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Se ressuscitasse, Samora Machel ficaria "profundamente dececionado" com a conduta de alguns dirigentes atuais e com a "libertinagem no país e morreria no segundo seguinte", ironizou, em declarações à Lusa, uma das suas filhas, Ornila Machel.
Samora Machel, que proclamou a independência de Moçambique a 25 de junho de 1975, nasceu a 29 de setembro de 1933 no distrito de Chilembene, província de Gaza, sul do país, e morreu a 19 de outubro de 1986, num desastre de avião.
Para assinalar a passagem do 78º aniversário do nascimento e do 25º aniversário da morte do considerado "pai da nação moçambicana", o Governo decretou 2011 "Ano Samora Machel", ordenando a construção de estátuas e a realização de diversas atividades evocativas do falecido estadista.
Em entrevista à Lusa em Maputo, Ornila Machel, 48 anos, uma das filhas de Samora Machel, elogiou o movimento nacional de evocação do nascimento e morte do seu pai.
"O que aprendemos dele é celebrar a vida de um indivíduo, pelos seus feitos. Sentimo-lo sempre presente, sempre connosco", afirmou Ornila, enfermeira e uma das fundadoras do Centro de Documentação Samora Machel, fundado pela família Machel para o arquivo e acesso público de toda a bibliografia do "pai" da nação moçambicana.
Para a família Machel, a evocação da figura do ex-Presidente só tem mérito na identificação da atualidade do seu pensamento, porque, como considera Ornila Machel, Samora Machel já alertava para os desvios que a sociedade moçambicana atual está a conhecer.
"Não se revia nesta forma de liberdade, que no fundo é muita libertinagem, muitos valores estão degradados, a falta de respeito e a consideração pelas pessoas (...) Ele sempre dizia, `Presidente sou eu, vocês são os meus filhos`, e por isso respeitem as pessoas", recorda.
Samora Machel, prossegue a filha, ficaria profundamente dececionado com a conduta de alguns dirigentes do seu próprio partido, FRELIMO, no poder: "Ele preocupava-se com o comportamento e a honestidade dos dirigentes, era disciplinado e disciplinador. Não havia de se rever, de modo nenhum, no comportamento de alguns... Se ressuscitasse, morreria no segundo seguinte", enfatiza Ornila Machel.
A filha do falecido chefe de Estado moçambicano referia-se à corrupção, nepotismo e negligência, que pontuaram o vocabulário dos 11 anos de Presidência do falecido chefe de Estado.
Mas aos 78 anos, e mesmo atento aos problemas do seu povo, Samora Machel certamente "estaria reformado", a desfrutar a velhice na sua terra natal, Chilembene, porque "não estava agarrado ao poder, não era o ditador que muitos pensavam", descreve ainda Ornila Machel.
"Defendia a transformação gradual, para não violentar as pessoas, dizia que não se brinca com o poder, mas não estava agarrado a ele, falava em ir para a reforma, não queria ser um Presidente vitalício, já estava a haver uma abertura, aos poucos", assegura Ornila Machel.
*Foto em Lusa
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