JAIME FIDALGO – EXAME ANGOLA
A divulgação do índice Mo Ibrahim, que mede a boa governação no continente africano, é um dos momentos mais aguardados do ano. Na edição de 2011 (relativa ao desempenho de 53 países no ano anterior) não houve surpresas, nem no topo, nem na cauda da listagem. As ilhas Maurícias repetem o primeiro lugar (pontuação de 82, na escala de 0 a 100) e a Somália repete o último (com apenas 8 pontos). Cabo Verde foi a grande surpresa, dado que subiu duas posições, terminando em segundo lugar (79 pontos).
Mo Ibrahim:
O milionário sudanês criou uma fundação que atribui prémios anuais em África
As “ilhas” só não fazem o pleno nos lugares do pódio, porque o Botsuana manteve a terceira posição do ano passado, relegando as ilhas Seychelles para a quarta posição (numa troca de lugares com Cabo Verde). A África do Sul, maior economia do continente, manteve a quinta posição. Nos lugares seguintes estão a Namíbia, o Gana, o Lesoto, a Tunísia e o Egipto. Estes dois países do Norte de África caíram uma posição e foram penalizados, como seria de esperar, no critério da “Participação e Direitos Humanos”. No fundo da tabela o Chade foi, (tal como no ano passado), o segundo pior, cabendo o terceiro pior resultado ao Zimbabué (que trocou de posição com a República Democrática do Congo). Outros países em destaque foram Libéria e Serra Leoa (ambos subiram 11 posições) e, pela negativa, Madagáscar (perdeu 12 lugares face ao índice de 2010).
Por categorias de realçar que cerca de metade dos países analisados melhoraram a sua prestação face ao ranking anterior (caso de Angola). E o critério onde essa melhoria foi mais visível foi o “Desenvolvimento Humano”, com 48 subidas.
No ranking de 2011 Angola manteve a posição do ano passado (42.º lugar, entre 53 países) com um total de 41 pontos (abaixo da média continental de 50 pontos). Ao nível dos quatro critérios-chave do índice, Angola melhorou significativamente a prestação na categoria da “Sustentabilidade da Economia” — onde passou do 41.º lugar, em 2010, para o 34.º (subida de sete lugares). Este, por sua vez, é dividido em quatro subcritérios, dos quais o pais brilhou nas “Infra-estruturas” (19.º lugar , melhoria de 11 posições). Porém, o melhor “nota” do país é a “Participação e Direitos Humanos” onde manteve o 27.º lugar do ano passado. Neste item o brilharete vai o subcritério “Igualdade de Género” onde Angola ocupa um meritório 15.º lugar.
Agora vêm as más notícias. No critério “Segurança e Estado de Direito” o país perdeu três posições, ocupando o 45.º lugar. Tal resultado deve-se à péssima prestação no subcritério “Transparência” (47.º). Mas o pior ainda está para vir. O critério onde Angola, continua a ter mais debilidades é o “Desenvolvimento Humano”, onde ocupa uma modesta 48.ª posição (subiu um lugar). Angola piorou nos subcritérios da “Saúde” (41.º) e “Bem-Estar” (39.º) e manteve a terceira pontuação mais fraca do índice na “Educação” (51.º).
Cabo Verde duplamente de parabéns
Entre os países que falam “português” há ainda a destacar o resultado de São Tomé e Príncipe, que terminou em 12.º lugar, embora descendo um lugar face ao ano passado. Igual sorte teve Moçambique (21.º) e a Guiné-Bissau (44.º). Porém, a sensação do ano foi Cabo Verde que está duplamente de parabéns.
Pedro Pires: Ex-Presidente de Cabo Verde recebeu prémio especial de
5 milhões
de dólares
A somar ao segundo lugar na listagem geral, o ex-Presidente Pedro Pires, foi galardoado com o prémio especial de Liderança da Fundação Mo Ibrahim, um prémio que já era atribuído há dois anos, por opção do júri. Recorde-se que Nelson Mandela foi o primeiro laureado, a título honorário, em 2007. No mesmo ano, foi eleito Festus Mogae, ex-Presidente do Botswana. No ano seguinte, foi a vez de Joaquim Chissano, ex-chefe de Estado de Moçambique. E desde então nunca mais houve premiados.
A fundação justificou a distinção com “a forma admirável como o antigo Presidente de Cabo Verde levou a ilha ao progresso e soube abandonar o poder na altura certa”. A justiça no prémio foi elogiada por todos. A fundação elogiou a estabilidade política e o milagre económico e social deste arquipélago de dez pequenas ilhas, com apenas 500 mil habitantes que, sob a liderança de Pedro Pires, foi o segundo país africano que, na última década, logrou subir na categoria de “país menos desenvolvido” da ONU. A revista The Economist acrescenta que, apesar de Cabo Verde ter poucos recursos naturais, a esperança de vida dos habitantes subiu para os 71 anos. A publicação elogia igualmente o caso exemplar das Maurícias (tema ao qual a EXAME já aludiu na edição n.º 17, durante a entrevista ao Nobel da Economia Joseph Stiglitz).
Recorde-se que Pedro Pires, saiu da vida política em Setembro deste ano (depois de cumprir dois mandatos), quando Jorge Carlos Fonseca lhe sucedeu como Presidente de Cabo Verde. Antes ele já tinha sido primeiro-ministro, durante os primeiros 16 anos da independência do país (de 1975 a 1991), ascendendo a chefe de Estado em 2001, permanecendo dez anos no cargo. Pedro Pires, nasceu em São Filipe, ilha do Fogo, em Abril de 1934 (tem 77 anos). Ele realizou os seus estudos universitários em Lisboa, Portugal, onde conheceu os futuros líderes dos movimentos de libertação. Com o início da luta armada em Angola, em 1961, partiu de Portugal para a Guiné-Bissau para participar na luta nacionalista, integrando o PAIGC.
Agora, já reformado, irá receber um prémio pecuniário de 5 milhões de dólares ao qual se soma um rendimento vitalício de 200 mil dólares por ano. Um verdadeiro jackpot para alguém que, ao que se diz, não é propriamente rico. Materialmente falando, pois claro!!
1 comentário:
ESTRANHO!...
1 ) É no mínimo estranho verificar que, ao Presidente que tomou a iniciativa de "chamar a NATO" para África, seja atribuído um prémio desta natureza.
2 ) É pois legítimo perguntar: a quem serve o patrono e a própria fundação?
Martinho Júnior
Luanda.
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