terça-feira, 22 de novembro de 2011

Angola – Brasil: “QUEREMOS BONS NEGÓCIOS PARA OS DOIS LADOS”




NHUCA JÚNIOR – JORNAL DE ANGOLA – Foto AFP

À frente de uma delegação numerosa integrada por 80 empresários de vários sectores da indústria e do sector de comércio e serviços, o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior do Brasil, Fernando Pimentel, é esperado hoje em Luanda para uma visita de três dias a Angola. Em entrevista exclusiva ao Jornal de Angola, o ministro afirmou que “Angola é um parceiro comercial importante para o Brasil”.

Jornal de Angola - Que informações tem sobre a indústria angolana?

Fernando Pimentel - Como praticamente todo o país, a indústria angolana emerge de um longo período de instabilidade em que o investimento na produção ou era adiado ou desperdiçado devido às destruições da guerra. A pacificação do país tem levado a um rápido desenvolvimento, acompanhado por um maciço investimento na recuperação de infra-estruturas. A diversificação do parque industrial é crescente, impulsionada pelas divisas geradas pela grande riqueza mineral de Angola.

JA - Qual é o peso das trocas comerciais entre Angola e o Brasil?

FP - Além do petróleo abundante, Angola é rica em diamantes, minério de ferro, possui reservas de cobre, manganés, fosfatos, sal, mica, chumbo, estanho, ouro, prata e platina. Essa riqueza, somada à capacidade de produção agrícola, ao parque fabril expressivo e à oferta de energia eléctrica, deve assegurar um papel cada vez mais significativo ao país no contexto da economia africana. As trocas comerciais do Brasil com a África – Angola é um dos nossos principais parceiros comerciais – são crescentes, muito em função do crescimento da actividade industrial angolana.

JA - O que é preciso para a Angola chegar aos níveis do Brasil?

FP - O Brasil tem tecnologia e um grande mercado consumidor que podem estimular sobremaneira a indústria angolana. Em 2010, o Brasil importou quase meio bilião de dólares de Angola, sobretudo petróleo e derivados e equipamentos eléctricos, o que representa pouco mais de cinco por cento de todas as trocas comerciais feitas com o continente africano. Esse intercâmbio pode e tende a crescer, com a transferência de tecnologia, inclusive na área da agro-indústria.

JA - Quais são os principais objectivos da sua visita a Angola?

FP - Regresso a Angola, apenas um mês depois de ter estado aqui acompanhando a Presidente Dilma Rousseff, justamente por causa do nosso interesse em fortalecer as parcerias. É uma determinação da Presidente Dilma, que segue uma política iniciada no governo do antigo Presidente Lula da Silva, de buscar uma integração cada vez maior com África.

JA - O que pode aproximar mais os dois países?

FP - Desta vez, venho com um grupo de 80 empresários, dos mais diversos sectores da indústria e do sector de comércio e serviços, em busca de possíveis parcerias com empresas angolanas. Estão connosco empresários e executivos do sector de construção civil, alimentos e bebidas, higiene e cosméticos, bancos, telecomunicações. Temos relações históricas com este continente, falamos a mesma língua. Tudo isso nos aproxima e devemos tirar o máximo proveito dessas afinidades.

JA - Angola é um bom mercado para as exportações brasileiras?

FP - Antes de ser um mercado, Angola é um parceiro comercial importante para o Brasil. É evidente que o Brasil tem interesse em aumentar a presença de seus produtos e serviços em todo o mundo. Nesse contexto, Angola é um mercado importante, ainda mais pela facilidade de comunicação. Mas também vemos o país como um fornecedor de bens e serviços para o Brasil. O comércio entre os dois países experimentou um crescimento notável em 20 anos. Saiu de 194,8 milhões de dólares em 1990 para 1,44 mil milhões de dólares no ano passado.

JA - O Brasil tem receio da concorrência da China?

FP - O Brasil e a China são parceiros estratégicos e não adversários. A China é o principal importador de produtos brasileiros e tem no Brasil um mercado importante para os seus produtos. Para além dessa relação comercial, temos investido em terceiros países muitas vezes na condição de concorrentes, mas sempre mantendo o respeito pelo país asiático e pelos costumes e tradições dos países estrangeiros onde actuamos. Em Angola queremos fazer negócios em que ambos, o Brasil e Angola, possam ganhar.

JA - Como está a ser redefinido o espaço industrial brasileiro?

FP - O Brasil está a passar por profundas transformações que se têm reflectido na indústria. Nos anos 90, uma agressiva política de incentivos fiscais patrocinada pelos estados brasileiros levou muitas indústrias a deixar São Paulo. Multinacionais que chegavam ao país instalaram-se longe de São Paulo e do Rio de Janeiro igualmente atraídas pelas vantagens fiscais e tributárias. Um novo movimento de desconcentração ocorre neste momento, mas por outra razão. Com a ascensão de 30 milhões de brasileiros ao mercado consumidor registada nos últimos oito anos, a indústria está a instalar-se mais próximo desse novo consumidor, que vive, na sua maioria, nas regiões Nordeste e Norte do Brasil.
Apesar disso, o estado de São Paulo e a região Sudeste, têm a maior fatia do parque industrial do Brasil

JA - Que mensagem deixa para os angolanos?

FP - Primeiro, quero agradecer a generosidade e deferência com que temos sido recebidos em Angola e dizer que estamos aqui, sim, em busca de bons negócios, mas bons negócios para brasileiros e angolanos. Queremos uma relação de parceria.

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