sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Mundial - Brasil: Queda de ministro do Esporte abala confiança na organização da Copa




DEUTSCHE WELLE

Desde que foi escolhido para sediar a Copa de 2014 e as Olimpíadas, em 2016, o Brasil tem tido que comprovar capacidade de cumprir requisitos de organização, infraestrutura e segurança. Mas a situação política não ajuda.

Para aumentar a pilha de dúvidas que já pairam sobre a capacidade de organização do Brasil para sediar os dois megaeventos, um fato novo: o ministro brasileiro do esporte, Orlando Silva, foi exonerado do cargo nesta quarta-feira (26/10). Quem assume a pasta é o deputado Aldo Rebelo (PCdoB), segundo informou a ministra da Comunicação Social, Helena Chagas.

O Ministério dos Esportes, órgão que comanda toda a preparação para os dois grandes eventos, e, especialmente seu agora ex-chefe, Orlando Silva, tem sido alvo de denúncias de desvios de verba destinada a programas sociais comandados pelo órgão.

Com a troca de comando, cresce a dúvida sobre a capacidade de gestão do governo brasileiro. Paulo Henrique Azevedo, coordenador de pesquisas internacionais no Laboratório de Gestão do Esporte, na Universidade de Brasília, disse à Deutsche Welle que as denúncias devem ser encaradas com seriedade. Para ele, o tratamento dado à Copa de 2014 e às Olimpíadas de 2016 pelo Brasil deve continuar sendo institucional. “Consequentemente, a mudança de interlocutores e agentes do governo não deve provocar alteração no processo que está em andamento”, afirma Paulo.

Confusão inédita

O impacto das denúncias e da troca no comando, segundo Azevedo, é negativo para a imagem do Brasil no exterior. “A repercussão de denúncias não é favorável à imagem do Brasil, mas penso que isso não modificará tudo o que está sendo realizado para o evento”, avaliou.

Essa, entretanto, não é a opinião de Wilson Almeida, pós-doutor em relações internacionais pela Universidade de Georgetown e professor da Universidade Católica de Brasília. Segundo ele, o problema que o Brasil enfrenta hoje não foi visto em nenhuma outra edição da Copa ou das Olimpíadas.

“Considerando que o Brasil já é visto como um país em que a corrupção é algo inerente, acho que haverá repercussão, sim”, afirmou Wilson ao falar do impacto negativo da crise para a imagem do Brasil no exterior .

Segundo ele, uma das consequências mais concretas deverá afetar o campo dos investimentos. “Eu tenho preocupação que isso seja um primeiro passo para uma série de eventos que possam prejudicar financeiramente a Copa e as Olimpíadas em termos de patrocinadores”, alertou Wilson.

Denúncias de corrupção

As denúncias contra o agora ex-ministro Orlando Silva e outros membros do Ministério dos Esportes foram divulgadas pela primeira vez na revista semanal Veja.

Segundo a reportagem que iniciou a série de denúncias, Silva teria recebido, em 2008, dinheiro que deveria ter sido aplicado em um programa de incentivo à prática do esporte, o programa Segundo Tempo.

As informações do suposto esquema, que teria acontecido em 2008, foram divulgadas por dois homens que teriam participado ativamente das transferências ilegais de dinheiro ao ministro.

Desde o surgimento das primeiras denúncias, Orlando Silva adotou a estratégia de se colocar à disposição da polícia, da Justiça e dos jornalistas para prestar esclarecimentos.

Ele chegou a ir voluntariamente à Câmara dos Deputados para prestar esclarecimentos e foi enfático ao dizer que são falsas as acusações e que está pronto para colaborar com as investigações.

Ao confirmar sua saída do cargo, Silva reiterou que “não há, não houve e não haverá quaisquer provas” que o incriminem. “Fato nenhum houve que possa comprometer minha honra e conduta ética”, disse o ex-ministro. Ele complementou dizendo que sofreu um “linchamento público”, mas disse ter falado à presidente que, em poucos dias, a verdade virá à tona. “Vai ficar claro para a sociedade brasileira que não há nada que possa me incriminar”, enfatizou Silva.

O Supremo Tribunal Federal abriu inquérito para apurar as acusações. A Corte definiu o prazo de dez dias para que o Tribunal de Contas da União e a Controladoria Geral da União enviem ao tribunal cópias de procedimentos abertos para investigar irregularidades nos contratos do programa Segundo Tempo.

Autora: Ericka de Sá - Revisão: Francis França

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