemente atingidos, com mais de um terço dos lares encabeçados por um pai de menos de 30 anos vivendo na pobreza em 2010.
Essas condições intoleráveis só podem ser revertidas através da resistência coletiva da classe trabalhadora. Novas organizações de luta, independentes do UAW e outras organizações anti-trabalhistas, precisam ser construídas como pontas de lança de uma luta industrial e política de todos os setores da classe trabalhadora - sindicalizados ou não sindicalizados, em manufatura e serviços, em companhias dos EUA e estrangeiras. Em cada fábrica, escritório, loja, os trabalhadores devem estabelecer comitês para planejar e organizar a resistência coletiva aos cortes salariais e demissões.
Essa luta exige uma perspectiva política inteiramente nova. O chauvinismo nacional e a corrida até o fundo promovidos pelos sindicatos e pelos partidos dos grandes negócios precisam ser rejeitados para que os trabalhadores dos EUA possam conscientemente se unir com os da Europa, Ásia e América Latina.
É preciso compreender que essa batalha não é simplesmente contra esse ou aquele empregador, mas contra todo o sistema capitalista, que empobrece a maioria da população mundial para enriquecer a minoria rica. Em todos os países, os partidos políticos e sindicatos defendem o sistema do lucro e são cúmplices na pilhagem da sociedade pela aristocracia corporativa e financeira.
Nos EUA, a administração Obama demonstrou que o Partido Democrata, não menos que o Republicano, é um instrumento de Wall Street e das corporações, determinado a retalhar os padrões de vida e acabar com programas sociais de vital importância.
A classe trabalhadora precisa construir um partido político de massas que lute para colocar o poder em suas próprias mãos. A ditadura econômica dos bancos e das grandes corporações precisa ser quebrada e a vida econômica precisa ser reorganizada de modo a atender os interesses das massas trabalhadoras que criam a riqueza da sociedade.
O Partido da Igualdade Socialista levanta a transformação dos grandes aparatos financeiros e industriais, incluindo a indústria automotiva, em serviços de utilidade pública. O capitalismo precisa ser substituído por um sistema planejado e racional baseado nas necessidades sociais, e não nos lucros dos bilionários. Somente assim o direito ao emprego e a um salário decente pode ser garantido para toda a população.
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