A Rússia e a China estão decididas a evitar a reedição, na Síria, do que se passou e está a passar na Líbia. Por isso, ameaçaram impor o seu veto a qualquer tipo de sanção proposta ao Conselho de Segurança contra Damasco. Esta posição levou os países ocidentais membros do Conselho de Segurança das Nações Unidas a retirar a palavra “sanções” do projecto de resolução que haviam preparado sobre a situação na Síria.
Mas este recuo parece ser apenas aparente. Em vez de sanções, os proponentes do projecto de texto – Grã-Bretanha, França, Alemanha e Portugal -, avançaram com o termo “medidas dirigidas”, mas que ainda assim está a suscitar sérias reservas pela carga semântica que lhe pode ser dada no campo político-diplomático e, num ápice, deixar de cumprir com os propósitos nobres que inicialmente os restantes membros possam ver nele.
A verdade é que em relação à Líbia a resolução 1973 do Conselho de Segurança das Nações Unidas, adoptada para permitir a protecção de civis, acabou por ultrapassar os limites do que fora estabelecido e acabou por reverter-se numa autêntica agressão militar e ingerência grosseira nos assuntos internos daquele país, sem dar margem a uma solução negociada.
Mais cautelosos, a Rússia e a China entendem que aplicar sanções contra a Síria não vai resolver o problema e não vai ajudar a pôr fim ao clima de violência que se instalou naquele país árabe.
Em recente entrevista a uma estação de televisão europeia, o Presidente Dimitri Medvedev fez questão de sublinhar que não se podia olhar para o problema da Síria e simplesmente ter uma posição ao mesmo tempo radical e generalista de condenação do Governo, apesar de considerar que a situação interna desse país é preocupante e que se deve pôr termo à violência. Mas a violência, sublinhou, não parte apenas do Governo, pois é preciso olhar também com atenção para os protagonistas das manifestações. Entre eles não estão só os simpatizantes da “refinada democracia” europeia, mas também forças extremistas e até mesmo terroristas, que procuram tirar proveito da instabilidade para cimentar as suas posições - disse. Essa atitude da Rússia, deixou ainda claro Medvedev, não pode entretanto ser entendida como uma recusa a mudanças na Síria, porém Moscovo considera que todas as partes devem procurar conversar e encontrar uma solução negociada.
Em boa verdade se pode dizer que há um paralelismo entre a violência na Síria e o que se passa no Yémen, mas a preocupação dos países ocidentais em adoptar sanções contra este último país não é a mesma em relação a Damasco. Na Arábia Saudita apenas há dias foi anunciada a decisão de permitir às mulheres exercerem o direito de voto, e mesmo assim só daqui a quatro anos é que o poderão fazer e só nas eleições… municipais. A Organização das Nações Unidas tem-se batido pela promoção e defesa dos direitos da mulher em todo o mundo mas o que acontece na Arábia Saudita passa-lhe ao largo.
A Rússia e a China aprenderam com a situação da Líbia que as intenções de alguns dos membros do Conselho de Segurança das Nações Unidas em relação à Síria não são as melhores. Na Líbia primeiro se disse que o objectivo era apenas proteger as populações civis. Várias vezes foi negada, quer pela OTAN quer até por altas personalidades dos países envolvidos na intervenção militar aérea, a intenção de eliminar Muammar Kadhafi. Mais tarde já se passou a admitir que Kadhafi era um alvo a abater. Se hoje Kadhafi não andasse foragido – e não se sabe por quanto tempo mais conseguirá manter-se nessa condição -, teria de certeza tido o mesmo destino que foi dado a Saddam Hussein. E ninguém pode duvidar que a mesma sorte de Kadhafi é a que alguns países ocidentais desejam para o presidente sírio, Bashar Al Assad. Diante deste cenário, não admira que países como o Irão e a Coreia do Norte se recusem terminantemente a desfazer-se das suas intenções e do seu potencial nuclear.
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